11º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(2Sm 12,7-10.13; Sl 31[32]; Lc 7,36—8,3).

1. Mesmo considerando Davi o rei ideal, o autor sagrado não esconde os seus pecados. Um deles é contemplado na 1ª leitura de hoje. Davi apaixona-se pela mulher de um dos seus soldados até envolver-se com ela e uma gravidez inesperada o faz perpetrar um plano que culminará na morte do pobre soldado.

2. Cabe a Natã dar a notícia e sentenciar o que vem pela frente. O autor sagrado faz parecer um castigo divino, mas na realidade trata-se das consequências de um erro. O texto lembra o quanto Deus foi generoso para com ele, mas parece que de sua parte houve certa negligência. Davi toma consciência de seu pecado, arcará com as consequências, mas Deus não o abandonará.

3. Talvez, como Davi, já tenhamos experimentado as consequências de uma escolha; por vezes somos traídos pelo nosso desejo e deixamos entrar em nossa vida certos fantasmas que vez ou outra nos sobressaltam. Mas também como Davi, temos que ter a humildade de reconhecer e de buscar reparar a falta cometida, mas sabendo que a misericórdia de Deus é maior que tudo; que mais que sacrifícios ele espera que nosso coração se volte para Ele, retificando o nosso caminhar. O nosso salmo complementa o texto.

4. Paulo, em sua defesa do evangelho, lembra que aqueles que vivem sob o jugo da antiga lei consideram que a prática das obras determinadas garante a comunhão com Deus. Paulo combate tal ideia do mérito para que se perceba que foi simplesmente por amor, por mera bondade, por graça, que Deus nos salvou.

5. Paulo afirma que a comunicação da bondade divina faz com que sejamos melhores, agindo de modo generoso como reconhecimento de graça de Deus. Os dois textos nos preparam ao evangelho. Esta longa e bela narrativa está carregada de ensinamentos, mas recolhamos os pontos principais para a nossa reflexão.

6. Lucas, como sempre, está jogando com duas figuras antagônicas para nos trazer um ensinamento. Aqui temos o fariseu, um homem justo em suas práticas. Do outro lado essa mulher intrusa, reconhecida como pecadora pública, que tem um gesto inesperado de reconhecimento ao Mestre, certamente pelo seu modo de acolher os pecadores.

7. Lucas enfatiza, no comentário de Jesus, o modo como foi acolhido por ambos. O fariseu não cometeu nenhuma falta, pois limitou-se ao estritamente necessário, ela foi um excesso em agradecimento em seus gestos. Quando nos julgamos justos e dignos, nossa relação com Deus também fica no mínimo necessário, mas se julgamos que recebemos mais que merecemos, aprendemos a ser generosos.

8. Generosidade aqui não se entenda como algo meramente material, mas uma relação que não se deixa mover pelo formalismo, mas vai além em sua expressão. Jesus gostaria de libertar Simão do seu limitado modo de viver sua relação com Deus e com o próximo e compreender que tudo é graça em nossa relação com Ele; Simão deve deixar de ser ansioso e de contabilizar as coisas, busque amar mais e ser feliz. Talvez Lucas esteja contemplando sua comunidade de fé dividida entre os justos e os recém-convertidos. Contemplando a generosidade desses últimos. Ele convida não só ao acolhimento, mas a que se ponha fim a certos julgamentos.

9. Diante de Deus somos todos pecadores e todos atingidos por sua misericórdia, então ajamos como quem foi tocado por essa consciência, capaz de rever a cada dia suas falhas e esforçar-se em ser melhor. Lucas insere ao final do seu texto, o quanto a palavra de Jesus deu nova direção a vida de muitas mulheres e certamente foi criticado por tê-las tão próximas do seu grupo de discípulos. Um trabalho voluntário, um engajamento na comunidade, são formas de responder positivamente ao amor de Deus em minha vida, longe, e muito longe, de acharmo-nos melhores que os outros. 



Pe. João Bosco Vieira Leite