(Ex 22,20-26; Sl 17[18]; 1Ts
1,5c-10)
1. Na segunda investida das lideranças
religiosas sobre Jesus está a pergunta sobre o maior dos mandamentos. De fato,
a pergunta procede, pois viviam envoltos num mundo de prescrições e proibições
que certamente se poderia perder de vista o essencial.
2. A resposta de Jesus não é em si uma
novidade, pois o mandamento do amor a Deus estava presente na oração da manhã e
da tarde do judeu piedoso. E o amor ao próximo já fazia parte do Antigo
Testamento. A novidade de Jesus está no justo equilíbrio que parecia esquecido.
3. O princípio-síntese utilizado por
Jesus unifica e equipara os dois mandamentos que os especialistas de então
entendiam e explicavam como diferentes, separados e em níveis distintos: Deus e
o próximo.
4. Dessa síntese de Jesus, conclui-se
que a mensagem e o seguimento de Jesus é, fundamentalmente, amar, encontrar-se
com Deus no amor através da fraternidade com os nossos semelhantes. Amar a Deus
sem amar o ser humano é uma utopia religiosa, uma mentira, no dizer de São João
Evangelista.
5. Para além das definições dos
filósofos, antropólogos e sociólogos, o ser humano se define, também, como um
ser feito para amar e ser amado. Numa bela intuição sobre essa realidade, Santo
Agostinho dizia: amor é o meu peso; a minha lei da gravidade, diríamos na
linguagem física; ou em termos psicológicos: ‘o afetivo é o efetivo’.
6. Essa realidade vem se revelando ao
longo da história salvífica para culminar na pessoa de Jesus. Ele mesmo se
tornou esse sacramento do encontro com Deus. Deus revela-se como amor que
procura o ser humano e que pede uma resposta não só afetiva, mas também
efetiva.
7. A primeira leitura nos fala desse
olhar de Deus sobre os desassistidos, para expressar o seu cuidado e o nosso
para com eles. É também uma lembrança do que nos impossibilita amar: o orgulho,
a prepotência e o domínio, o desejo de consumir que nos leva a exploração do
outro.
8. É verdade que Deus e o ser humano
são objetos distintos de amor e se distinguem conceitualmente, mas não se podem
separar, nos diz o próprio Jesus. É o amor que dá valor e consistência à
observância dos mandamentos.
9. O nosso testemunho, no mundo,
consiste em viver a fraternidade e a solidariedade humana, num esforço contínuo
de dizer não ao egoísmo que nos impede de celebrar o amor em Cristo, na
eucaristia e nos demais sacramentos da vida cristã.
- “Nós Te agradecemos, Senhor,
porque Jesus resume a tua lei num só mandamento, centrado no amor a Ti e ao
próximo. Agradecemos, também, porque o teu Espírito nos permite amar-Te como
filhos e abre-nos ao irmão, completando o círculo do amor em Cristo.
Reconhecemos-Te, Senhor, como nosso verdadeiro e único Deus a quem devemos amar
e servir com todo o ser, alma e coração. E queremos, também cumprir o mandato e
testamento de Jesus: amai-vos uns aos outros como Eu vos mamei; assim sereis
meus discípulos. Ajuda-nos, Senhor, a abandonar os ídolos do nosso egoísmo para
nos centrarmos no mandamento principal e primeiro, porque amar-Te, a Ti e ao
próximo, é cumprir totalmente a tua lei. Amém” (B. Caballero – A
Palavra de cada Domingo – Paulus).
Pe. João Bosco Vieira Leite