1. A liturgia da Palavra
de nossa festa é marcada pelo caráter de intercessão, seja de Ester na 1ª
leitura, da ação Deus em favor da mulher; no Apocalipse ou de Maria, nas bodas
de Caná. Para qualquer dos textos que olhemos, temos figura feminina em
destaque.
2. Detenhamo-nos na narrativa do
evangelho. Com delicado sentido feminino, Maria percebe a situação de aflição
que se criou com a falta de vinho na festa de casamento. Desde sua visita à
Isabel, percebemos sua vocação ao serviço, a uma solidariedade com seus
semelhantes, a partir de necessidades concretas.
3. Um amor ativo e afetivo a faz buscar
no Filho uma solução. A resposta de Jesus pode soar aos nossos ouvidos como uma
rejeição brusca e impessoal, mas a dificuldade colocada por Jesus não provém de
sua relação com Maria, mas tem outra origem: sua hora ainda não havia chegado.
4. A hora de Jesus será sua morte e
ressurreição, é ali que se realizará a transformação definitiva do ser humano,
onde se dará a Nova e Eterna Aliança; não lhe cabe adiantar essa hora, somente
ao Pai.
5. O desdobramento da cena nos deixa
perceber que não há rejeição, censura ou rompimento da parte de Jesus, por isso
Maria lhes pede ‘fazer o que Ele disser’. Sabe quem é o filho e sabe que ele
sempre traz consigo uma solução.
6. “Fazei o que ele vos disser”: são as
últimas palavras de Maria no Evangelho. Mais do que palavras dirigidas aos
serventes, são palavras dirigidas aos homens e mulheres de todos os tempos.
Tais palavras revelam a missão de Maria, que nós como Igreja compreendemos:
conduzir-nos à identificação com Cristo.
7. A festa foi assegurada em sua
alegria. Mas sabemos que o significado de tudo isso é mais profundo e
transcendente, particularmente no evangelho de João, onde as pessoas e as
situações possuem um sentido próprio e um sentido simbólico, sempre nos
elevando para algo mais profundo.
8. Mais do que mostrar o poder que
Jesus tem sobre a natureza, trata-se de um chamado à fé em Jesus, e em sua
missão divina. Antes de seus discípulos crerem, Maria já acreditava e colaborava
na difusão dessa fé em Jesus.
9. Assim, sua ação quer iluminar o sentido
dos milagres e da ação de Jesus, não é a simples expressão de um poder
superior, mas a manifestação do amor e da misericórdia de Deus para com todos,
particularmente com os necessitados.
10. Ainda há muitos outros significados
que poderíamos recolher dessa cena, mas para entendermos Aparecida nos é
suficiente contemplar o quanto um coração maternal e feminino deixou o seu
vestígio no primeiro milagre de Jesus, e continua a deixar em nós a
possibilidade de elevar-nos ao coração da Mãe, para dizer ao Filho, do quanto
precisamos dessa constante renovação do vinho da vida, para que a festa da vida
não se acabe e que ela nos inspire essa atitude serviçal que aprendeu com o
Filho. Amém.
Pe. João Bosco Vieira Leite