(Ez 18,25-28; Sl 24[25]; Fl 2,1-11; Mt 21,28-32)
1. Uma outra vez, o tema da conversão
retorna em nossa liturgia. Ezequiel empresta sua voz ao Senhor para
convidar à conversão. Jesus está às voltas com as lideranças judaicas,
convidando-os a abandonar sua autossuficiência religiosa.
2. No texto de Paulo, na primeira
parte, a conversão é um apelo a unidade comunitária. Gostaria de me deter um
pouco nesse terreno. A Igreja é comunhão, comunidade de irmãos e de chamados à
solidariedade como consequência da sua vocação à fé dentro do povo de
Deus. Assim entende o Vaticano II.
3. Viver a partilha da fé, da esperança
cristã, da mesa eucarística, das ações evangelizadoras, do acolhimento. O
grande sacramento ou sinal de comunhão eclesial é a eucaristia, que cria
comunidade.
4. Mas essa comunhão desejada sofre suas
rupturas em nosso tempo. Muitos, ainda que crentes, não vivem essa comunhão com
a Igreja e a criticam sem mesmo aprofundar ou compreender o significado da
mesma. Vivemos a nova realidade dos novos cristãos ‘sem Igreja’, vivendo um
catolicismo individualista.
5. Assim acabam por excluir ou rejeitar
a missa dominical, as chamadas virtudes passivas como a obediência e a oração,
a renúncia e a cruz inerente ao seguimento de Cristo ou pontos da moral cristã
como o divórcio e o aborto. Alguns insistem mais na dimensão temporal da fé e
do compromisso social do evangelho em seu aspecto revolucionário.
6. Alguns insistem em suas críticas aos
pastores e as inevitáveis misérias humanas de uma Igreja que é santa e pecadora
ao mesmo tempo, porque é obra de Deus em mãos humanas. Talvez esqueçam da
necessidade que todos temos de conversão em nosso caminhar.
7. Eis a pergunta que se impõem diante
de tudo isso: É possível ser cristão prescindindo dessa comunhão eclesial?
Certamente que não. Pois o modo como Cristo viveu e ensinou a fé, tem na
comunidade eclesial sua particular identidade. Nela o cristão não só alimenta a
fé, mas recebe a graça necessária para vivê-la.
8. Dizia Santo Agostinho: “No
necessário, unidade; no duvidoso ou optativo, liberdade; e em tudo, caridade”.
A unidade não se confunde com a uniformidade. Não precisamos transformar em
motivo de conflito ou intolerância a diversidade de mentalidade.
9. Juntos reconhecemos a Jesus como
Salvador e guia, e junto com Ele rezamos ao Pai comum. Por isso Paulo pede que
tornemos completa sua alegria: “aspirai à mesma coisa, unidos no mesmo amor;
vivei em harmonia procurando a unidade. [...] Tende entre vós o mesmo
sentimento que existe em Cristo Jesus”.
- “Damos-Te graças, Pai, porque
nos chamas a viver em comunhão eclesial com os irmãos e nossos pastores, e nos
convidas a colaborar com calor fraterno na relações humanas e no serviço comum
do evangelho. Queremos viver unidos como irmãos em Jesus Cristo. Tu que és mais
forte do que as nossas divisões, perdoa nosso ódio, receios e desconfianças
mútuas. Concede-nos, Senhor, assumir nossa própria responsabilidade na
edificação interna da comunidade cristã e na difusão do teu reino entre os
homens, nossos irmãos sob o impulso do Espírito de Cristo ressuscitado. Amém” (B.
Caballero – A Palavra de cada Domingo – Paulus).
Pe. João Bosco Vieira Leite