(Gn 14,18-20; Sl 109[110]; 1Cor 11,23-26; Lc 9,11-17)
Corpo e Sangue de Cristo.
“Então Jesus tomou os
cinco pães e os dois peixes, elevou os olhos para o céu, abençoou-os,
partiu e os deu aos discípulos
para distribuí-los à multidão” Lc 9,16.
“É grande o
simbolismo da cena. Em pleno deserto. Deserto verdadeiro e deserto simbólico.
De um lado, o símbolo da maldição, da infertilidade, da desgraça. De outro
lado, da presença misteriosa de Deus, que se esconde no silêncio desabitado.
Uma das utopias dos profetas eram a transformação do deserto em vergel (Is
41,18-20). Poderia dizer que uma das utopias de Deus é transformar a humanidade
desgraçada e por si só improdutiva em sua moradia, Cristo tornou possível a
utopia. Lá está o Filho de Deus no meio do deserto. Lá está o Filho de Deus no
meio da multidão sem rumo, sem guia e faminta (Mc 6,34). O deserto sozinho não
poderá transformar-se. A humanidade sozinha não encontrará o alimento e a força
de que precisa para se levantar, tomar a decisão de ‘voltar para a Casa do Pai’
(Lc 15,18), pôr-se a caminho e chegar para o banquete festivo da glória. Lá
está o Filho de Deus multiplicando o pão de cevada, símbolo do alimento que
necessita o homem para ‘entrar em si’ (Lc 15,17), para caminhar da maldição
para a graça, da morte para a vida: ‘Se alguém comer deste pão viverá para
sempre. O pão, que dou, é minha carne para a vida do mundo!” (Jo 6,51).
Pedreiro nenhum fabrica este pão. Ele ‘desce do céu’ (Jo 6,32-33), dado por
Deus. Mas cabe a nós a missão de apanhá-lo e distribuí-lo. Sempre de novo Deus
associa o homem ao cultivo do campo, à semeadura e à colheita. Porém, como um
segundo momento, uma resposta à graça. A iniciativa sempre é de Deus. Mas ela
se concretiza com nossa colaboração. Somos um deserto. Mas Deus já começou a
multiplicar o pão. – Senhor, tenho fome. Tenho medo do deserto. Mas
estou disponível como os apóstolos. Se me alimentas, tornar-me-ei tua mão que
abençoa, multiplica e dá com abundância. Amém” (Clarêncio
Neotti – Meditações para o dia a dia [2015]
Vozes).
Pe. João Bosco Vieira Leite