24º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Eclo 27,33—28,9; Sl 102[103]; Rm 14,7-9; Mt 18,21-35)

1. Dando continuidade ao tema iniciado no domingo anterior sobre a vida comunitária e a correção fraterna, acrescenta-se a dimensão do perdão dentro desse espaço. Jesus chega ao ápice de algo que passou por um processo evolutivo na história do Antigo Testamento. À tendência de se dar plena vasão a ira, o rancor e a vingança foi se desenvolvendo um senso de justiça.

2. Aos poucos a simples justiça vai dando espaço a uma reflexão sobre o modo como Deus age conosco e como nós agimos para com o próximo. É dentro deste espaço evolutivo que se situa a primeira leitura, quase que a nos perguntar em que etapa nos encontramos em nossa caminhada de fé e na relação com os outros.

3. O texto da Carta aos Romanos que nos é oferecido é uma espécie de conclusão diante de uma comunidade que se encontra dividida em seu modo de viver alguns elementos particulares da fé. Paulo lembra o essencial: ninguém vive para si mesmo, mas para o Senhor. O importante é viver de acordo com o que pela fé, sua consciência lhe pede.

4. Mesmo já tendo dado passos significativos no caminho das relações humanas, o povo judeu ainda discutia certos pormenores da dinâmica do perdão. Um deles era a respeito de quantas vezes se devia perdoar o próximo. Não demorou muito para Jesus ser envolvido nessa discussão.

5. Ao dar o número sete a Jesus, Pedro já girava dentro de um espaço de generosidade significativa, quase perfeito. Jesus vai além. A parábola que se segue é uma tentativa de fazer-se entender melhor. Sobre que parâmetros devo me guiar sobre o perdão a ser dado ao meu próximo?

6. O primeiro aspecto salientado pela parábola é a distância entre o coração do homem e o coração de Deus. Com que generosidade Ele tem nos perdoado. Mas veja como age o homem com relação ao seu próximo. O contraste torna-se gritante na representação dos valores apresentados pela narrativa.

7. Há um claro convite a imitarmos a generosidade de Deus em nossas relações. Escreve Fernando Armellini: “Há três tipos de homens: os que recebem o bem e reagem fazendo o mal – são os malvados; há os que pagam o bem com o bem e o mal com o mal – são os justos; por fim, há os que respondem ao mal com o bem, - somente estes se comportam como filhos de Deus”.

8. Perdoar não é fácil ou algo simples, talvez por isso faça parte de nossas petições diárias ao rezarmos o Pai Nosso. Não podemos negar ou simplesmente esquecer a injustiça ou dano sofrido. Por isso o evangelho do domingo anterior ensinava o caminho da correção fraterna como ajuda no caminho da conversão necessária.

9. Jesus não quer que destruamos as pontes, mas tenhamos a coragem e a humildade de dar o primeiro passo. Temos mil motivos para não fazê-lo, mas nos perguntamos, onde está a nossa sintonia com o Pai? Não nos deixemos impressionar pelas cores fortes com que se conclui a parábola. O Pai que Jesus nos revelou não é um vingador.

10. Não é o medo dos ‘torturadores’ que devemos ter. O nosso medo é o de não entendermos que somos filhos de um mesmo Pai e que somos amados da mesma maneira, como na parábola do Pai Misericordioso.

 Pe. João Bosco Vieira Leite