22º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Jr 20,7-9; Sl 62[63]; Rm 12,1-2; Mt 16,21-27)

1. A liturgia da Palavra prolonga o nosso olhar sobre a figura de Pedro, sua resposta e seu seguimento entre altos e baixos que sinalizam a caminhada cristã de um modo geral. Para dar um pouco de plasticidade a esses movimentos de mente e coração, a liturgia nos apresenta o profeta Jeremias e seu drama entre sentir-se apaixonado por Deus e a dificuldade da missão.

2. Jeremias está situado nos anos dramáticos que precedem a destruição de Jerusalém e a deportação para a Babilônia, consequências de um cenário político, social e religioso bastante comprometido. Ele tem que denunciar. É incompreendido e perseguido.  Então parte para o embate com Deus, que o chamou, seduziu. O texto deixa entrever que Deus não o enganou. Não lhe prometeu sucesso. Apenas disse estaria ao seu lado, dentro dele, como uma paixão desmedida que fazia tudo valer a pena.

3. Paulo lembra que o culto cristão, longe daquelas prescrições da antiga lei judaica, é marcado por algo que se estende na prática diária, como um culto espiritual, no oferecimento de si mesmo. Também exige discernimento no que de fato agrada a Deus, para não se deixar levar pelos movimentos de uma sociedade onde todos ‘falam, pensam e agem da mesma maneira’.

4. No evangelho do domingo anterior, Jesus deixava claro que a declaração de Pedro vinha de uma revelação dada pelo Pai e não de uma clara percepção dele de quem era de fato Jesus. Isso fica patente nessa sua tentativa de dissuadir Jesus do caminho da Cruz. Tanto os discípulo quanto o povo conservavam a imagem e a esperança de um Messias glorioso. 

5. Jesus quer evitar que o seu seguimento seja vivido na ilusão de que tudo irá bem. Ele deixa claro que não será bem assim. Jesus é duro com Pedro porque assim como na tentação sofrida ao início do ministério, é a vontade de Deus que está em jogo. 

6. Assim Pedro é colocado novamente como referencial para todo cristão que não compreende ou não aceita certas nuances do cristianismo. Jesus esclarece que seu caminho é vivido numa atitude de entrega de si. Que não pensa tanto em si mesmo, evitando que o egoísmo e a ambição lhe fechem o coração. 

7. Cada um deve tomar a sua própria cruz. Aquela, sob medida, que descobrimos ao longo do caminho. Que cada um compreenda que o sentido da vida está em empregá-la da melhor forma possível, pois assim os frutos virão. Tudo é transitório e frágil, não se prenda demais a ela. Compreenda que o sentido de nossa vida está em Deus, de suas mãos receberemos o verdadeiro resultado ou recompensa do sentido que demos à nossa vida. 


Pe. João Bosco Vieira Leite