Terça, 21 de maio de 2019


(At 14,19-28; Sl 144[145]; Jo 14,27-31) 
5ª Semana da Páscoa.

“Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo.
Não se perturbe nem se intimide o vosso coração” Jo 14,27.

“Se imaginarmos um universo totalmente vazio, sem matéria nem força alguma, talvez digamos: que paz! Mas só poderíamos dizer isso porque nossa mente guarda a memória de conflitos, e, sem essa memória, é claro, jamais teríamos existido para saber o que é paz. Pois a paz só pode ser reconhecida como tal se antes houver existido um conflito. Cessada a luta, vem a paz: às vezes com o germe do novo conflito; outras, raramente, com a certeza de ser definitiva. Por isso, Jesus diferencia a sua paz daquela que o mundo dá, sendo a mais conhecida a Pax Romana, ou seja, a paz romana, a paz seguida após uma conquista pela força das armas (logo, um conflito) e estabelecida pela força dessas mesmas armas (consequentemente, um estopim para novos conflitos). Jesus não quer uma paz que de um lado está o oprimido e, de outro, o opressor. Essa paz tão somente oculta o conflito latente, o conflito ressentido, o conflito que pode ser flexionado por qualquer descuido. A paz de Jesus é uma paz antecedida por um terrível conflito; Deus x ser humano. Deus, com sua justiça, pureza e poder; o ser humano, injustiça, impureza e fraqueza. Desse conflito só sairia um perdedor: o ser humano. Jesus, no entanto, intermedeia essa luta e se transforma no x (o versus) e, ao mesmo tempo, se desse x numa cruz. Eis, pois, como fica terrível o conflito: Deus... ser humano. O poderoso (que seria o opressor) carrega a cruz; o ser humano (o oprimido), confia na cruz. Mesmo que a confiança, a fé, corcoveie e, eventualmente, se afunde no chão, aquele que dá estabilidade à cruz sequer se mexe. Por isso, temos paz. – Senhor Jesus, a paz que Tu nos dás é uma paz não isenta de conflitos em uma das pontas: nós – porque incessantemente nos sobrevêm dúvidas por causa da nossa mente inquieta e dos nossos constantes pecados. Mas na outra ponta: Tu, ó Pai – está a nossa segurança. Por isso, e só por isso, estamos em paz. Amém  (Martinho Lutero Hoffmann – Meditações para o dia a dia [2017] – Vozes). 

Pe. João Bosco Vieira Leite