(Zc 12,10-11; 13,1; Sl 62[63]; Gl 3,26-29; Lc 9,18-24)
1. Essa espécie de
sondagem que Jesus faz aos seus discípulos é um dos textos que mais retornam em
nossa liturgia. Brevemente voltaremos a ela na versão de Mateus. Primeiramente
Jesus quer saber o que dizem as pessoas. Estas classificam Jesus do ponto de
vista da fé hebraica, entre os grandes personagens (o Batista, Elias, os
profetas).
2. Mas Jesus separa os discípulos da
multidão e os interpela de modo pessoal. Isso era inevitável. Depois de tanto
tempo com Ele. É uma pergunta da qual nunca poderemos fugir: ‘E tu, quem dizes
que eu sou?’. Não podemos responder com as definições dos teólogos, com as
belas expressões literárias, ou mesmo frases feitas.
3. Precisamos inventar uma resposta a
partir da nossa experiência. E depois da resposta, Jesus nos fala do próprio
caminho desconcertante que deve atravessar, sublinhando a rejeição de sua
pessoa por parte das pessoas importantes de seu tempo.
4. Assim, a resposta ao ‘quem é Jesus?
Significa aceitar uma mudança brusca na própria existência para aceitar que é
preciso caminhar com ele ao longo de uma inquietante estrada onde a cruz
projeta a sua sombra. Toda resposta compromete: “Se alguém me quer seguir, tome
a sua cruz...”.
5. A figura do discípulo se caracterize
por um esforço de conformidade às escolhas e atitudes ao estilo de vida do
Mestre. Não há duas estradas. É uma única que Jesus percorre. Sabemos que a
vida de Cristo deve prolongar-se na existência de todos aqueles que se empenham
a viver as exigências do Evangelho.
6. Que significa ‘renunciar a si
mesmo’? Literalmente o verbo quer dizer ‘não reconhecer’, ‘não ter nada a ver
com outros’. Não reconhecer mais aquele que tem sido até então. Uma mudança
radical da própria vida que toca o ser na sua profundidade. Estabelecer um
outro centro da vida que não seja eu.
7. “Tomar a sua cruz....”. Uma das
expressões mais citadas do Evangelho, usada, abusada até ser esvaziada de seu
verdadeiro sentido. É como se a cruz fosse reduzida a um objeto ornamental,
algo a se levar e de onde desapareceu o peso real.
8. Quem escutava Jesus, tinha à sua
frente uma imagem de uma realidade cruel e constante. A crucifixão era um
espetáculo que muitos haviam assistido e até participado. Isso deve ter feito
os discípulos pensarem e repensarem o seguimento.
9. Dizer quem é Jesus significa
precisar os próprios passos do discipulado e do seu reconhecimento enquanto
cristão. Saber o que isso significa quanto à conduta e comportamentos práticos.
Assim temos os elementos para avaliar quem é discípulo de fato, e quem faz de
conta. Quem tem o nome de Jesus nos lábios e quem tem uma cruz nas costas.
10. O Evangelho nos informa sobre a
estrada, para que não se erre de caminho. O discípulo é alguém condenado à
liberdade de uma única estrada... Diga-me por onde tens andado e te direi quem
tu és.
Pe. João Bosco Vieira Leite