Quinta, 24 de setembro de 2020

(Ecl 1,2-11; Sl 89[90]; Lc 9,7-9) 

25ª Semana do Tempo Comum.

“Então Herodes disse: ‘Eu mandei degolar João. Quem é esse homem sobre quem ouço falar essas coisas?’”

Lc 9,9.

“Havia no antigo mundo grego um mito que falava de um animal fantástico: a hidra, corpo de dragão e cabeças (sete, nove ou até mais), que decepadas, davam lugar a duas. Isso aterrorizava as pessoas da época. Um medo igual deve ter passado pela espinha de Herodes, pois dizia: ‘João, eu o degolei. Quem poderá ser este de quem ouço tais coisas?’. Apesar do medo, Herodes queria vê-lo. Afinal, tirano que se preze não pode mostrar-se medroso, caso contrário, pode perder o trono. Deveria, então, fazer o possível para eliminar do caminho qualquer ameaça, assim como já fizera seu pai em relação às criancinhas de Belém e a familiares (mulheres e filhos) dos quais suspeitava queriam tirar-lhe o trono (e a vida). Como, porém, tirá-lo do caminho? Eliminá-lo fisicamente como já fizera com João, ou fazer com Ele uma aliança? O tirano, já consolidado no poder, prefere a primeira opção. É mais rápida e ajuda a manter o clima de terror. Já o político, até por não ter acesso a primeira opção, prefere a segunda ou o meio-termo da difamação. Descaracterizar o adversário é praticamente mata-lo. Herodes precisava tomar uma medida qualquer, pois, se João o havia denunciado, esse outro, Jesus, faria a mesma coisa. E aí seu reino ficaria em perigo. A mesma coisa faz o impenitente em nós: elimina a Deus de sua vida, faz pouco caso dele ou tenta uma aliança espúria à base de trocas para não arrepender-se e mudar de vida. No final, a hidra de várias cabeças pode ser nós mesmos não querendo arrepender-nos quando Deus, em sua Palavra, através dos seus servos, denuncia nossos pecados. – Jesus, tens palavras maravilhosas de amor e perdão. Mas também tens palavras duras, acusadoras, desagradabilíssimas, que não gostamos de ouvir. A essas, porém, devemos ouvir primeiro porque expõem nossa condição espiritual. Ajuda-nos a ouvir a ambas. Amém (Martinho Lutero Hoffmann – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes). 

 

Santo do Dia:

São Pedro Nolasco, religioso. Nascido na região francesa de Languedoc em 1189, de uma família nobre, ficou órfão de pai aos quinze anos, pôs-se a seguir Simão de Montfort na cruzada contra os albigenses. Foi mestre e tutor de Tiago, futuro rei de Aragão, ao qual deu uma educação religiosa caracterizada por uma filial devoção mariana. Foi neste período que Pedro Nolasco, já empenhado com todos os meios no resgate dos cristãos, caídos nas mãos dos mouros, teve a visão de Nossa Senhora, aos vinte nove anos, convidando-o a fundar uma Ordem religiosa com o fim principal de resgatar os prisioneiros. Nascia assim a ordem religiosa dos Mercedários, assim chamados porque, particularmente devotos de Nossa Senhora, a horam sob o título de Santa Maria da Misericórdia, ou das Mercês dos escravos. Além dos votos tradicionais das ordens religiosas, os mercedários traziam consigo um quarto: oferecer-se como escravo dos mulçumanos, quando necessário, para livrar um cristão em perigo de apostasia. Dos vinte e seis mil prisioneiros libertados por mercedários, no seu primeiro século de vida, nada menos de 890 foram resgatados e reconduzidos à pátria por Pedro Nolasco. Morreu no dia de Natal de 1258, murmurando as palavras do Salmo: “O Senhor remiu seu povo”. A primeira imagem de N. Senhora que tocou o solo americano foi a da Virgem das Mercês, pintada por ordem de Isabel, a Católica, e doada aos mercedários que partiram em missão para S. Domingos. A festa de hoje é dedicada à Virgem das Mercês, enquanto a memória de são Pedro Nolasco é lembrada no Martirológio Romano a 31 de janeiro.

 Pe. João Bosco Vieira Leite