(Ef 3,14-21; Sl 32[33]; Lc 12,49-53)
29ª Semana do Tempo Comum.
“Eu vim para lançar
fogo sobre a terra e como gostaria que já estivesse aceso!” Lc 12,49.
“Alguns santos Padres
interpretam este fogo como sendo o do Espírito Santo, da caridade, do zelo
apostólico, porque o cristianismo é isso: a religião do amor, a religião do
zelo apostólico; assim, pelo menos, parece interpretá-lo a Igreja quando na
oração ao Espírito Santo o invoca: ‘Vinde, Espírito Santo, e enchei os
corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor’. O amor é que dá
sentido à vida e a todas as circunstâncias, e o zelo que canaliza as energias e
polariza os esforços nos altares da fé. Por isso o cristianismo é uma escola de
zelo e de ação apostólica. Todo cristão autêntico é uma pessoa entusiasta,
otimista, confiante e alegre; é um verdadeiro propagandista de sua fé, um
apóstolo ardoroso, que transmite a mensagem de salvação a todos quantos o
rodeiam; é um soldado aguerrido, que luta sem descanso contra o mal e o pecado,
contra a imoralidade e a injustiça; é um mestre que foi chamado para ensinar
aos pobres a doutrina do Senhor Jesus consignada em seu evangelho. O cristão é
uma pessoa compenetrada com os ideais de Jesus Cristo, cheio do fogo que
devorava o coração do Mestre. As adversidades não fazem recuar o apóstolo
cristão, mas o instigam e estimulam à ação apostólica. A tocha de fogo da fé,
que constantemente arvora, é a chama que dá luz à sua vida e com a qual ateia
fogo a seu derredor, a ponto de poder definir-se o apóstolo, dizendo que é uma
pessoa que está envolta em chamas de calor. Porém o fogo ao qual, aqui, se
refere Jesus literalmente é o fogo da luta. Diz um comentário evangélico:
‘Jesus não veio trazer a paz no sentido material da palavra, no que diz
respeito À exclusão do sofrimento na terra. Sua mensagem dirige-se a um mundo
inimigo de Deus e impulsiona os homens a decidir-se a favor ou contra Deus. E,
assim, os homens dividir-se-ão em duas frentes: os que estão a favor de Deus e
os que continuam com suas paixões desordenadas. A luta adquire caracteres
trágicos dentro da mesma casa. Os exemplos dos versículos 52-53 servem para por
em relevo o sentido trágico deste evangelho. A confissão de Cristo encontrará
oposição em seres muito queridos. O evangelho deve ser colocado acima dos
interesses e afetos humanos mais sagrados. A discórdia no próprio seio das
famílias menciona-se na apocalíptica judaica e considera-se parte das dores
messiânicas que precederão a iluminação do Messias’” (Alfonso
Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-
Maria).
Santo do Dia:
São Contardo Ferrini, professor
universitário. Nasceu de um casal profundamente cristão, numa época de grande
crise de fé e oposição à Igreja de Cristo, precisamente no ano de 1859. Ditado
de memória prodigiosa, era muito estudioso. Contava com 17 anos, ao começar em
Pavia, em 1876, o curso de direito, em que foi aluno do seu tio, o abade
Buccellati, professor de direito penal. A sua piedade, a sua prática religiosa
provocava naturalmente as chacotas, os ditos obscenos, as grosserias dos
colegas. Em 1880, defendeu brilhantemente em Pavia sua tese de doutorado sobre
a importância de Homero e Hesíodo para história do direito penal. Ela lhe valeu
uma bolsa de viagem. Foi a Berlim, onde experimentou fortemente o catolicismo
sério, corajoso dos militantes provocados pela Kulturkampf de Bismarck. Em 1881
fez voto de castidade. Assistia a missa diariamente. Diante do tabernáculo, a
orar, chegava ao êxtase. Terciário franciscano desde 1886, Ferrini era doce,
humilde, paciente, sempre procurando a perfeição em tudo. Foi um sábio a viver
como um eremita contemplativo. A ciência foi a sua dama, o professorado, um sacerdócio.
Em outubro de 1883, com apenas 24 anos, ministrou em Pavia um curso de história
do direito penal romano. Foi sempre um mestre compenetrado da seriedade de sua
profissão e de respeito para com seu auditório. Os estudantes apreciavam seu
esforço de adaptação e seu zelo em servir. Fora dos cursos era sempre afável,
doce, sempre disposto a aconselhar e a ajudar. Terminadas estas, voltava sempre
a pé para casa. Nas férias era um robusto alpinista. Além de tantas outras
virtudes e ação em favor da fé católica, tinha o senso da liturgia e um real
espírito de pobreza. Uma febre tifoide o levou rapidamente, a 17 de outubro de
1902, em Suna (Novara). Deixou belíssimas páginas de espiritualidade.
Pe. João Bosco Vieira Leite