(At 9,31-42; Sl 115[116B]; Jo 6,60-69)
3ª Semana da Páscoa.
“O espírito é que dá
vida, a carne não adianta nada. As palavras que vos falei são espírito e
vida” Jo 6,63.
“Para as Escrituras
Espírito e carne, mais que entidades diferentes, representam dois modos de ser
e dois projetos de vida. O Espírito é o modo de ser de Deus, infinito, eterno,
imortal. Carne é o modo de ser da criação, especialmente, do ser humano:
limitado, finito, mortal e cheio de erros e acertos. Quando se diz que o Verbo
se fez carne se visa expressar esta mutação de Deus: ele entrou de fato na
nossa miséria. Por isso chorou, teve fome, sofreu e morreu na cruz. Por outro
lado, ele nasceu do Espírito, sobre ele morou o Espírito de forma permanente.
Com isso fez da carne assumida instrumento de vida e de resgate. Pela
ressurreição diz, por exemplo, S. Paulo, Cristo ganhou um corpo espiritual
(1Cor 15,44) e se fez Espírito (2Cor 3,17: assumiu o modo de ser de Deus). Com
isso ele quis expressar o que aconteceu de fato na ressurreição: a irrupção
total da vida em sua pujança e plenitude, assim como ela se realiza no modo de
ser divino. O ser humano é confrontado com estes dois modos de ser que são dois
projetos: ou viver segundo a carne ou viver segundo o Espírito. Viver segundo a
carne é orientar-se segundo as tendências da carne que puxam para o egoísmo, a
autocentração em si mesmo em exclusão dos outros. Esse projeto leva à morte.
Viver segundo o Espírito é viver consoante a prática de Cristo, voltado para
Deus e para os outros no amor e no perdão. Isso leva à vida e à ressurreição.
– Senhor, abre-nos para o Espírito para que a nossa carne seja
resgatada e se faça instrumento de amor e solidariedade. Que possamos sempre
passar da carne ao Espírito para termos vida e gerarmos vida para os outros.
Amém” (Leonado Boff – Graças a Deus [1995] – Vozes).
Pe. João Bosco Vieira Leite