(Ecl 1,2-11; Sl 89[90]; Lc 9,7-9)
25ª Semana do Tempo Comum.
“Então Herodes disse:
‘Eu mandei degolar João. Quem é esse homem sobre quem ouço falar essas
coisas?’”
Lc 9,9.
“Havia no antigo
mundo grego um mito que falava de um animal fantástico: a hidra, corpo de
dragão e cabeças (sete, nove ou até mais), que decepadas, davam lugar a duas.
Isso aterrorizava as pessoas da época. Um medo igual deve ter passado pela
espinha de Herodes, pois dizia: ‘João, eu o degolei. Quem poderá ser este de
quem ouço tais coisas?’. Apesar do medo, Herodes queria vê-lo. Afinal, tirano
que se preze não pode mostrar-se medroso, caso contrário, pode perder o trono.
Deveria, então, fazer o possível para eliminar do caminho qualquer ameaça,
assim como já fizera seu pai em relação às criancinhas de Belém e a familiares
(mulheres e filhos) dos quais suspeitava queriam tirar-lhe o trono (e a vida).
Como, porém, tirá-lo do caminho? Eliminá-lo fisicamente como já fizera com
João, ou fazer com Ele uma aliança? O tirano, já consolidado no poder, prefere
a primeira opção. É mais rápida e ajuda a manter o clima de terror. Já o
político, até por não ter acesso a primeira opção, prefere a segunda ou o
meio-termo da difamação. Descaracterizar o adversário é praticamente mata-lo.
Herodes precisava tomar uma medida qualquer, pois, se João o havia denunciado,
esse outro, Jesus, faria a mesma coisa. E aí seu reino ficaria em perigo. A
mesma coisa faz o impenitente em nós: elimina a Deus de sua vida, faz pouco
caso dele ou tenta uma aliança espúria à base de trocas para não arrepender-se
e mudar de vida. No final, a hidra de várias cabeças pode ser nós mesmos não
querendo arrepender-nos quando Deus, em sua Palavra, através dos seus servos,
denuncia nossos pecados. – Jesus, tens palavras maravilhosas de amor e
perdão. Mas também tens palavras duras, acusadoras, desagradabilíssimas, que
não gostamos de ouvir. A essas, porém, devemos ouvir primeiro porque expõem
nossa condição espiritual. Ajuda-nos a ouvir a ambas. Amém” (Martinho
Lutero Hoffmann – Meditações para o dia a dia [2015] –
Vozes).
Santo do Dia:
São Pedro Nolasco, religioso. Nascido
na região francesa de Languedoc em 1189, de uma família nobre, ficou órfão de
pai aos quinze anos, pôs-se a seguir Simão de Montfort na cruzada contra os
albigenses. Foi mestre e tutor de Tiago, futuro rei de Aragão, ao qual deu uma educação
religiosa caracterizada por uma filial devoção mariana. Foi neste período que
Pedro Nolasco, já empenhado com todos os meios no resgate dos cristãos, caídos
nas mãos dos mouros, teve a visão de Nossa Senhora, aos vinte nove anos,
convidando-o a fundar uma Ordem religiosa com o fim principal de resgatar os
prisioneiros. Nascia assim a ordem religiosa dos Mercedários, assim chamados
porque, particularmente devotos de Nossa Senhora, a horam sob o título de Santa
Maria da Misericórdia, ou das Mercês dos escravos. Além dos votos tradicionais
das ordens religiosas, os mercedários traziam consigo um quarto: oferecer-se
como escravo dos mulçumanos, quando necessário, para livrar um cristão em
perigo de apostasia. Dos vinte e seis mil prisioneiros libertados por
mercedários, no seu primeiro século de vida, nada menos de 890 foram resgatados
e reconduzidos à pátria por Pedro Nolasco. Morreu no dia de Natal de 1258,
murmurando as palavras do Salmo: “O Senhor remiu seu povo”. A primeira imagem
de N. Senhora que tocou o solo americano foi a da Virgem das Mercês, pintada
por ordem de Isabel, a Católica, e doada aos mercedários que partiram em missão
para S. Domingos. A festa de hoje é dedicada à Virgem das Mercês, enquanto a
memória de são Pedro Nolasco é lembrada no Martirológio Romano a 31 de janeiro.
Pe. João Bosco Vieira Leite