Todos os Santos e Santas – 2020

(Ap 7,2-4.9-14; Sl 23[24]; 1Jo 3,1-3; Mt 5,1-12a).

1. A liturgia da Palavra para essa solenidade nos traz vários aspectos para reflexão em torno da santidade. O primeiro deles é a santidade de Deus manifestada nos seus filhos e filhas, os santos da Igreja. A 1ª leitura nos diz que se trata de uma multidão imensa que ninguém pode contar.

2. Essa santidade é consequência de uma filiação assumida a partir do nosso batismo, nos diz a 2ª leitura, que ao mesmo tempo avança para uma plenitude. Mas esse caminho que fazemos tem a ver com a proposta das Bem-aventuranças, uma santidade real, desafiante, vivida na proposta de Jesus.

3. Um outro aspecto escondido em nossa celebração é essa comunhão que vivemos com todos esses bem-aventurados, começando pelo próprio Jesus, o santo de Deus, passando pela Virgem Maria, os apóstolos, os mártires e os santos com nome próprio ou na lista anónima que trazemos em nosso coração.

4. Muitos homens e mulheres chegaram até Deus por uma vida honrada e santa, por isso, para além da lista conhecida, o papa Gregório IV estabeleceu, no século IX, esta festa de todos os Santos e Santas.

5. Não se trata tão somente de erigir, na memória, um monumento ou memorial ao santo desconhecido. A intenção da liturgia vai bem mais além. Queremos celebrar a santidade de Deus que resplandece encarnada em pessoas de carne e osso, porque a santidade em abstrato não existe. 

6. Uma outra intenção dessa solenidade é retirar certa ideia falsa dos santos canonizados. O critério pietista e milagreiro, angelical ou adocicado com que se descrevia há algum tempo muitos santos e santas, privando-os de sua condição e dos seus valores humanos. Mais dignos de admiração do que de imitação. 

7. As estatuas dos santos continuarão a ser de madeira, gesso ou pedra. Mas os santos eram de carne e osso. Seus contemporâneos bem o sabiam. Homens e mulheres com qualidades, defeitos e problemas como os outros, mas que levaram a sério o seguimento de Cristo.

8. O extraordinário da sua vida consistiu em viver com profundidade a fé, a esperança e a caridade. Não há santo possível sem valores humanos e sem uma grande maturidade pessoal, porque não pode haver santo sem amor a Deus e aos irmãos, vimos no domingo anterior. E o amor não é passivo, mas ativo, plenificante, altruísta, inconformista, revolucionário à sua maneira.

9. Ouvindo mais uma vez as bem-aventuranças, somos lembrados dessa pobreza de espírito que nos abre a essa condição de esvaziamento do próprio eu, para estar disponíveis diante de Deus, para fazer frutificar seus dons e talentos. A santidade é um caminhar contínuo e fiel diante de Deus.

10. A santidade cristã não está vinculada a um estilo de vida ou a uma época determinada; ninguém está excluído. Folheando o livro dos santos, temos falsa impressão de termos mais santos de hábito e clausura do que leigos comuns. Há tantos tipos e vocações de santos e santidade quantas as situações humanas. O Espírito sopra onde quer.

11. Aqui, em comunhão com eles, que já alcançaram a meta, alegramo-nos e reacendemos a esperança cristã, nós que ainda peregrinamos, e somos chamados a viver em nosso estado de vida aspectos da santidade do próprio Deus.

“Na verdade, é justo e necessário, é nosso dever e salvação bendizer-Te, Deus santo, uno e trino, com todos os santos porque nos concede celebrar hoje a glória da assembleia festiva de todos os bem-aventurados na pátria definitiva do céu. Para ela, como peregrinos e forasteiros em país estranho, caminhamos com alegria, guiados pela fé e pela esperança, radiantes com a glória dos melhores filhos da tua Igreja, os santos, nossos irmãos, em quem encontramos exemplo de vida cristã para imitar como ajuda nossa fraqueza. Por isso, unidos a todos os santos e ao coro dos anjos, glorificamos-Te, repetindo sem cessar: Santo, Santo, Santo”. (B. Caballero – A Palavra de cada Domingo – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite