(Jr 33,14-16; Sl 24[25]; 1Ts 3,12—4,2; Lc 21,25-28.34-36)
1.
Nesse primeiro domingo do Advento a liturgia nos traz o texto do Evangelho de
Lucas no qual Jesus, já próximo de sua morte, fala do fim do mundo, do juízo
que se seguirá e do preparar-nos bem para esse grande evento.
2.
Certamente, você, tanto quanto eu, esperaria um Evangelho diferente para
iniciar esse tempo tão curto que precede e prepara para o Natal. Mas penso que
não seja assim tão inadequado introduzir-nos no contexto da preparação
espiritual para o encontro com Jesus Menino, refletir sobre o fim da história
humana.
3.
Celebrar a primeira vinda de Cristo no Natal tem sentido na medida em que nos
ajuda a superar o medo de sua segunda vinda em qualidade de Juiz.
4.
É um convite a voltar-nos sobre nós mesmos e, na espera de participar
plenamente do anúncio de paz que vem da manjedoura de Belém, verificar
seriamente como estamos nos dispondo para o encontro definitivo com o Senhor.
5.
Não tenhamos dúvida que Cristo, além de querer a nossa salvação, se serve de
todos os meios à sua disposição para convertê-la em realidade, em prazeroso
evento. Mas Ele exige também o nosso esforço, a nossa contribuição.
6.
Exige sobretudo que reflitamos de forma sensata sobre as palavras com as quais,
no Evangelho de hoje, nos exorta a viver responsavelmente o tempo
presente: “Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem
insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida, e esse
dia não caia de repente sobre vós. Portanto, ficai atentos e orai a todo
momento” (Lc 21,34.36).
7.
Ouvindo esses apelos e essas advertências, nos sentimos verdadeiramente em
ordem com a nossa consciência? Olhando o passar dos nossos dias e como os
atravessamos ou vivemos, não haveria nada que reprovar ou rever? O nosso
coração é realmente livre diante do brilho do ouro e da irrefreável mania de
possuir sempre alguma coisa mais do que aquilo que já se possui? E diante desse
convite a ser atento, vigilante e orar a todo momento, qual é a nossa posição?
8.
Santo Agostinha advertia: “No dia do juízo não lhe será de nenhum proveito
aquilo que não fizeste em vista do juízo” e mais: “Se vives dormindo, quando
morreres tu despertarás e será para ti desconcertante te encontrares de mãos
vazias”.
9.
Na Carta a Diogneto, de um cristão anônimo do séc. II d.C., faz essa
observação: “Os cristãos vivem na carne, mas não segundo a carne; moram sobre a
terra, mas como cidadãos do céu”. Como responderíamos a essa descrição do nosso
ser cristão?
10.
Essa reflexão ao início de nossa preparação ao Natal não tem por objetivo
provocar agitação ou inquietar-nos, mas colocar-nos atentos a esses
interrogantes que brotam do evangelho, e que nos ajudam a caminhar melhor em
direção àquele que vem.
Pe.
João Bosco Vieira Leite