26º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Ez 18,25-28; Sl 24[25]; Fl 2,1-11; Mt 21,28-32)

1. Uma outra vez, o tema da conversão retorna em nossa liturgia. Ezequiel empresta sua voz ao Senhor para convidar à conversão. Jesus está às voltas com as lideranças judaicas, convidando-os a abandonar sua autossuficiência religiosa.

2. No texto de Paulo, na primeira parte, a conversão é um apelo a unidade comunitária. Gostaria de me deter um pouco nesse terreno. A Igreja é comunhão, comunidade de irmãos e de chamados à solidariedade como consequência da sua vocação à fé dentro do povo de Deus. Assim entende o Vaticano II.

3. Viver a partilha da fé, da esperança cristã, da mesa eucarística, das ações evangelizadoras, do acolhimento. O grande sacramento ou sinal de comunhão eclesial é a eucaristia, que cria comunidade.

4. Mas essa comunhão desejada sofre suas rupturas em nosso tempo. Muitos, ainda que crentes, não vivem essa comunhão com a Igreja e a criticam sem mesmo aprofundar ou compreender o significado da mesma. Vivemos a nova realidade dos novos cristãos ‘sem Igreja’, vivendo um catolicismo individualista.

5. Assim acabam por excluir ou rejeitar a missa dominical, as chamadas virtudes passivas como a obediência e a oração, a renúncia e a cruz inerente ao seguimento de Cristo ou pontos da moral cristã como o divórcio e o aborto. Alguns insistem mais na dimensão temporal da fé e do compromisso social do evangelho em seu aspecto revolucionário.

6. Alguns insistem em suas críticas aos pastores e as inevitáveis misérias humanas de uma Igreja que é santa e pecadora ao mesmo tempo, porque é obra de Deus em mãos humanas. Talvez esqueçam da necessidade que todos temos de conversão em nosso caminhar.

7. Eis a pergunta que se impõem diante de tudo isso: É possível ser cristão prescindindo dessa comunhão eclesial? Certamente que não. Pois o modo como Cristo viveu e ensinou a fé, tem na comunidade eclesial sua particular identidade. Nela o cristão não só alimenta a fé, mas recebe a graça necessária para vivê-la.

8. Dizia Santo Agostinho: “No necessário, unidade; no duvidoso ou optativo, liberdade; e em tudo, caridade”. A unidade não se confunde com a uniformidade. Não precisamos transformar em motivo de conflito ou intolerância a diversidade de mentalidade.

9. Juntos reconhecemos a Jesus como Salvador e guia, e junto com Ele rezamos ao Pai comum. Por isso Paulo pede que tornemos completa sua alegria: “aspirai à mesma coisa, unidos no mesmo amor; vivei em harmonia procurando a unidade. [...] Tende entre vós o mesmo sentimento que existe em Cristo Jesus”.  

“Damos-Te graças, Pai, porque nos chamas a viver em comunhão eclesial com os irmãos e nossos pastores, e nos convidas a colaborar com calor fraterno na relações humanas e no serviço comum do evangelho. Queremos viver unidos como irmãos em Jesus Cristo. Tu que és mais forte do que as nossas divisões, perdoa nosso ódio, receios e desconfianças mútuas. Concede-nos, Senhor, assumir nossa própria responsabilidade na edificação interna da comunidade cristã e na difusão do teu reino entre os homens, nossos irmãos sob o impulso do Espírito de Cristo ressuscitado. Amém” (B. Caballero – A Palavra de cada Domingo – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite