(Is 45,1.4-6; Sl 95[96]; 1Ts 1,1-5b; Mt 22,15-21)
1. A frase lapidar de Jesus no
Evangelho de hoje, tem atravessado os tempos e recebido várias interpretações
de acordo com a época e a perspectiva.
2. Comumente caímos no campo dos
opostos: César e Deus. Mas a liturgia da palavra, logo na 1ª leitura, já nos
adverte que Deus é capaz de agir para além do campo religioso, servindo-se de
outros meios.
3. Os que tentam armar para cima de
Jesus consideravam o pagamento do imposto moralmente ilícito e só o faziam por
força maior. Os saduceus e herodianos eram colaboracionistas do poder
estrangeiro e, portanto, partidários de pagar o imposto. Os zelotas se opunham
a tal com as forças das armas. É nesse campo minado que pisa Jesus.
4. De modo inteligente, Jesus desarma
seus oponentes chamando-lhes de hipócritas! Ao pedir para ver a moeda e ver a
gravura ali impressa, faz passar a questão do âmbito político para o religioso.
5. Muitos entenderam que a religião
deveria limitar-se aos templos ou às sacristias e deixar a rua, a vida
econômica e o trabalho, e os demais setores da vida à competência exclusiva dos
políticos, governantes e cientistas.
6. Diante dessa visão, como ficaria o
mandato de Cristo: ‘Ide por todo o mundo e anuncia o Evangelho a todos os
povos’, particularmente nesse domingo das missões? O tema desse ano nos diz que
a vida é missão. E vida envolve todos os aspectos da existência humana.
7. A solução dada por Jesus não
contrapõe César e Deus, temporal e espiritual, político e religioso.
Reconhecendo a autonomia de poder terreno e civil, estabelece implicitamente
uma hierarquia de termos que reconhece a soberania de Deus sobre César.
8. ‘Dar a Deus o que é de Deus’ vem em
primeiro e daí advém o fundamento e a obrigação, também, de ‘dar a César o que
é de César’. Se quisermos usar a relação Igreja e Estado, nenhum está
submetido ao outro, mas ambos estarão submetidos a Deus, Senhor da história.
9. Jesus foi cidadão de um estado, e
mesmo tendo uma visão crítica das autoridades civis, ele seguia as leis por
estas estabelecidas. Sua resposta não sacraliza a autoridade de quem manda, mas
reconhece o seu direito. Contudo, a submissão ao poder civil está limitada ao
ordenamento do bem comum da sociedade.
10. Por isso, são legítimas a
discordância e a objeção de consciência, quando um Estado totalitário se auto
diviniza ou uma lei civil contradiz os princípios evangélicos ou não
salvaguarda os direitos das pessoas, tais como a ética, a vida, a família, a
liberdade de religião, de consciência, educação, por exemplo.
11. O cristão, para Paulo, deve ser o
melhor cidadão. Nada do que devemos a Deus damos a César. Mas a fé religiosa
não nos exime de obedecer à autoridade estatal legítima e justa e com ela
colaborar, seja no que diz respeito aos impostos, cumprimentos das leis,
responsabilidade cívica e participação democrática crítica e construtiva.
- “Bendito sejas, Deus Pai,
porque Jesus Cristo, teu Filho, nos ensinou a dar-Te, Deus e Senhor nosso, o
que é teu, e à autoridade civil a obediência e colaboração devidas. Com o
exemplo da sua vida, Cristo mostrou-nos concretamente que o seu discípulo deve
ser o melhor e mais completo cidadão: leal, responsável, justo, insubornável,
crítico e solidário. Mas, se Tu, Senhor, não constróis a casa e a cidade, em
vão vigiamos, madrugamos e nos afadigamos todo o dia. Concede-nos, Senhor, o
teu Espírito de amor e de serviço para que testemunhemos entre os homens,
nossos irmãos, que o teu reino tem primazia absoluta na nossa vida. Amém”
Pe. João Bosco Vieira Leite