Domingo de Pentecostes

(At 2,1-11; Sl 103[104]; 1Cor 17,3-7.12-13; Jo 20,19-23)

1. O Espírito Santo é o grande protagonista da festa de hoje. Sua chegada é assinalada com duas imagens: aquela do vento e aquela do fogo.

2. O vento traz consigo a ideia de imprevisibilidade. Jesus, dialogando com Nicodemos, lembrava-lhe que o vento sopra onde quer, se ouve sua voz, mas não se sabe de onde vem ou para onde vai. Assim é quem nasceu do Espírito, diz Jesus.

3. Nesse sentido, abrir-se a ação do Espírito, pode significar tornar-se alguém que não segue a trajetória do senso comum, que não segue a mesma estrada já feita por muitos. A vida cristã séria é fiel ao Espírito Santo na medida que mostra a sua capacidade de ‘surpreender’.

4. É dentro desse quadro que compreendemos a figura dos santos e santas que tanto apreciamos. Ninguém é livre como um santo. Ninguém é menos indomesticável do que aquele que se deixa conduzir pelo Espírito, que na sua ação irresistível, supera os obstáculos, afugenta o medo, vence as resistências.

5. Como não se pode parar o vento, só nos resta abandonar-se a sua força envolvente, ao seu movimento impetuoso e deixar-se transportar em sua direção. E o vento se diverte, levando-nos aonde não queremos, a um mundo novo, qualquer ‘terra nova’.

6. Uma pessoa amiga do Espírito se reconhece como uma criatura em movimento. Assim compreendemos que acolher o Espírito na própria vida é entender que nada poderá continuar como antes. Assim entenderam os apóstolos naquele dia, e ainda hoje o Espírito continua a soprar sobre a Igreja, mesmo com as portas e janelas fechadas...

7. O Espírito também se nos apresenta sob a imagem do fogo. Este envolve uma tríplice ação: ilumina, aquece, purifica. Mas o fogo tende a propagar-se, não consegue estar nos próprios limites. Jesus mesmo expressa sua impaciência, pois ele veio trazer fogo sobre a terra (Lc 12,49).

8. Mas para que isso aconteça, é preciso que haja quem se deixe incendiar. Que não tenha medo de queimar-se. Que não se mantenha a uma distância segura. Disse alguém que os corações de muitos de nós sacerdotes e de muitos cristãos são protegidos contra o incêndio do Espírito.

9. O fogo, para transformar, deve libertar a matéria de toda impureza, escória, manchas. Não há conversão sem mudança, e não há mudança sem purificação, e não há purificação que não seja dolorosa. Não há transfiguração sem cansativa ascese. Devemos confiar-nos ao fogo, se quisermos transparência em nossa vida.

10. A grande questão é se aceitamos esse incêndio em nossa vida. A familiaridade com o fogo se expressa através de uma fé capaz de contagiar. Que deve ser luz, sal (o sal também queima, tem fogo dentro de si), ser capaz de provocar, de ser presença. Seria Pentecostes uma festa mim e para ti? “Incendeia a minha alma...”

 Pe. João Bosco Vieira Leite