(Ef 4,7-16; Sl 121[122]; Lc 13,1-9)
29ª Semana do Tempo Comum.
“Jesus lhes
respondeu: ‘Vós pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os
outros galileus por terem sofrido tal coisa? Eu vos digo que não. Mas, se não
vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo’” Lc 13,2-3.
“Converter-se e
produzir fruto: essa dupla exigência se desprende com força da controvérsia e
da parábola transmitida por Lucas. O que se vive não é indiferente a Deus. Ele
não pode aceitar a facilidade e a desordem. Aos olhos de Deus, o ser humano
está sempre chamado a tornar-se mais do que é. Deus espera o máximo, assim como
o vinhateiro não estará plenamente satisfeito enquanto sua vinha ou a sua
figueira não derem tudo o que podem dar: ‘senão, tu cortarás’. Converter-se
deixar o evangelho entrar em sua vida e invadir aos poucos todo o seu espaço
disponível, mesmo a custa de reversões e renúncias difíceis, confiando na lei
paradoxal do ‘quem perde ganha’ (Lc 9,24). Produzir fruto: chegar ao ponto em
que a lógica evangélica se encarne e desenvolva toda a sua fecundidade graças à
transformação efetiva das maneiras de ver e de viver. Esse ideal e essas
exigências, a pregação do Evangelho, devem, hoje como sempre, ser lembrados sem
cessar, no seguimento de Jesus e como o mesmo vigor que ele. O Evangelho é uma
Boa Nova, mas uma boa nova que custa. Nesse ponto, não se poderia transigir sem
trair. Porém, como lembra a segunda parte da parábola da figueira (Lc 13,8-9),
não se deveria, ao proclamar bem alto sua exigência, esquecer a novidade do
Evangelho e limitar-se só à etapa anterior, por grande que seja, da pregação do
Batista. É que a exigência não vem sozinha. Deus chama, mas Deus dá, e se
preciso pode tomar a dianteira: ‘Deixe-me cavar em torno e adubar; talvez produza
frutos...’ Se, passando em Jericó, João Batista tivesse visto Zaqueu trepado no
sicômoro, só teria sabido proclamar a exigência: ‘Zaqueu, vou passar de novo e,
se até lá te converteres, ficarei em tua casa’. Jesus porém se adianta e de
repente fala de um dom que antecipa: ‘Zaqueu, desce depressa, hoje mesmo devo
ficar em tua casa’. Assim antecipada, a exigência seguirá: a conversão virá
responder ao dom: ‘Zaqueu de pé, disse ao Senhor: ‘Senhor, eis que dou a metade
de meus bens aos pobres, e se defraudei alguém, restituo-lhe o quádruplo’ (Lc
19,8). Proclamar a exigência, mas inseparavelmente do dom. Não consistira
nisso, desde Jesus, a evangelização, a ponto de que se uma ou o outro fosse
deixado de lado a evangelização ficaria desfigurada, exatamente como se em
Lucas 13 a parábola terminasse no v. 7?” (Michel Gougues – As
Parábolas de Lucas – Loyola).
Pe. João Bosco Vieira Leite