Nossa Senhora da Conceição Aparecida - 2018

(Est 5,1b-2; 7,2b-3; Sl 44[45]; Ap 12,1.5.13a.15-16a; Jo 2,1-11)

1. A liturgia da Palavra de nossa festa é marcada pelo caráter de intercessão, seja de Ester na 1ª leitura, da ação Deus em favor da mulher; no Apocalipse ou de Maria, nas bodas de Caná. Para qualquer dos textos que olhemos, temos figura feminina em destaque.

2. Detenhamo-nos na narrativa do evangelho. Com delicado sentido feminino, Maria percebe a situação de aflição que se criou com a falta de vinho na festa de casamento. Desde sua visita à Isabel, percebemos sua vocação ao serviço, a uma solidariedade com seus semelhantes, a partir de necessidades concretas.

3. Um amor ativo e afetivo a faz buscar no Filho uma solução. A resposta de Jesus pode soar aos nossos ouvidos como uma rejeição brusca e impessoal, mas a dificuldade colocada por Jesus não provém de sua relação com Maria, mas tem outra origem: sua hora ainda não havia chegado.

4. A hora de Jesus será sua morte e ressurreição, é ali que se realizará a transformação definitiva do ser humano, onde se dará a Nova e Eterna Aliança; não lhe cabe adiantar essa hora, somente ao Pai.

5. O desdobramento da cena nos deixa perceber que não há rejeição, censura ou rompimento da parte de Jesus, por isso Maria lhes pede ‘fazer o que Ele disser’. Sabe quem é o filho e sabe que ele sempre traz consigo uma solução.

6. “Fazei o que ele vos disser”: são as últimas palavras de Maria no Evangelho. Mais do que palavras dirigidas aos serventes, são palavras dirigidas aos homens e mulheres de todos os tempos. Tais palavras revelam a missão de Maria, que nós como Igreja compreendemos: conduzir-nos à identificação com Cristo.

7. A festa foi assegurada em sua alegria. Mas sabemos que o significado de tudo isso é mais profundo e transcendente, particularmente no evangelho de João, onde as pessoas e as situações possuem um sentido próprio e um sentido simbólico, sempre nos elevando para algo mais profundo.

8. Mais do que mostrar o poder que Jesus tem sobre a natureza, trata-se de um chamado à fé em Jesus, e em sua missão divina. Antes de seus discípulos crerem, Maria já acreditava e colaborava na difusão dessa fé em Jesus.

9. Assim, sua ação quer iluminar o sentido dos milagres e da ação de Jesus, não é a simples expressão de um poder superior, mas a manifestação do amor e da misericórdia de Deus para com todos, particularmente com os necessitados.

10. Ainda há muitos outros significados que poderíamos recolher dessa cena, mas para entendermos Aparecida nos é suficiente contemplar o quanto um coração maternal e feminino deixou o seu vestígio no primeiro milagre de Jesus, e continua a deixar em nós a possibilidade de elevar-nos ao coração da Mãe, para dizer ao Filho, do quanto precisamos dessa constante renovação do vinho da vida, para que a festa da vida não se acabe e que ela nos inspire essa atitude serviçal que aprendeu com o Filho. Amém.

 Pe. João Bosco Vieira Leite