(Mq 5,1-4; Sl 70[71; 12[13]; Mt 1,1-16.18-23)
Natividade de Nossa Senhora.
“Jacó gerou José, o
esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado o Cristo” Mt 1,16.
“A celebração de hoje
– lemos no trecho dos discursos de santo André de Creta proclamado no atual
Ofício das leituras – honra a natividade da Mãe de Deus. Mas o verdadeiro
significado e o fim deste evento é a encarnação do Verbo. De fato, Maria nasce,
é amamentada e cresce para ser a Mãe do Rei dos séculos, de Deus. É este final
o motivo pelo qual somente de Maria (além de João Batista e naturalmente de
Jesus Cristo) não é festejado só o nascimento para o céu, o que
acontece com os outros santos, mas também a vinda a este mundo. Na realidade o
maravilhoso neste nascimento não está no que narram com generosidade de
detalhes e com ingenuidade os apócrifos, mas antes no significativo passo à
frente que Deus dá na atuação do seu eterno desígnio de amor. Por isso a festa
de hoje foi celebrada com louvores magníficos por muitos Santos Padres, que
tiraram suas conclusões da Bíblia e de sua sensibilidade e ardor poético.
Leiamos algumas expressões do Segundo Sermão sobre a Natividade de
Nossa Senhora de são Pedro Damião: ‘Deus onipotente, antes que o homem
caísse, previu a sua queda e decidiu, antes dos séculos, a redenção humana.
Decidiu, portanto, encarnar-se em Maria’. ‘Hoje é dia em que Deus começa a pôr
em prática o seu plano eterno, pois era necessário que se construísse a casa,
antes que o Rei descesse para habitá-la. Casa linda, porque, se a Sabedoria
constrói uma casa com sete colunas trabalhadas, este palácio de Maria está
alicerçado nos sete dons do Espírito Santo. Salomão celebrou de modo
soleníssimo a inauguração de um templo do Verbo encarnado? Naquele dia a glória
de Deus desceu sobre o templo de Jerusalém sob forma de nuvem, que o
obscureceu. O Senhor que faz brilhar o sol nos céus, para sua morada entre nós
escolheu a obscuridade (1Rs 8,10-12), disse Salomão na sua oração a Deus. Este
mesmo templo estará repleto pelo próprio Deus, que vem para ser a luz dos
povos’. ‘As trovas do paganismo e à falta de fé dos judeus, representadas pelo
templo de Salomão, sucede o dia luminoso no templo de Maria. É justo, portanto,
cantar este dia e Aquela que nele nasceu. Mas como poderíamos celebrá-la
dignamente? Podemos narrar as façanhas heroicas de um mártir ou as virtudes de
um santo, porque são humanas. Mas como poderá a palavra mortal, passageira e
transitória exaltar Aquela que deu à luz a Palavra que fica? Como dizer que o
Criador nasce da criatura?” (Mario Sgarbosa e Luigi Giovannini – Um
Santo para cada Dia – Paulus).
Pe. João Bosco Vieira Leite