Sexta, 10 de junho de 2016

(1Rs 19,9.11-16; Sl 26[27]; Mt 5,27-32) 
10ª Semana do Tempo Comum.

Acab, o rei fraco, conta a Jezabel, sua esposa, o ocorrido com os sacerdotes de Baal; ela enfurecida empreende uma perseguição ao mesmo. O profeta foge e empreende um caminho simbólico de quarenta dias até o monte Horeb, onde Moisés viveu sua experiência com Deus. Deus age com benevolência e o assiste em meio a sua depressão, providenciando pão e água para o caminho (recordemos a experiência do povo de Deus no deserto). Não é a força da rainha que o afasta, mas a força de Deus que o atrai. O encontro com Deus hoje descrito é um dos mais belos textos do Antigo Testamento; o encontro com o passado revisa a ideia de Deus: Elias, o fogoso e impetuoso, descobre o Senhor numa brisa tênue, num sussurro que mal se ouve. Elias teve que deixar a cidade, atravessar o deserto, subir à solidão da montanha; depois teve que descobrir a ausência de Deus nos elementos barulhentos; finalmente, calado o tumulto interno, a voz cessada traz a presença que surpreende. Uma experiência digna de atenção...

Jesus fala sobre o adultério, mas estende a sua reflexão a uma atenção aos sentidos lançando um olhar sobre a atitude interior, o desejo consentido que induz ao ato. Jesus se opõe ao divórcio e à sua jurisprudência. “Quando Jesus diz que devemos arrancar o olho direito, quando este é motivo de tentação, ou que devemos cortar a mão direita, certamente não está querendo incentivar atos de automutilação, que aliás eram proibidos entre os judeus, e nesse ponto Jesus certamente pensava como um judeu. O olho direito é a instância que julga e avalia, que tudo quer possuir e invadir, que tudo expõe e divulga. A mão direita é aquela que de tudo se apodera, que quer ‘fazer’ tudo, que acha que pode realizar tudo o que quer também internamente. Esse lado consciente precisa ser podado para que o lado esquerdo, o inconsciente, também possa prevalecer. O olho esquerdo é aquele que ainda consegue pasmar-se, que observa sem julgar, que se funde com o observado. A mão esquerda é a mão que recebe, que se relaciona. Quem vive de modo unilateral, apenas a partir do seu lado consciente, abandona-se desde logo no inferno de suas necessidades e forças inconscientes que dilaceram. Todas as palavras de Jesus são palavras que nos convidam à vida, procurando preservar-nos de uma vida unilateral e autodestrutiva”  (Anselm Grun, “Jesus mestre da salvação”).

Pe. João Bosco Vieira Leite