Quinta, 16 de junho de 2022

(Gn 14,18-20; Sl 109[110]; 1Cor 11,23-26; Lc 9,11-17) 

Corpo e Sangue de Cristo.

“Então Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes, elevou os olhos para o céu, abençoou-os,

partiu e os deu aos discípulos para distribuí-los à multidão” Lc 9,16.

“É grande o simbolismo da cena. Em pleno deserto. Deserto verdadeiro e deserto simbólico. De um lado, o símbolo da maldição, da infertilidade, da desgraça. De outro lado, da presença misteriosa de Deus, que se esconde no silêncio desabitado. Uma das utopias dos profetas eram a transformação do deserto em vergel (Is 41,18-20). Poderia dizer que uma das utopias de Deus é transformar a humanidade desgraçada e por si só improdutiva em sua moradia, Cristo tornou possível a utopia. Lá está o Filho de Deus no meio do deserto. Lá está o Filho de Deus no meio da multidão sem rumo, sem guia e faminta (Mc 6,34). O deserto sozinho não poderá transformar-se. A humanidade sozinha não encontrará o alimento e a força de que precisa para se levantar, tomar a decisão de ‘voltar para a Casa do Pai’ (Lc 15,18), pôr-se a caminho e chegar para o banquete festivo da glória. Lá está o Filho de Deus multiplicando o pão de cevada, símbolo do alimento que necessita o homem para ‘entrar em si’ (Lc 15,17), para caminhar da maldição para a graça, da morte para a vida: ‘Se alguém comer deste pão viverá para sempre. O pão, que dou, é minha carne para a vida do mundo!” (Jo 6,51). Pedreiro nenhum fabrica este pão. Ele ‘desce do céu’ (Jo 6,32-33), dado por Deus. Mas cabe a nós a missão de apanhá-lo e distribuí-lo. Sempre de novo Deus associa o homem ao cultivo do campo, à semeadura e à colheita. Porém, como um segundo momento, uma resposta à graça. A iniciativa sempre é de Deus. Mas ela se concretiza com nossa colaboração. Somos um deserto. Mas Deus já começou a multiplicar o pão. – Senhor, tenho fome. Tenho medo do deserto. Mas estou disponível como os apóstolos. Se me alimentas, tornar-me-ei tua mão que abençoa, multiplica e dá com abundância. Amém (Clarêncio Neotti – Meditações para o dia a dia [2015] Vozes).                        

  Pe. João Bosco Vieira Leite