(1Rs 17,17-24; Sl 29[30]; Gl 1,11-19; Lc
7,11-17)
1. A liturgia da
Palavra desse fim de semana nos convida a uma reflexão em torno de algumas
realidades, particularmente da morte. Como encaramos tal realidade? Para
ilustrar nossa reflexão temos o caso da viúva, pagã, que hospedara o profeta
Elias. Eis que seu filho único adoece e morre e ela pensa em seus pecados da
juventude, pela proximidade do profeta, julgando que Deus a está punindo.
2. O profeta nada
responde, mas vai rezar a Deus, pedindo que restitua vida do jovem. Há um rito
estranho, mas Deus atende ao profeta, que é reconhecido por ela como homem de
Deus. Mesmo em nosso tempo há quem pense como essa mulher, a morte é um castigo
de Deus, uma punição pelos pecados, particularmente quando vem em desencontro à
lógica comum que temos sobre a morte.
3. Pensar em Deus
dessa forma é atribuir a Ele a morte dos pequenos e dos jovens como punição dos
adultos. Aquela mulher já havia experimentado a bondade de Deus, como poderia
pensar tal coisa?
4. Paulo segue
alertando a comunidade dos gálatas a respeito do evangelho pregado por ele em
oposição aos tradicionalistas de Jerusalém, que propunham a observâncias das
antigas tradições. Ele mesmo já foi assim, mas descobriu no evangelho um novo
modo de ser e viver a sua relação com Deus. Quem sabe um apelo para que nós
permaneçamos abertos também a esta novidade, renovando a nossas relações com
Deus?
5. O texto do evangelho
casa-se com a 1ª leitura que contempla também uma viúva que vai sepultar seu
filho único. Há um grupo que acompanha Jesus, Senhor da vida, e outro que
acompanha aquela pobre viúva, sob a sombra da morte. O texto permite o encontro
desses dois grupos e nos faz contemplar a transformação dessa segunda
realidade. O que parecia sem sentido é ‘tocado’ e transformado pela presença de
Jesus.
6. A multidão que
afirma que ‘Deus veio visitar o seu povo’ não tem ideia de que não se tratava
de uma mera visita, mas de uma comunhão de vida. Jesus experimentou plenamente
a nossa vida e conheceu o medo que a morte provoca em nós. Quando Ele diz a
mulher ‘não chores’, certamente não desconhecia a dor do seu coração.
7. Ao trazer o garoto
de volta, ele apenas sinalizava para o que Deus reservava como última palavra
para nós: ‘Levanta-te’! A ressurreição como resposta amorosa a inquietação que
nos ronda constantemente. A fé em Cristo faz com que nossos olhos embaçados
espere de Deus uma resposta ao sofrimento. Não ao nosso imediatismo, mas a
certeza serena de que ele nos acompanha ao longo do caminho, e haja o que
houver, ele está conosco.
8. A palavra também
levanta outra questão: que tipo de assistência damos aos que atravessam
situações de desamparo físico ou psíquico? Não é à toa que esta mãe é uma viúva
em Lucas, retrato perfeito do desamparo na época, pois ninguém se preocupava
com sua realidade. A comunidade deve refletir sobre isso.
9. Par dizermos ‘não
chores’, é preciso um pouco mais que a certeza da ressurreição. Como responder
a situações de desamparo e de solidão que atravessam a nossa estrada?
Pe. João Bosco Vieira Leite