Quarta, 06 de setembro de 2017

(Cl 1,1-8; Sl 51[52]; Lc 4,38-44) 
22ª Semana do Tempo Comum.

Nos salmos encontramos as palavras de bênção e de maldição. Não representam um gênero autônomo no Saltério. Ocorrem em diferentes situações e gêneros de salmos. Bênção e maldição são originárias da visão mágico-dinamística da vida e inicialmente eram consideradas palavras mágicas, com poder de eficácia própria. Destinavam-se a aumentar ou diminuir as forças vitais, criar ‘salvação’ ou ‘perdição’ por si mesmas. É significativo que nas fórmulas de bênção usadas nos salmos desapareceu o efeito mágico autônomo das palavras de bênção. A eficácia da bênção está ligada ao Senhor, único a dispor dos poderes da bênção e o verdadeiro dispensador de bênçãos (Sl 24,5; 128,5; 134,3).  

A nossa liturgia nos oferece o salmo 52 (vv. 11-12) nos seus versículos finais. Aqui Davi expressa a sua confiança em Deus, mas o que antecede esse voto de confiança é a condenação de um homem (Doegue) que para se fortalecer ou ganhar prestígio diante de algum poderoso (Saul) é capaz de matar a outros. Praticamente Davi lança uma maldição sobre ele. Por isso Davi canta sua escolha por outro caminho, comparando-se à ‘oliveira verdejante na casa do Senhor’, imagem da pessoa piedosa. “Toda vez que entramos em um lugar santo e nos tornamos conscientes da presença de um Deus santo, saímos de lá melhores ou piores. Se estamos ali para nos separarmos das pessoas e das coisas comuns, é quase certo que sairemos piores. Sairemos como Doegue, prontos para impor aos outros a nossa noção do que é certo, forçando o outro a aceitar nossa ideia de Deus, cheios de indignação, levando adiante uma cruzada de guerra santa. Mas, se entrarmos ali famintos e necessitados, permitindo-nos ser vulneráveis diante de Deus, pedindo, sem meias palavras, e até mesmo de forma hostil, o que necessitamos, é quase certo que sairemos melhores. Sairemos, como Davi, gratos simplesmente por estarmos vivos, surpresos em saber que Deus está conosco, que o sacramento mais santo é alimento para muitas de nossas necessidades diárias” Eugene Peterson (in Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).


Pe. João Bosco Vieira Leite