(1Rs 19,9.11-16; Sl 26[27]; Mt 5,27-32)
10ª Semana do Tempo Comum.
Acab, o rei fraco, conta a Jezabel, sua
esposa, o ocorrido com os sacerdotes de Baal; ela enfurecida empreende uma
perseguição ao mesmo. O profeta foge e empreende um caminho simbólico de
quarenta dias até o monte Horeb, onde Moisés viveu sua experiência com Deus.
Deus age com benevolência e o assiste em meio a sua depressão, providenciando
pão e água para o caminho (recordemos a experiência do povo de Deus no
deserto). Não é a força da rainha que o afasta, mas a força de Deus que o
atrai. O encontro com Deus hoje descrito é um dos mais belos textos do Antigo
Testamento; o encontro com o passado revisa a ideia de Deus: Elias, o fogoso e
impetuoso, descobre o Senhor numa brisa tênue, num sussurro que mal se ouve.
Elias teve que deixar a cidade, atravessar o deserto, subir à solidão da
montanha; depois teve que descobrir a ausência de Deus nos elementos
barulhentos; finalmente, calado o tumulto interno, a voz cessada traz a
presença que surpreende. Uma experiência digna de atenção...
Jesus fala sobre o adultério, mas
estende a sua reflexão a uma atenção aos sentidos lançando um olhar sobre a
atitude interior, o desejo consentido que induz ao ato. Jesus se opõe ao
divórcio e à sua jurisprudência. “Quando Jesus diz que devemos arrancar o olho
direito, quando este é motivo de tentação, ou que devemos cortar a mão direita,
certamente não está querendo incentivar atos de automutilação, que aliás eram
proibidos entre os judeus, e nesse ponto Jesus certamente pensava como um
judeu. O olho direito é a instância que julga e avalia, que tudo quer possuir e
invadir, que tudo expõe e divulga. A mão direita é aquela que de tudo se
apodera, que quer ‘fazer’ tudo, que acha que pode realizar tudo o que quer
também internamente. Esse lado consciente precisa ser podado para que o lado
esquerdo, o inconsciente, também possa prevalecer. O olho esquerdo é aquele que
ainda consegue pasmar-se, que observa sem julgar, que se funde com o observado.
A mão esquerda é a mão que recebe, que se relaciona. Quem vive de modo
unilateral, apenas a partir do seu lado consciente, abandona-se desde logo no
inferno de suas necessidades e forças inconscientes que dilaceram. Todas as
palavras de Jesus são palavras que nos convidam à vida, procurando
preservar-nos de uma vida unilateral e autodestrutiva” (Anselm Grun,
“Jesus mestre da salvação”).
Pe. João Bosco Vieira Leite