(Sb 7,7-11; Sl 89[90]; Hb 4,12-13; Mc 10,17-30).
1. Mais um trecho do Livro da Sabedoria
abre a nossa liturgia da Palavra, parte de um longo elogio que se faz à
Sabedoria, vista como algo superior a qualquer bem que possamos imaginar ou
desejar. Ela é a companheira ideal de quem desejar viver com responsabilidade
neste mundo.
2. Ela é um dom divino e uma vez
acolhida, torna-se um dinamismo interior que nos capacita a saber escolher o
bem nas diversas circunstâncias. É esse elemento de ‘escolha’ que nos liga ao
evangelho mais à frente.
3. O salmista também busca sabedoria,
‘contar bem os seus dias’, pois compreende os limites humanos, por isso se
coloca nesse diálogo com o seu Criador sem qualquer ressentimento e desejoso de
redescobrir o sentido da vida.
4. Fonte de sabedoria é a Palavra de
Deus, nos lembra o autor da 2ª leitura. Com imagens resgatadas do Antigo
Testamento, ele afirma que ela é capaz de sondar a alma humana até a sua
profundidade; daí a metáfora da espada, para dizer que ela é capaz de alcançar
o coração humano, o íntimo de sua liberdade.
5. A proposta do nosso autor é que o
ser humano possa assumir com seriedade a condição da fé e discernir a presença
da Palavra de Deus na própria vida. Não esqueçamos que essa passagem se
encontra no contexto temático da reflexão sobre o sacerdócio de Cristo, ele é o
último e decisivo apelo de Deus à conversão.
6. Caminhando com Jesus, os discípulos
vão aprofundando o sentido do seguimento da Sua pessoa. O encontro com o jovem
rico serve de elemento para a reflexão sobre o sentido dos bens materiais e
como estes podem atrapalhar a compreensão do amor gratuito e livre de Deus.
7. No Antigo Testamento se vive essa
dualidade que valoriza a riqueza como bênção de Deus e da engenhosidade humana,
ao mesmo tempo que critica a riqueza acumulada injustamente.
8. Os evangelhos fazem um juízo
desconfiado ou claramente negativo perante as riquezas pelo risco da idolatria
do ter, da cobiça, da injustiça para com os mais necessitados.
9. As comunidades cristãs tiveram que
buscar o justo equilíbrio entre o trabalho e o consequente lucro como um
aspecto necessário para a dignidade da vida cristã, lembrados que a finalidade
dos bens materiais é sempre a de um serviço ao próprio caminho espiritual pela
partilha e atenção aos mais necessitados.
10. Jesus deixa claro que àquele que
tem fé, restará sempre uma interrogação de fundo de toda a vida, incluindo a
questão moral. O seguimento deve ser resultado de uma experiência de amor a
Cristo, em cujo olhar nos encontramos.
11. “Somente da sequela de
Cristo podem brotar a luz e a força necessárias para uma justa relação com os
bens materiais. O relacionamento com Jesus é caracterizado por alguns
elementos: a prioridade dada à escuta da Palavra; a convicção de que os nossos
bens não são apenas para nós próprios, embora os tenhamos adquirido
honestamente, mas devem servir para a partilha; finalmente, cada um deve
responder radicalmente à chamada que Deus lhe faz. Nem todos os cristãos são
chamados, como o rico do Evangelho, a renunciar a todos os bens, mas todos são
convidados ao seguimento de Jesus e ao serviço do próximo, porque este é o
único caminho de vida e de felicidade” (Giuseppe Casarim – Lecionário
Comentado – Paulus).
Pe. João Bosco Vieira Leite