(Cl 1,1-8; Sl 51[52]; Lc 4,38-44)
22ª Semana do Tempo Comum.
Nos salmos encontramos as palavras de
bênção e de maldição. Não representam um gênero autônomo no Saltério. Ocorrem
em diferentes situações e gêneros de salmos. Bênção e maldição são originárias
da visão mágico-dinamística da vida e inicialmente eram consideradas palavras
mágicas, com poder de eficácia própria. Destinavam-se a aumentar ou diminuir as
forças vitais, criar ‘salvação’ ou ‘perdição’ por si mesmas. É significativo
que nas fórmulas de bênção usadas nos salmos desapareceu o efeito mágico
autônomo das palavras de bênção. A eficácia da bênção está ligada ao Senhor,
único a dispor dos poderes da bênção e o verdadeiro dispensador de bênçãos (Sl
24,5; 128,5; 134,3).
A nossa liturgia nos oferece o salmo 52
(vv. 11-12) nos seus versículos finais. Aqui Davi expressa a sua confiança em
Deus, mas o que antecede esse voto de confiança é a condenação de um homem
(Doegue) que para se fortalecer ou ganhar prestígio diante de algum poderoso
(Saul) é capaz de matar a outros. Praticamente Davi lança uma maldição sobre
ele. Por isso Davi canta sua escolha por outro caminho, comparando-se à
‘oliveira verdejante na casa do Senhor’, imagem da pessoa piedosa. “Toda
vez que entramos em um lugar santo e nos tornamos conscientes da presença de um
Deus santo, saímos de lá melhores ou piores. Se estamos ali para nos separarmos
das pessoas e das coisas comuns, é quase certo que sairemos piores. Sairemos
como Doegue, prontos para impor aos outros a nossa noção do que é certo,
forçando o outro a aceitar nossa ideia de Deus, cheios de indignação, levando
adiante uma cruzada de guerra santa. Mas, se entrarmos ali famintos e
necessitados, permitindo-nos ser vulneráveis diante de Deus, pedindo, sem meias
palavras, e até mesmo de forma hostil, o que necessitamos, é quase certo que
sairemos melhores. Sairemos, como Davi, gratos simplesmente por estarmos vivos,
surpresos em saber que Deus está conosco, que o sacramento mais santo é
alimento para muitas de nossas necessidades diárias” Eugene Peterson (in Douglas
Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson
Brasil).
Pe. João Bosco Vieira Leite