(At 14,5-18; Sl 113B[115]; Jo 14,21-26)
5ª Semana da Páscoa.
“Ora, quem me ama
será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele” Jo 14,21b.
“Nessas palavras
completa-se a relação pessoal com Jesus e, por meio dele e nele, com Deus.
Aqui, João não quer fazer uma afirmação sobre a essência do Deus trino, ele
quer simplesmente meditar sobre a realidade de Jesus que passou a morar com o
Pai na glória e, ao mesmo tempo, mora também dentro de nós pelo Espírito Santo.
Ele estabeleceu a sua morada entre nós, uma morada que nem a morte poderá
destruir. O Espírito é a presença permanente de Jesus entre nós e dentro de
nós. Jesus não nos deixa para trás, como órfãos. Ele continua conosco e dentro
de nós de uma nova maneira. Ele está até mais perto de nós do que quando viveu
na terra. Porque agora ele mora em nosso coração. Se Jesus não tivesse deixado
os discípulos, estes correriam o perigo de projetar o seu eu sobre ele. Assim
não progrediriam em seu caminho de desenvolvimento. Como Jesus os deixa,
precisam encontrar o seu verdadeiro eu dentro de si mesmos. O Espírito Santo
leva os discípulos àquele Cristo ‘que mora na alma e do qual nunca poderão ser
separados’ (SANFORD, 1997, p. 157, v. 2). A retirada de Jesus nos torna capazes
de assumir uma comunhão mais profunda com ele. Já não podemos ser separados dele.
Ele se fundiu conosco. Ele é mais íntimo de nós do que nós mesmos. O Espírito é
a expressão dessa nova união mais íntima com Jesus. Ele não nos abandona, como
Sócrates, por exemplo, abandonou os seus discípulos, deixando-os para trás como
órfãos. Jesus vive. Ele ressuscitou e nos faz participar dessa vida divina que
o mundo não compreende e não enxerga. Páscoa significa que Jesus está entre nós
e dentro de nós pelo Espírito como poder capaz de suscitar a vida. O
ressuscitado já está entre nós pelo Espírito e não nos abandonará nunca mais. O
Espírito é o futuro divino que não terá fim. A comunhão com Deus, na qual fomos
introduzidos pelo Espírito, não se desfaz na morte, pelo contrário, ela se
manifesta então em toda sua plenitude. Para João, o cerne do cristianismo
consiste no milagre admirável da chegada de Deus entre os homens. Através de
Jesus, Deus entrou no homem e continuará presente nele para todo o sempre. João
não se cansa de meditar sobre essa verdade. Os discursos de despedida giram em
torno desse tema, abordando-o de todos os lados, para que o leitor seja capaz
de crer cada vez mais: Deus está nele, e ele está em Deus. Jesus é o milagre da
presença de Deus no ser humano. O auxiliador nos comunica essa presença
permanente. Ele abre o espaço do nosso coração, para que o Pai e o Filho possam
estabelecer a sua morada dentro dele. Se Deus mora dentro de nós, também nós
somos capazes de morar em nós mesmos, de chegar ao nosso eu verdadeiro e de
estar em casa dentro de nós mesmos” (Anselm Grun – Jesus:
porta para a vida – Loyola).
Pe. João Bosco Vieira Leite