(Ez 33,7-9; Sl 94[95]; Rm 13,8-10; Mt 18,15-20)
1. O Evangelho de hoje se divide em
duas sessões que estão interligadas. Primeiro temos a recuperação do irmão que
errou através da correção fraterna. A segunda fala dessa presença de Cristo na
comunidade ainda em processo de conversão que é a Igreja.
2. Somos lembrados que a comunidade de
fiéis não está isenta de erros. No meio das limitações e fraquezas humanas,
caminhamos juntos, como irmãos, para Deus. Por isso se faz necessária a
correção fraterna nesse processo de conversão que fazemos. Algo que a 1ª
leitura já indica.
3. O Evangelho nos apresenta as etapas
que buscam recuperar a ‘ovelha perdida’ ou por se perder. Aqui podemos ver,
como último ato, o poder de ‘ligar e desligar’ dado por Jesus à comunidade. Não
podemos ver tal poder como algo jurídico ou judicial, mas como mediação do amor
fraterno e comunitário.
4. É preciso que também situemos o
nosso texto no contexto dos seis primeiros séculos da Igreja onde a assembleia
tomava decisão de reparar ou reconciliar o pecador em sua práxis penitencial.
Os pecados graves praticamente se reduziam a três: apostasia, homicídio e
adultério.
5. A segunda parte nos fala dessa
presença de Cristo entre aqueles que se reúnem em seu nome. Estamos falando
primeiramente do aspecto litúrgico da nossa Igreja que se desdobra a partir de
duas realidades: a Palavra e a Eucaristia. Mas também para além desse contexto:
grupos de oração, estudo, ação, acompanhamento e convívio.
6. No amor que Paulo nos recomenda como
vivência da Lei podemos situar a correção fraterna. É uma espécie de mediação
dentro da comunidade que busca viver a conversão como alma da convivência.
Rezar juntos o Pai nosso traz uma responsabilidade partilhada, fruto do amor
que deve unir.
7. É verdade que temos uma relutância
inata a qualquer tipo de correção, por isso o evangelho insiste no tato e no
respeito em relação aos membros doentes ou frágeis do corpo eclesial. É uma
norma que tem validade para todos, mas recai particularmente sobre os pastores
da comunidade, seja ela religiosa, educadora ou familiar.
8. Fugir à correção para não magoar ou
por falso respeito ao modo de ser do extraviado, não é caridade, não é amar nem
querer bem. É sempre mais frequente nossa recusa de confronto, não querendo
criar novos inimigos e respondemos sempre mais como Caim: ‘Por acaso sou
guardião do meu irmão?’
9. Abster-se pode não ser o pior.
Murmurar nas costas do irmão ou atirar-lhe na cara seus pecados ou defeitos em
tom e termos ofensivos, demonstram nossa incapacidade de não só não querer
corrigir, mas de querermos nos arvorar como juízes que condenam e aí perdemos o
irmão.
10. A correção fraterna só será
possível onde se cultiva um clima familiar e de amor, pois o corrigido sabe-se
amado. Ela se torna impossível quando a comunhão fraterna está ausente. Por
isso, temos de nos esforçar para criar um ambiente cordial, afetuoso, confiante,
tolerante e compressivo em nossas comunidades eclesiais ou não.
- “Bendito sejas, Deus Pai
misericordioso e compreensivo, porque onde dois ou três nos reunirmos em nome
de Jesus aí está Ele no meio de nós, acompanhando-nos com o teu Espírito. Uma
vez mais, reconhecemo-nos pecadores diante de Ti, cada um pessoalmente e todos
juntos como comunidade de fé e conversão. Com a força da Tua graça e do teu
amor queremos emendar-nos e melhorar, caminhando juntos como irmãos para Ti.
Faz, Senhor, que nos ajudemos mutuamente neste compromisso mediante a correção
fraterna que brota do amor que nos une. Dá-nos a compreensão, paciência,
tolerância e caráter dialogante perante as inevitáveis falhas humanas, próprias
ou alheias. Amém” (B. Caballero – A Palavra de cada Domingo –
Paulus).
Pe. João Bosco Vieira Leite