Quinta, 22 de outubro de 2020

(Ef 3,14-21; Sl 32[33]; Lc 12,49-53) 

29ª Semana do Tempo Comum.

“Eu vim para lançar fogo sobre a terra e como gostaria que já estivesse aceso!” Lc 12,49.

“Alguns santos Padres interpretam este fogo como sendo o do Espírito Santo, da caridade, do zelo apostólico, porque o cristianismo é isso: a religião do amor, a religião do zelo apostólico; assim, pelo menos, parece interpretá-lo a Igreja quando na oração ao Espírito Santo o invoca: ‘Vinde, Espírito Santo, e enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor’. O amor é que dá sentido à vida e a todas as circunstâncias, e o zelo que canaliza as energias e polariza os esforços nos altares da fé. Por isso o cristianismo é uma escola de zelo e de ação apostólica. Todo cristão autêntico é uma pessoa entusiasta, otimista, confiante e alegre; é um verdadeiro propagandista de sua fé, um apóstolo ardoroso, que transmite a mensagem de salvação a todos quantos o rodeiam; é um soldado aguerrido, que luta sem descanso contra o mal e o pecado, contra a imoralidade e a injustiça; é um mestre que foi chamado para ensinar aos pobres a doutrina do Senhor Jesus consignada em seu evangelho. O cristão é uma pessoa compenetrada com os ideais de Jesus Cristo, cheio do fogo que devorava o coração do Mestre. As adversidades não fazem recuar o apóstolo cristão, mas o instigam e estimulam à ação apostólica. A tocha de fogo da fé, que constantemente arvora, é a chama que dá luz à sua vida e com a qual ateia fogo a seu derredor, a ponto de poder definir-se o apóstolo, dizendo que é uma pessoa que está envolta em chamas de calor. Porém o fogo ao qual, aqui, se refere Jesus literalmente é o fogo da luta. Diz um comentário evangélico: ‘Jesus não veio trazer a paz no sentido material da palavra, no que diz respeito À exclusão do sofrimento na terra. Sua mensagem dirige-se a um mundo inimigo de Deus e impulsiona os homens a decidir-se a favor ou contra Deus. E, assim, os homens dividir-se-ão em duas frentes: os que estão a favor de Deus e os que continuam com suas paixões desordenadas. A luta adquire caracteres trágicos dentro da mesma casa. Os exemplos dos versículos 52-53 servem para por em relevo o sentido trágico deste evangelho. A confissão de Cristo encontrará oposição em seres muito queridos.  O evangelho deve ser colocado acima dos interesses e afetos humanos mais sagrados. A discórdia no próprio seio das famílias menciona-se na apocalíptica judaica e considera-se parte das dores messiânicas que precederão a iluminação do Messias’” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave- Maria).

 

Santo do Dia:

São Contardo Ferrini, professor universitário. Nasceu de um casal profundamente cristão, numa época de grande crise de fé e oposição à Igreja de Cristo, precisamente no ano de 1859. Ditado de memória prodigiosa, era muito estudioso. Contava com 17 anos, ao começar em Pavia, em 1876, o curso de direito, em que foi aluno do seu tio, o abade Buccellati, professor de direito penal. A sua piedade, a sua prática religiosa provocava naturalmente as chacotas, os ditos obscenos, as grosserias dos colegas. Em 1880, defendeu brilhantemente em Pavia sua tese de doutorado sobre a importância de Homero e Hesíodo para história do direito penal. Ela lhe valeu uma bolsa de viagem. Foi a Berlim, onde experimentou fortemente o catolicismo sério, corajoso dos militantes provocados pela Kulturkampf de Bismarck. Em 1881 fez voto de castidade. Assistia a missa diariamente. Diante do tabernáculo, a orar, chegava ao êxtase. Terciário franciscano desde 1886, Ferrini era doce, humilde, paciente, sempre procurando a perfeição em tudo. Foi um sábio a viver como um eremita contemplativo. A ciência foi a sua dama, o professorado, um sacerdócio. Em outubro de 1883, com apenas 24 anos, ministrou em Pavia um curso de história do direito penal romano. Foi sempre um mestre compenetrado da seriedade de sua profissão e de respeito para com seu auditório. Os estudantes apreciavam seu esforço de adaptação e seu zelo em servir. Fora dos cursos era sempre afável, doce, sempre disposto a aconselhar e a ajudar. Terminadas estas, voltava sempre a pé para casa. Nas férias era um robusto alpinista. Além de tantas outras virtudes e ação em favor da fé católica, tinha o senso da liturgia e um real espírito de pobreza. Uma febre tifoide o levou rapidamente, a 17 de outubro de 1902, em Suna (Novara). Deixou belíssimas páginas de espiritualidade. 

 Pe. João Bosco Vieira Leite