1º Domingo do Advento Ano C

(Jr 33,14-16; Sl 24[25]; 1Ts 3,12—4,2; Lc 21,25-28.34-36)

1. Nesse primeiro domingo do Advento a liturgia nos traz o texto do Evangelho de Lucas no qual Jesus, já próximo de sua morte, fala do fim do mundo, do juízo que se seguirá e do preparar-nos bem para esse grande evento.

2. Certamente, você, tanto quanto eu, esperaria um Evangelho diferente para iniciar esse tempo tão curto que precede e prepara para o Natal. Mas penso que não seja assim tão inadequado introduzir-nos no contexto da preparação espiritual para o encontro com Jesus Menino, refletir sobre o fim da história humana.

3. Celebrar a primeira vinda de Cristo no Natal tem sentido na medida em que nos ajuda a superar o medo de sua segunda vinda em qualidade de Juiz.

4. É um convite a voltar-nos sobre nós mesmos e, na espera de participar plenamente do anúncio de paz que vem da manjedoura de Belém, verificar seriamente como estamos nos dispondo para o encontro definitivo com o Senhor.

5. Não tenhamos dúvida que Cristo, além de querer a nossa salvação, se serve de todos os meios à sua disposição para convertê-la em realidade, em prazeroso evento.  Mas Ele exige também o nosso esforço, a nossa contribuição.

6. Exige sobretudo que reflitamos de forma sensata sobre as palavras com as quais, no Evangelho de hoje, nos exorta a viver responsavelmente o tempo presente: “Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida, e esse dia não caia de repente sobre vós. Portanto, ficai atentos e orai a todo momento” (Lc 21,34.36).

7. Ouvindo esses apelos e essas advertências, nos sentimos verdadeiramente em ordem com a nossa consciência? Olhando o passar dos nossos dias e como os atravessamos ou vivemos, não haveria nada que reprovar ou rever? O nosso coração é realmente livre diante do brilho do ouro e da irrefreável mania de possuir sempre alguma coisa mais do que aquilo que já se possui? E diante desse convite a ser atento, vigilante e orar a todo momento, qual é a nossa posição?

8. Santo Agostinha advertia: “No dia do juízo não lhe será de nenhum proveito aquilo que não fizeste em vista do juízo” e mais: “Se vives dormindo, quando morreres tu despertarás e será para ti desconcertante te encontrares de mãos vazias”.

9. Na Carta a Diogneto, de um cristão anônimo do séc. II d.C., faz essa observação: “Os cristãos vivem na carne, mas não segundo a carne; moram sobre a terra, mas como cidadãos do céu”. Como responderíamos a essa descrição do nosso ser cristão?

10. Essa reflexão ao início de nossa preparação ao Natal não tem por objetivo provocar agitação ou inquietar-nos, mas colocar-nos atentos a esses interrogantes que brotam do evangelho, e que nos ajudam a caminhar melhor em direção àquele que vem.   

Pe. João Bosco Vieira Leite  

 

Sábado, 30 de novembro de 2024

(Rm 10,9-18; Sl 18[19ª]; Mt 4,18-22) Santo André, apóstolo.

“Jesus disse a eles: ‘Segui-me, e eu farei de vós pescadores de homens’” Mt 4,19.

“A primeira característica que chama a atenção em André é o seu nome: não é judeu, como seria de esperar, mas grego, indício significativo de que a sua família tinha certa abertura cultural. Encontramo-nos na Galileia, onde a língua e a cultura grega são bastantes presentes. Na lista dos Doze, André ocupa o segundo lugar, como em Mateus (10,1-4) e em Lucas (6,13-16), ou então o quarto lugar, como em Marcos (3,13-18) e nos Atos (1,13-14). Seja como for, sem dúvida gozava de certo prestígio dentro das primeiras comunidades cristãs. O laço de sangue entre Pedro e André, bem como o chamado comum que lhe faz Jesus, são assinalados explicitamente nos Evangelhos. Lemos: ‘Sigam-me e eu farei de vocês pescadores de homens’ (Mt 4,18-19; Mc 1,16-17). No quarto Evangelho recolhe-se outro detalhe importante: num primeiro momento, André era discípulo de João Batista; isto nos mostra tratar-se de um homem que buscava, que compartilhava a esperança de Israel, que queria conhecer mais a respeito da palavra do Senhor, a realidade do Senhor presente. Era um homem de fé e de esperança; e um dia ouviu João Batista proclamar Jesus como o ‘Cordeiro de Deus’ (Jo 1,36); então mobilizou-se e, juntamente com o mencionado discípulo, seguiu Jesus, aquele que era chamado por João de ‘Cordeiro de Deus’. O evangelista menciona: ‘eles foram e viram onde Jesus morava. E começaram a viver com ele naquele mesmo dia’ (Jo 1,37-39). André então gozou de preciosos momentos de intimidade com Jesus. O relato prossegue com uma menção significativa: ‘André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram as palavras de João e seguiram Jesus. Ele encontrou primeiro seu próprio irmão Simão, e lhe disse: ‘Nós encontramos o Messias (que quer dizer Cristo)’. Então André apresentou Simão a Jesus’ (Jo 1,40-43), demonstrando um espírito apostólico fora do comum. André foi, portanto o primeiro dos apóstolos chamados a seguir Jesus. Precisamente por esta razão a liturgia da Igreja bizantina o honra com o título de ‘Protóklitos’, que significa justamente ‘o primeiro chamado’. E, por causa da relação fraterna entre Pedro e André, a Igreja de Roma e a Igreja de Constantinopla se sentem irmanadas de uma forma especial. Para estreitar esta relação, meu predecessor, o papa Paulo VI, devolveu em 1964 a notável relíquia de Santo André, até então custodiada basílica vaticana, ao bispo metropolitano ortodoxo da cidade de Patras, na Grécia, onde segundo a tradição o apóstolo foi crucificado” (Bento XVI – Os Apóstolos e os primeiros discípulos de Jesus – Planeta).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Sexta, 29 de novembro de 2024

(Ap 20,1-4.11—21,1-2; Sl 83[84]; Lc 21,29-33) 34ª Semana do Tempo Comum.

“Vós também, quando virdes acontecer essas coisas, ficai sabendo que o Reino de Deus está perto” Lc 21,31.

“As comunidades primitivas viviam preocupadas com o dia do fim do mundo. Jesus, porém, não lhe ofereceu um calendário com indicações precisas, mas exortou-as a estarem constantemente preparados para o encontro com o Senhor. O discípulo deve discernir a História, para poder captar, aí, os sinais da vinda do Filho do Homem. Trata-se de um expediente possível. Assim como o agricultor detecta a proximidade do verão, quando as árvores começam a frutificar, também o discípulo perceberá a aproximação do Reino, observando os sinais históricos indicados por Jesus. Por outro lado, o discípulo está absolutamente certo de que a humanidade caminha para o encontro com o Senhor, pois nisso está empenhada sua palavra que jamais passará, ou seja, não ficará sem se cumprir. Encarando o futuro com confiança, o discípulo não tem por que ter medo do presente, nem se acomodar. A exortação de Jesus supunha uma espera ativa, já que não queria encontrar os discípulos na ociosidade. A comunidade cristã, por sua vez, não deveria fechar-se em si mesma, formando um gueto de fanáticos destacados do mundo. A espera cristã dar-se-ia na vivência empenhada da missão e no esforço de preparar toda a humanidade para o encontro com o Senhor. Será conhecido por ele quem luta para transformar o mundo pelo amor, e não quem se fecha egoisticamente em si mesmo” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quinta, 28 de novembro de 2024

(Ap 14,1-5; Sl 23[24]; Lc 21,1-4) 34ª Semana do Tempo Comum.

“Então eles verão o Filho do Homem vindo numa nuvem com grande poder e glória” Lc 21,27.

“Continua o ambiente litúrgico como elementos que se referem ao final dos tempos e às suas mais diversas manifestações; chama a atenção a insistência da liturgia desses dias na ideia do fim do mundo e das calamidades que o deverão preceder. Hoje torna-se Jerusalém, pisoteada por seus inimigos, cercada pelos exércitos adversários, como sinal do que haverá de suceder no final dos tempos. Jerusalém sucumbe como consequência do seu pecado. A destruição, como todas as catástrofes históricas, além de ser um acontecimento social e político, é um acontecimento religioso. A cidade santa sucumbe vítima do seu pecado, por ter rejeitado a salvação, que em Jesus lhe era oferecida... Diante da vinda do Filho do Homem, que se tornará patente, clara como a luz do meio-dia, o pânico será a atitude do incrédulo, o gáudio será a herança do crente. Para o que crê é a salvação que se aproxima; a esperança é já palpável. O crente irá com a cabeça erguida, com o coração transbordante de alegria, ao encontro de seu Senhor a quem amou, por quem viveu, em quem acreditou, por quem ansiosamente esteve esperando durante toda a sua vida. Embora a vida terrena de Jesus tenha sido uma vida cheia de sofrimentos, humilhações e perseguições, não foi isso o definitivo; agora triunfa glorioso nos céus, ao lado do Pai. Entretanto, virá o dia universal, no qual Jesus voltará glorioso e triunfante de todos os inimigos e virá para humilhação e castigo desses mesmos inimigos e para consolo e alegria de seus fiéis discípulos. Porque Jesus, por sua Morte e Ressurreição, triunfou da morte e do pecado da injustiça e da tirania, e triunfou para si e para seus discípulos. Eles o imitaram durante a vida, nos sofrimentos, nas humilhações e perseguições, na dor e na cruz; é justo que depois o imitem também na ressurreição, na glória, no triunfo e na vitória” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quarta, 27 de novembro de 2024

(Ap 15,1-4; Sl 97[98]; Lc 21,12-19) 34ª Semana do Tempo Comum.

“Quem não temeria, Senhor, e não glorificaria o teu nome? Só tu és santo! Todas as nações virão prostar-se diante de ti, porque tuas justas decisões se tornaram manifestas” Ap 4,4.

“Esta seção do Livro do Apocalipse evoca a visão de João arrebatado ao Céu. Através da abertura de uma porta, é-lhe facultado aproximar-se do mundo celeste (vv. 1-2a). A visão de um trono condu-lo à contemplação de Deus (vv. 2b-3); ao redor do trono vê depois outras figuras simbólicas: os vinte e quatro Anciãos, as sete lâmpadas de fogo e quatro Seres Vivos (vv. 4-10). Uma doxologia conclui o texto (v. 11). [Compreender a Palavra:] Neste trecho é evocada uma grande liturgia celeste, rica de elementos e figuras simbólicas. O trono indica o domínio exercido por Deus, contemplado sob o aspecto de uma pedra preciosa resplandecente, enquanto um arco-íris o circunda. A corte celeste é constituída por figuras angélicas, cujo simbolismo tem sido interpretado de diversas maneiras. Os ‘vinte e quatro Anciãos’ são provavelmente o Povo de Deus, na sua realidade do Antigo Testamento (as doze tribos de Israel) e de Novo Testamento (os doze Apóstolos). Para alguns intérpretes, pelo contrário, seriam as vinte e quatro classes sacerdotais do tempo de Davi (cf. 1Cr 24,4). Os quatro Seres Vivos (cf. Ez 1,5-12; Is 6,2) estão colocados junto de Deus, na transcendência divina. As feições dos seus rostos, tal como seu número (quatro, para indicar os quatro pontos cardeais) exprimem significados particulares: o leão indica a força; o touro, a fecundidade; o homem, o relacionamento com os homens; a águia, a mediação com Deus. O cântico que os quatro Seres Vivos elevam a Deus, três vezes Santo, é acompanhado pela doxologia ou celebração dos vinte e quatro Anciãos perante o Senhor, criador de todas as coisas” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Vol. 2] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 26 de novembro de 2024

(Ap 14,14-19; Sl 95[96]; Lc 21,5-11) 34ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus respondeu: ‘Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo:

‘Sou eu!’ E ainda: ‘O tempo está próximo!” Lc 21,8.

“Está chegando ao fim o ciclo litúrgico deste ano. Passados os poucos dias desta semana, já principia um novo ano litúrgico com o tempo do Advento, preparatório para a comemoração do Natal de Jesus, o Salvador. A liturgia desses últimos dias do ciclo litúrgico nos traz repetidas vezes o pensamento do fim do mundo, do juízo final dos homens e do universo inteiro. Nesse momento do fim do mundo, acontecerão algumas coisas que Jesus nos recorda e pede aos cristãos que as considerem: primeiramente, Jesus admoesta seus discípulos a respeito de sua volta, a parusia ou segunda e última vinda para julgar o homem e o mundo; tudo que é humano, mesmo os frutos do fervor religioso, como o templo, é precário; tudo perecerá; as guerras, as catástrofes são herança da condição humana; não devem ser tomadas como presságios de que o fim do mundo está próximo, embora recordem constantemente ao homem a condição precária em que se encontra; tudo isso é dirigido para a urgência da conversão e inspira no homem a ânsia pela transformação da triste condição, na qual transcorre sua existência; não se deve seguir os falsos profetas que, em tudo, veem sinais do fim do mundo. O aviso de Jesus vale para todos os tempos: ‘Vede que não sejais enganados (...) não sigais após eles’ (v. 8). Em nossos dias, também nos encontramos diante de falsos profetas, falsas revelações, aparições e locuções. Diante dos que pretendem uma pureza doutrinal estrita, mas que não submetem ao magistério da Igreja. Frente aos que pretendem que a Igreja já não é a Igreja de Cristo, porque deixou de ser o que era, conforme entendem eles. Não nos deixemos enganar por essas aparências de uma fidelidade ortodoxa ou de uma piedade personalista, de um cristianismo sem renúncias e sem sacrifício, de uma fé não fundamentada na pedra secular de Pedro. Sigamos em tudo, fielmente, a doutrina da Igreja expressa nos documentos do magistério ordinário e extraordinário; assim, e somente assim, poderemos estar seguros de nossa fé, de que seguimos pelo verdadeiro caminho, de que estamos na verdadeira fé dos apóstolos e a professamos, em suma, de que estamos com Jesus Cristo e que por Jesus alcançaremos, finalmente, nossa salvação eterna” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Segunda, 25 de novembro de 2024

(Ap 14,1-5; Sl 23[24]; Lc 21,1-4) 34ª Semana do Tempo Comum.

“Viu também uma pobre viúva que depositou duas pequenas moedas” Lc 21,2.

“É inútil querer fazer bela figura diante de Deus, pensando que ele se deixa impressionar pelas grandezas humanas. O Reino de Deus subverte as categorias humanas. Assim, o que é grande aos olhos humanos, é desprezível para Deus. E vice-versa: o que o mundo desvaloriza, encontra valor aos olhos de Deus. Quando os ricos colocavam no cofre do templo generosas ofertas, acreditavam estar fazendo um gesto altamente louvado por Deus, e com isso, crescendo em mérito diante dele. A atitude deles humilhava a quem pouco possuía para oferecer e causava inveja e espírito de competição. Era uma exibição de generosidade, com um detalhe: davam do seu supérfluo e não teriam de sofrer na pele os efeitos de sua esmola. Em contraposição, as duas moedinhas lançadas pela pobre viúva tinham um valor inestimável para Deus. Oferecendo aquilo que lhe restava para viver, a mulher colocava-se toda nas mãos do Pai e fazia a sua vida despender totalmente dele. Ela se recusava buscar segurança nos bens materiais, nem acreditava que o acúmulo de bens, qualquer que fosse, pudesse trazer-lhe alegria e felicidade. Reconhecia que tudo, em sua vida, era dom de Deus. Por isso, com toda liberdade e sem a ânsia de possuir, foi capaz de arriscar tudo. Esta é a oferta que tem valor diante de Deus. – Senhor Jesus, liberta meu coração da ânsia de possuir e acumular. Faze-me, antes, compartilhar, com toda a liberdade, todos os meus bens” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Cristo, Rei do Universo – Ano B

 

(Dn 7,13-14; Sl 92[93; Ap 1,5-8; Jo 18,33-37)*

1. No Evangelho, Pilatos pergunta a Jesus: “Tu és o rei dos judeus?” E Jesus responde: “Tu o dizes: eu sou Rei”. Um pouco antes, Caifás havia dirigido a mesma pergunta a Jesus, mas de outra forma, e Ele respondeu fazendo referência a esta imagem que está na 1ª leitura: “O Filho do Homem”, que Jesus tomou para si por várias vezes.

2. Com essas duas imagens Jesus traz luz à nossa compreensão do mistério da Encarnação. O seu ser dentro da história e para além dela, temporal e eterno. Esses dois títulos, rei e filho do homem, são apenas dois de tantos outros com que a Bíblia nos fala, direta e indiretamente, de Cristo, soberano sobre a história.

3. Há um canto inglês, que visita os 73 livros da Bíblia e de cada um, retira um elemento que faz referência principalmente a Cristo. No Gn é o cordeiro do sacrifício de Abraão. No Ex é o cordeiro pascal; no Lv é o nosso sumo sacerdote, no Nm é a nuvem do dia e a coluna de fogo da noite... E por aí vai.

4. Jesus não se restringe a um pequeno aspecto da história, mas a enche toda: presente no AT como profecia, no NT como encarnado, no tempo da Igreja como anunciado. O fato de dividir a história do mundo em duas partes, antes e depois de Cristo – exprime essa convicção.

5. Mas ao lado dessas duas imagens gloriosas de Cristo em nossa liturgia de hoje, encontramos também um aceno, na 2ª leitura, do Cristo humilde e sofredor. Uma afirmação que evoca tantas palavras e imagens do Evangelho:

6. O Bom Pastor que dá a vida por suas ovelhas; o Jesus “manso e humilde de coração”; o Jesus que na última Ceia disse a seus discípulos: “Não vos chamo servos, mas amigos”; o Jesus, sobretudo, que ao fim se encaminha silencioso para a morte para nos salvar.

7. Por vezes nos é difícil manter unida essas duas prerrogativas de Cristo, derivadas da sua natureza, divina e humana: aquela da majestade e aquela da humildade. Com facilidade reconhecemos a Cristo como amigo e irmão universal, mas nos é difícil proclamá-lo como Senhor e reconhecer seu real poder sobre nós.

8. O próprio cinema, em seus filmes sobre Jesus, tem essa dificuldade. De um modo geral, optaram por um Jesus manso, perseguido, incompreendido, muito próximo do ser humano a ponto de partilhar suas lutas, rebeliões, e o seu desejo de uma vida normal.

9. Não se trata de desclassificar essas tentativas de repropor em termos acessíveis e populares a história de Jesus. Nem mesmo Jesus se ofendia se as pessoas o tinham como apenas um profeta...

10. A Igreja nos apresenta novamente, nesse domingo, aquele que devemos levar sempre conosco, e que nos leva com Ele, de modo completo: humaníssimo e transcendente.

11. Em Paris se conserva, sob especial custódia, a barra que serve para estabelecer o cumprimento da medida do metro, para que esta unidade de medida, introduzida na revolução francesa, não venha alterada com o passar do tempo.

12. Do mesmo modo, a Igreja custodia a verdadeira imagem de Jesus de Nazaré que deve servir de critério para medir a legitimidade de cada representação Sua, seja na literatura, no cinema e na arte. Não é uma imagem fixa e inerte, como a medida do metro, porque se trata de um Cristo vivente que cresce também na compreensão da própria Igreja, em meio as perguntas e provocações sempre novas da cultura e do progresso humano.

13. O salto de qualidade na fé se dá quando se aceita, alegremente a Cristo em sua vida não só como irmão e amigo, mas também como Rei, Senhor e Salvador pessoal. Isto é, não só como homem, mas também como Deus.

14. E no mais, a que nos serviria um Cristo só humilde e perseguido como nós, se não fosse também suficientemente poderoso para salvar e mudar a nossa situação de opressão, e de desejo e de pecado?

15. Aquele que um dia virá glorioso sobre as nuvens do céu, nos vem agora pelas páginas do Evangelho e virá daqui a pouco, manso e humilde, nos sinais do pão e do vinho. Acolhamos a cada uma de suas vindas dizendo também como as crianças em sua entrada triunfal em Jerusalém: “Bendito aquele que vem em nome do Senhor!”    

* Reflexão com base em texto de Raniero Catalamessa.  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 23 de novembro de 2024

(Ap 1,4-12; Sl 143[144]; Lc 20,27-40) 33ª Semana do Tempo Comum.

“Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos, pois todos vivem para ele” Lc 20,38.

“O tema da ressurreição opunha os fariseus aos saduceus. Os primeiros afirmavam que haveria ressurreição, enquanto que os outros a negavam. Quando os saduceus interrogaram Jesus a respeito desta questão, tinham em mente colocá-lo em apuros, além de ridicularizar o partido rival. Por isso, bolaram uma situação grotesca, partindo da Lei do levirato que obrigava o irmão a desposar a cunhada viúva, caso não tivesse gerado filhos com seu marido. Jesus não caiu na armadilha dos saduceus. O fato aludido comportava duas sérias lacunas. A primeira consistia em imaginar que a vida eterna seria uma continuação pura e simples da vida terrena, de forma que, na ressurreição, persistiriam as encrencas da vida presente. A vida eterna, na verdade, consiste na participação da vida divina, longe da ameaça da morte. Aí, os esquemas terrenos não têm validade. O segundo pressuposto falso consistia em considerar Deus como Senhor dos mortos e não como Senhor dos vivos. Na verdade, para ele, todos estão vivos, até mesmo os patriarcas do povo. Ele se mantém em comunhão com os justos, mesmo além da morte, quando são estabelecidos relacionamentos duradouros, numa explosão de vida, sem a menor influência da morte. Por conseguinte, a ressurreição deve ser pensada a partir do amor misericordioso de Deus, que partilha vida abundante com a humanidade, e não a partir dos esquemas mesquinhos do pecado e da morte. – Senhor Jesus, ilumina minha mente e meu coração, para que eu possa compreender a ressurreição como manifestação do amor misericordioso do Pai pela humanidade (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Sexta, 22 de novembro de 2024

(Ap 10,8-11; Sl 118[119]; Lc 19,45-48) 33ª Semana do Tempo Comum.

“Mas não sabiam o que fazer, porque o povo todo ficava fascinado quando ouvia Jesus falar” Lc 19,48.

“Jesus Cristo dedicou-se a ensinar ao povo a nova doutrina evangélica e, por isso, aproveitava todas as oportunidades e falava, embora o que dizia exacerbasse os ânimos adversários. Todo cristão deve tomar-se de admiração quando Jesus fala; as palavras do Mestre devem ser para ele o alimento mais nutritivo, a força mais eficiente, a luz mais brilhante. Suas palavras encontram-se escrita nos santos evangelhos; daí que para os cristãos não deve haver livro mais lido, mais conhecido, mais bem meditado, para chegar a ser o livro mais vivido. Seja o santo evangelho o livro de cabeceira, que não deve ser lido de modo mecânico, ou por simples costume. Você deve ir ao evangelho como à fonte da saúde e da vida, na qual você beba as águas cristalinas da verdade, e como à fornalha onde sempre encontrará aceso, em sua maior intensidade, o fogo do amor de Deus e do próximo. As palavras de Jesus também costumam chegar a você nas homilias do sacrifício eucarístico e em outras proclamações da palavra de Deus, por ocasião da administração de algum sacramento ou sacramental, bem como nas diversas reuniões da comunidade eclesial. Em todas essas oportunidades, deve você escutar a palavra de Deus não com disposições meramente humanas, mas com autêntico espírito de fé, não olhando tanto para o sacerdote ou profeta que transmite a mensagem, e sim para aquele Senhor em cujo nome fala o profeta e cuja mensagem é transmitida a você” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 21 de novembro de 2024

(Zc 2,14-17; Sl Lc 01; Mt 12,46-50) Apresentação da Bem-aventurada Virgem Maria.

“Alguém disse a Jesus: ‘Olha! Tua mãe e teus irmãos estão aí fora e querem falar contigo’” Mt 12,47.

“A festa de hoje nos leva a refletir sobre o dom de nosso ser a Deus que devemos fazer por causa do nosso batismo. Amar e, portanto, servir a Deus com todas as forças é um empenho de que nenhum batizado pode se eximir, se não quiser tornar vã a graça recebida. Todavia, criaturas há chamadas a se darem a Deus de modo mais exclusivo e direto ‘para poder recolher mais copioso o fruto da graça batismal’ e ‘serem por novo e especial título destinada ao serviço e à honra de Deus’ (LG 44). São os vocacionados ao estado religioso, ou à consagração a Deus no mundo, e sob certo aspecto também os chamados ao sacerdócio. Para todos esses adquire o exemplo de Maria importância toda particular. Convida-os Nossa Senhora a seguirem-na pelo caminho de total generosidade, de entrega, de consagração virginal ‘a Deus sumamente amado’ (ibidem).  A resposta A vocação exige, como ponto de partida o desapego de si e de tantas coisas caras. Muitas vezes é necessário deixar parentes e amigos, casa e pátria, hábitos e comodidades. Passo muito árduo, mas não é tudo. Mais ainda que o desapego material, é necessário o do coração. Desapego, sim, dos outros, mas sobretudo de si mesmo. Desapego da própria vontade, dos interesses próprios, para se entregar plenamente a Deus, disponível a seus quereres, ao serviço e ao serviço do próximo. Sem tal desapego, é impossível o dom total de si. Quem se pertence, é apegado a si e às próprias coisas, incapaz de se abandonar, de se dar totalmente. A oferta de si mesmo será parcial, submetida a interesses pessoais e, portanto, sempre exposta à infidelidade, a naufragar na mediocridade, a retomar aquele pouco que deu. A Virgem Imaculada não necessitou de esforço e de luta para dar-se totalmente a Deus. Nós, ao contrário, devemos lutar contra as resistências do egoísmo e de todas as outras paixões. É bom sabe-lo, para não nos iludirmos pensando ser suficiente dar-nos a Deus uma vez por todas. Há de ser nosso dom, vivido hora por hora e com generosidade sempre crescente. Se isto requer contínuo domínio de nós mesmos, não estamos sozinhos no combate. Maria está sempre pronta sustenta-nos. Ela que encontrou graça junto do Altíssimo, serve-se de tal privilégio para obter graças aos que a invocam” (Gabriel de Sta. Maria Madalena, OCD – Intimidade Divina – Loyola)

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 20 de novembro de 2024

(Ap 4,1-11; Sl 150; Lc 19,11-28) 33ª Semana do Tempo Comum.

“Chamou então dez dos seus empregados, entregou cem moedas de prata a cada um e disse:

‘Procurai negociar até que eu volte’” Lc 19,13.

“O discípulo do Reino deve manter viva a consciência de que, um dia, será chamado para prestar contas ao Senhor. Cada um prestará conta dos dons e talentos recebidos, que deveriam ter sido postos para frutificar, através da vivência do amor misericordioso, em relação ao próximo. Ninguém escolhe os dons que recebeu. Eles são fruto da benevolência divina. É como o nobre da parábola evangélica que escolheu dez de seus empregados e, sem que estes tivessem pedido ou querido, pôs-lhes nas mãos sua riqueza para que a multiplicassem, enquanto ele fazia uma longa viagem ao exterior. O nobre era um indivíduo odiado e rejeitado. É possível imaginar o sentimento de responsabilidade que se apoderou dos que receberam as moedas de ouro para fazê-las frutificar. Era necessário agir com prudência e rapidez. O tempo urgia. Todavia, houve um que, imaginando a severidade de seu patrão, ficou bloqueado e não fez o dinheiro render. Como a ordem era bem clara, não seria possível justificar a atitude de quem não se preparou para o acerto de contas com o Senhor. A sorte do discípulo preguiçoso e infiel é fácil de ser deduzida. Não se conquista a salvação de braços cruzados. Ela supõe empenho fundado num relacionamento de amor com Jesus, cujo projeto deve ser assumido e levado adiante, com serenidade e criatividade. Em hipótese alguma, o discípulo pode deixar-se influenciar pelo medo. – Senhor Jesus, ajuda-me a colocar os dons recebidos a serviço dos irmãos, de modo a fazê-los multiplicar mais e mais (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 19 de novembro de 2024

(Ap 3,1-6.14-22; Sl 14[15]; Lc 19,1-10) 33ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus tinha entrado em Jericó e estava atravessando a cidade” Lc 19,1.

“É interessante como Lucas usa aqui grande número de verbos que indicam alguma atividade. Jesus entra na cidade e passa por ela. Zaqueu corre na frente da multidão. Naturalmente, ele não conseguiria atravessar a multidão. Ele trepa num sicômoro, para que possa ver Jesus. Jesus olha para cima. Até agora todo mundo olhara para baixo, para ver Zaqueu; ou passara por ele sem vê-lo. Levantando o rosto para vê-lo, Jesus o prestigia. ‘Pela primeira vez, Zaqueu se sente valorizado como homem’ (Huizing, p. 237). No ambiente helenístico, ‘anablepo’ significava olhar para cima, para o céu, ou para as ideias imateriais. Jesus olha para cima para ver um homem. Neste homem ele vê o céu. Olha para ele como se fosse o rosto de Deus. Isso cria um novo Zaqueu. Ele muda de feição. No semblante de Jesus ele descobre seu próprio rosto. E esse rosto se enche de alegria. Jesus o chama pelo nome. Rapidinho Zaqueu desce da árvore. Ele, o baixinho, que queria subir demais, e exatamente por isso se excedeu, agora desce. Ele fica humilde, ‘humilis’, familiar com a terra. Lá embaixo, no chão, acontece o milagre da transformação. É pelo nome Jesus, querendo fazer festa com ele, comer e beber com ele, que o homem Zaqueu é transformado. Neste homem, Jesus, Zaqueu experimenta a divina salvação. Essa experiência lhe muda o rumo. Jesus não prega a conversão, mas deixa Zaqueu experienciar o seu amor, que o aceita incondicionalmente. Mas a experiência desse amor leva o chefe dos publicanos à conversão. Agora ele quer dar metade de suas posses aos pobres, e restituir o quádruplo se prejudicou alguém. Já que se sabe aceito, já que pôde sentir sua própria dignidade, ele não precisa mais do mecanismo do auto destaque e de nadar em dinheiro. Agora ele está livre para dar aquilo a que se agarrava. A conversão nasceu da experiência da atenção, e da alegria que agora brilha no seu rosto. Quem lê essa história ganha um rosto novo, como Zaqueu. Alegra-se porque hoje Jesus levanta os olhos para ele e o chama pelo nome. Seus olhos, que até agora só olharam para sua própria pessoa, abrem-se, e ele vê os outros como são. Observa-os e torna-se seu irmão, sua irmã. Não houve uma exortação para se converter; a conversão aconteceu ao se ler essa maravilhosa história. É a teologia gentil de Lucas. Lucas não precisa humilhar as pessoas, lembrando-lhes constantemente sua pecaminosidade. Ele conta sobre Jesus, amigo de todos, que aborda as pessoas de tal maneira que mudam de rumo alegremente, descobrindo assim também seu próprio humanismo, a sua própria humanidade, o seu ‘ser amigo de todos’” (Anselm Grüm – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 18 de novembro de 2024

(Ap 1,1-4; 2,1-5; Sl 01; Lc 18,35-43) 33ª Semana do Tempo Comum.

“’O que queres que eu faço por ti?’ O cego respondeu: ‘Senhor, eu quero enxergar de novo’” Lc 18,41.

“Você não deve ter vergonha de julgar-se cego ou cega, se não com cegueira física, ao menos com cegueira espiritual. Cego espiritualmente é todo aquele que tem o coração apegado a um afeto desordenado, que lhe impede ver as coisas de Deus. O cego demonstrou ser um homem sábio e prudente: não pediu riquezas, nem honras, nem bens terrenos; pediu simplesmente a luz para os olhos. Em suas preces ao céu, ainda que possa pedir as coisas da terra, peça antes de tudo a luz para seu entendimento, que com verdadeira sabedoria o/a oriente em sua vida, e a luz para seu espírito, isto é, a luz da fé com a qual tudo fica iluminado, com claridade especial. Já sabe você como deve orar, para que sua oração seja eficaz e chegue ao coração de Deus. A eficácia da oração não depende das muitas palavras que empregamos, mas do espírito de fé e de humildade com que nos apresentamos a Deus” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

33º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(Dn 12,1-3; Sl 15[16]; Hb 10,11-14.18; Mc 13,24-32) *

1. Neste penúltimo domingo do ano litúrgico, escutamos esse texto clássico sobre o fim do mundo. Em cada época tem sempre alguém a usar este texto de maneira ameaçadora alimentando psicoses e angústias. Mas o próprio Evangelho nos aconselha, ao seu final, a não nos perturbarmos com estas previsões de catástrofes.

2. Se nem mesmo Jesus sabe, enquanto homem, o dia e a hora do fim, como dar ouvido a esses adeptos de seitas ou fanáticos religiosos? A única coisa que Jesus nos assegura é que Ele um dia reunirá seus eleitos dos quatro cantos da terra. Para descrever tal momento, se serve de linguagem figurada, própria desse gênero literário.

3. Quando falamos do fim do mundo, com base na ideia que temos hoje de tempo, pensamos no fim do mundo de modo absoluto, depois do qual só haverá a eternidade (ou o nada, segundo a crença de alguns). A Bíblia raciocina com categorias relativas e históricas, mais que absolutas e metafísicas.

4. Quando ela fala do fim do mundo, entende, frequentemente, o mundo concreto. O que de fato existe e é conhecido por um certo grupo de pessoas: o mundo deles. Se trata, enfim, mais do fim de um mundo que o fim do mundo, ainda que as duas perspectivas muitas vezes se entrelacem.

5. Prova disso é que Jesus fala no Evangelho que ‘esta geração não passará até que tudo isso aconteça’. De fato, aquele mundo judaico conhecido por aqueles que o escutavam, passou tragicamente com a destruição de Jerusalém em 70 d.C.

6. Isto não diminui, mas acrescenta seriedade ao empenho cristão. Seria uma estupidez consolar-nos dizendo que, já que ninguém conhece quando será o fim, esquecer-nos que esse pode ser para mim essa noite mesmo. O versículo seguinte desse evangelho convida à vigilância (Mc 13,33).

7. A vinda do Senhor, é para nós uma feliz esperança, não uma ameaça, como poderia parecer. E isso depende da imagem que temos de Deus. Alguns discursos sobre o fim do mundo têm sobre alguns um efeito devastador, pois reforça a ideia de um Deus continuamente zangado, pronto a dar vazão a sua ira sobre o mundo.

8. Este não é o Deus da Bíblia, nos lembra o nosso salmo. Deus é também justo e santo. É indulgente, é favorável. Apresentá-lo como um patrão inflexível e exigente seria a maior injustiça.

9. Um monge inglês, Ian Petit, antes de morrer, escreveu um livro com o título: “Deus não está zangado”. Neste descreve como, depois de ter sofrido um longo tempo com a ideia de um Deus severo, exigente e um pouco ameaçador da sua infância, havia chegado à descoberta libertadora que dá título ao seu livro.

10. O anúncio do retorno de Cristo não tem como fim despertar angústia e medo em quem busca viver retamente, mas o contrário: confiança e esperança. Os primeiros cristãos haviam assimilado bem essa ideia e repetiam constantemente em suas assembleias: Maranathá! Vem Senhor, como fazemos ainda hoje.

11. Jesus nos diz: “Céus e terra passarão, mas minhas palavras não passarão”. Alguns colocam em dúvida essa palavra. Se há aqueles que anunciam o fim do mundo, também há os que anunciam o fim da religião, superadas pela ciência e pela técnica.

12. A ciência e a técnica já existem há tempo e seguem aceleradas e, no entanto, muitos desses cientistas se mostram abertos e desejosos de um diálogo com a religião, pois sentem-se incapazes de sozinhos, explicarem os mistérios do Universo. Tudo depende de onde buscamos ver ou ler esses sinais do fim.

13. A coisa mais sábia que o mundo e a religião podem fazer não é anunciar o fim iminente de um ou de outra, mas adaptar-se a conviver juntos, e dar-se, se possível, uma mão para tornar menos denso o mistério da vida e da morte aqui em baixo.   

* Reflexão com base em texto de Raniero Catalamessa.  

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Sábado, 16 de novembro de 2024

(2Jo 5-8; Sl 11[112]; Lc 18,1-8) 32ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus contou os discípulos uma parábola, para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre

e nunca desistir...” Lc 18,1.

“Esta oração se faz quando, tendo rezado o ofício das Horas, recolhe-se da oração e da leitura espiritual o fruto de alguma verdade ou sentença, que se medita, se conserva no coração, traz-se na memória espontaneamente, de instante a instante, mantendo-se a alma o mais possível em uma dependência absoluta de Deus, expondo à sua divina Majestade as necessidades de que padece, isto é: colocando-se diante dele sem lhe falar nada. Então, à maneira da terra seca e rachada que dá a entender que pede a chuva, expondo ao céu sua secura e aridez, assim também a alma expõe suas necessidades a Deus. É preciso orar sempre e orar sem desfalecer; a oração é a resposta adequada ao dom gratuito da graça e o meio para participar do Reino. Aquele que reza com humildade recebe como presente uma justiça que ninguém pode merecer. Ao juiz ímpio da parábola, exposta por Jesus, que atua não por amor à justiça, não movido por sentimento de caridade, mas somente por comodidade e egoísmo, para livrar-se da importunação da viúva, que persistia na apresentação de sua queixa, contrapõe-se a atitude de Deus, que escuta as súplicas dos homens por amor a eles. Daí a argumentação de Jesus: se, por egoísmo, os homens fazem justiça e ainda concedem favores, muito mais Deus fará justiça e atenderá favoravelmente a nossos pedidos. Poucas recomendações são tão insistentemente repetidas como a necessidade de oração. ‘Orai sem cessar’, exorta-nos São Paulo, em 1Tessalonicenses 5,17. Esse breve conselho de orar constantemente teve imensa influência na espiritualidade cristã. ‘Sede (...) perseverantes na oração’ (Romanos 12,12). ‘Intensificai as vossas invocações e súplicas. Orai em todas as circunstâncias pelo Espírito, no qual perseverai em intensas vigílias de súplica por todos os cristãos’ (Efésios 6,18). E o próprio Lucas, no seu Evangelho, recorda-nos as palavras claras e insinuantes de Jesus, quando nos adverte: ‘Vigiais, pois, em todo tempo, e orai a fim de que vos torneis dignos de escapar de todos estes males que há de acontecer, e de vos apresentar de pé diante do Filho do Homem’ (Lucas 21,36)” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 15 de novembro de 2024

(2Jo 4-9; Sl 118[119]; Lc 17,26-37) 32ª Semana do Tempo Comum.

“O mesmo vos acontecerá no dia em que o Filho do Homem for revelado” Lc 17,30.

“Muitos cristãos da comunidade primitiva, não vendo realizar-se sua esperança do fim do mundo, corriam o risco de levar uma vida acomodada e monótona, como se tivessem perdido o sentido de viver. Foi necessário chamar-lhes a atenção para o risco desta atitude inconsiderada e pessimista. O alerta visava não deixá-los esmorecer na caridade, e manter assim, viva a chama da esperança. Os discípulos de Jesus não deveriam ser tomados de surpresa, como havia acontecido com o povo por ocasião do dilúvio. Sua vida despreocupada, centrada nos prazeres, dispensava Deus e seus apelos de conversão. Esse povo preferiu levar uma vida de impiedade, indo do pecado em pecado, como se o seu futuro já estivesse garantido. Bem outra foi a situação do justo Noé, temente a Deus e submisso à sua vontade. Ele foi salvo por não ter se deixado corromper pelo pecado que grassava na sociedade, mantendo-se fiel a Deus e não se desviando pelo caminho do mal. O cristão, realmente preocupado com a volta do Senhor, não se acomoda. Embora veja a fé de muita gente arrefecer, persevera na prática do amor e da misericórdia. É a forma de conservar sua vida, como Jesus recomendou. – Senhor Jesus, que eu não caia num estilo de vida acomodado, esquecendo-me de que é pela prática do amor e da misericórdia, que eu me preparo para o encontro contigo (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 14 de novembro de 2024

(Fm 7-10; Sl 145[146]; Lc 17,20-25) 32ª Semana do Tempo Comum.

“... já não como escravo, mas, muito mais do que isso, como um irmão querido, muitíssimo querido para mim quanto mais ele for para ti, tanto como pessoa humana quanto como irmão no Senhor” Fm 16

“A Carta a Filemon, juntamente com as Cartas aos Filipenses, aos Colossenses e aos Efésios, pertence ao grupo de escritos do epistolário paulino chamados ‘Cartas da prisão’. De fato, também a Carta a Filemon foi escrita por Paulo, enquanto se encontrava na prisão (cf. vv. 9,10,13), porventura em Roma, ou, segundo alguns, em Éfeso, pelos anos 56-57 d.C. Distingue-se, porém, das outras porque é endereçada a uma pessoa particular, Filemon, definido pelo Apóstolo no começo da Carta, como seu ‘colaborador’. Pela sua brevidade e pelo tom familiar e confidencial, mais que uma epístola, a Carta a Filemon é um bilhete de acompanhamento de um pedido, que Paulo diz ter escrito pessoalmente (v.19). É escrito segundo o estilo próprio da epistolografia grega, com um prólogo (vv. 1-7), um corpo central (vv. 8-20), e um epílogo (vv. 21-25). Na qual é a parte central do bilhete, Paulo dirige a Filemon um pedido seu em favor do escravo Onésimo. [Compreender a Palavra:] Pelas notícias fornecidas pela Carta podemos reconstruir a história deste modo: Paulo, durante a sua prisão acolheu Onésimo, escravo de Filemon, já convertido ao Evangelho. Durante a sua estada junto a Paulo, também Onésimo se converteu tornando-se, diz o autor da Carta, ‘meu filho que eu gerei na prisão’ (v. 10). Paulo decide, no entanto, reenviar Onésimo ao seu dono, mas com este bilhete, onde lhe pede que o receba ‘como irmão muito querido, também aos olhos do Senhor’ (v. 16). O pedido está de acordo com o pensamento do Apóstolo, expresso quer em Gl 3,28 segundo o qual, em Cristo, não há judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher; quer em 1Cor 7,20-24, onde os escravos cristãos são chamados a viver a liberdade cristã, embora na sua condição. Para Paulo, a pertença a Cristo estabelece, no interior da comunidade, relações de fraternidade autêntica, independentemente da categoria social a que pertença” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Vol. 2] – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 13 de novembro de 2024

(Tt 3,1-7; Sl 22[23]; Lc 17,11-19) 32ª Semana do Tempo Comum.

“Porque nós outrora éramos insensatos, rebeldes, extraviados, escravos de toda sorte de paixões e prazeres, vivendo na maldade e na inveja, dignos de ódio e odiando uns aos outros” Lc 17,3.

“Os versículos de abertura (1-2) recordam o dever dos fiéis cristãos de respeitarem as autoridades civis e enumeram uma lista de virtudes a que eles são chamados. Nos versículos sucessivos é introduzida uma motivação teológica. A argumentação é precedida de uma visão negativa das condições da Humanidade antes de Cristo (v. 3), à qual se segue a descrição da mudança realizada por Cristo (vv. 4-7). [Compreender a Palavra:] O âmago da argumentação está colocado no versículo 4. Nele o autor anuncia a Epifania, a manifestação da bondade de Deus e do Seu amor pelos homens. O texto sublinha, além disso, que nossas obras não estão na origem da nossa salvação, enquanto esta nos é concedida pela misericórdia divina, através do ‘batismo de regeneração e renovação do Espírito Santo’ (cf. v.5), pelo qual se atualiza para o cristão uma nova vida, uma regeneração. Esta regeneração é uma água (Ef 5,26) que foi derramada sobre nós por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, que assim nos justificou e tornou herdeiros da esperança na vida eterna” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Vol. 2] – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 12 de novembro de 2024

(Tt 2,1-8.11-14; Sl 36[37]; Lc 17,7-10) 32ª Semana do Tempo Comum.

“Assim também vós, quando tiverdes feito tudo o que vos mandaram, dizei: ‘Somos servos inúteis;

fizemos o que devíamos fazer’” Lc 17,10.

“Costuma você pensar e dizer com frequência: Sou livre para fazer o bem, ou o mal; e isso pode ser ambíguo. Você é livre psicologicamente para decidir-se pelo bem ou pelo mal. Não existe força alguma, oculta ou manifesta, que o/a impeça de decidir-se. Se você se decide pelo bem ou pelo mal, é você o/a único(a) responsável, e decide-se porque quer fazê-lo, não porque alguém, ou algo o/a pressione, empurre, force. Psicologicamente falando, você é livre, e aí reside sua grande responsabilidade: saber usar ajuizadamente e com prudência da sua liberdade. No entanto, moralmente, você de maneira alguma é livre para fazer o que lhe agrade, ou o que bem lhe pareça. Moralmente você é obrigado(a) a fazer o bem e evitar o mal. De tal forma que se não fizer, assume a responsabilidade pelo al praticado ou pelo bem que deixou de realizar. Quando se faz o bem outra coisa não é feita senão o que se devia fazer; ao fazer o bem, você é simplesmente um ser normal, ao passo que, ao praticar o mal, você age de modo anormal por realizar algo indevido, e aí, então, você é como uma máquina que funciona às avessas, é uma monstruosidade. É verdade que você não estranha que o sol brilhe, que a chuva molhe, que a terra produza planta e flores, que as árvores deem frutos, que o fogo queime, que o gelo enregele? Menos ainda você deve estranhar se você realiza o bem, porque esse deve ser feito, seu produto, seu fruto, sua ação. Considere, portanto, o transtorno que aconteceria no mundo, se você não realizar o bem, e imagine o que aconteceria se os outros tampouco o fizessem; este mundo transformar-se-ia em terra sem plantas, fogo sem luz e sem calor, sol pagado, árvore sem fruto, algo sem vida, algo morto. Jesus não veio senão para dar-nos o exemplo do serviço, conforme lemos em Marcos 10,43-45: ‘Entre vós, porém, não será assim: todo o que quiser tornar-se grande entre vós seja o vosso servo; e todo o que entre vós quiser ser o primeiro seja o escravo de todos. Porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em redenção por muitos’. Assim, entre os seguidores do Senhor: ‘o que quiser tornar-se grande entre vós seja o vosso servo’ (Marcos 10,43). Isso foi dito por Jesus, para que seus discípulos nunca se detivessem nem descansassem acreditando terem trabalhado o suficiente, tentação que muito bem lhe pode suceder. O apóstolo deve ter sempre pela frente a frase: ‘Somos servos como quaisquer outros’ (v. 10), para viver convencido de que no sentido do apostolado nada é do apóstolo, a não ser os defeitos e limitações, ao passo que todo bem é de Deus e vem de Deus, segundo nos adverte São Paulo: ‘Assim nem o que planta é alguma coisa nem o que rega, mas só Deus, que faz crescer’ (1Coríntios 3,7)” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 11 de novembro de 2024

(Tt 1,1-9; Sl 23[24]; Lc 17,1-6) 32ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus disse a seus discípulos: ‘É inevitável que aconteçam escândalos.

Mas ai daquele que produz escândalos!’” Lc 17,1

“O relacionamento, no interior da comunidade cristã, deve ser de fraternidade e de respeito mútuos. Contudo, as pessoas estão dando os primeiros passos na fé merecem atenção especial. Não devem ser tratadas com intolerância e impaciência por quem se considera firme e maduro na sua adesão a Jesus. Esse tratamento poderia leva-las ao desespero, acabando por abandonarem sua caminhada de fé. A isso chamamos escândalo. E Jesus advertiu seus discípulos a evitá-lo. A ofensa a uma pessoa fraca na fé atinge o próprio Deus. Daí o castigo terrível que Jesus sugeriu para quem escandalizar um pequenino. É Deus o primeiro interessado em que alguém se converta ao Reino anunciado por Jesus, e se esforce por adequar sua vida a esse mesmo Reino. Porque conhece a fraqueza humana, o Pai sabe que ninguém é capaz de atingir a maturidade da fé, da noite para o dia. O processo é lento e penoso, feito de altos e baixos. Ele acompanha, com carinho e paciência, cada discípulo do Reino que se esforça para crescer na fé. Deus não suporta que alguém se intrometa e ponha a perder a obra de sua graça. E o escândalo, em última análise, consiste em desfazer a obra de Deus, no coração das pessoas. Portanto, é obrigação da comunidade colaborar para que os pequeninos, apesar de suas quedas, sigam adiante, fazendo amadurecer sempre mais a própria fé.  – Senhor Jesus, que eu seja sensível e atencioso para com meus irmãos de fé, especialmente os mais fracos e carentes de apoio (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

 

32º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(1Rs 17,10-16; Sl 145[146]; Hb 9,24-28; Mc 12,38-44)

1. A cena que acabamos de acompanhar foi muito bem construída, do ponto de vista literário. Está dividida em três momentos: Jesus se senta e observa; chega uma pobre viúva; Jesus chama os discípulos e lhes comunica algo. Observação, ação, lição. Ou se quisermos: ver, ler, entender.

2. O ponto de partida está nesse contraste entre o exibicionismo dos doutores da Lei, dito anteriormente por Jesus, e a comovente generosidade da mulher. Ao fechamento arrogante dos grandes, dos sábios, opõe-se a disponibilidade de gente simples, pela qual Jesus não esconde sua simpatia.

3. Nessa pobre viúva Jesus encontra aquilo que não viu ao entrar no Templo e encontra-lo cheio de mercadores e cambistas. Se diz que o ofertante deveria declarar ao sacerdote se sua contribuição era para o culto ou outra coisa. Ali Jesus via e ouvia.

4. A oferta da viúva era uma coisa irrisória, mas de uma generosidade que chama a atenção de Jesus, pois os demais davam do seu supérfluo, ela dava da sua pobreza, do estritamente necessário, da sua penúria. E a faz sem que ninguém note. Com essa sentença sobre o valor da oferta, Jesus encerra sua atividade e ensinamento no Templo.

5. Se Ele havia começado o seu dia contestando o comércio que acontecia sob a tutela dos sacerdotes, desacreditando a autoridade dos mesmos, do significado do Templo, do tributo a ser pago a Cesar, sobre a ressurreição dos mortos, do mandamento mais importante, ele conclui exaltando o autêntico valor religioso daquela pobre mulher.

6. Para dizer-nos que o lugar do encontro com Deus não passa através do poder cultual ou institucional, mas através de um coração pobre, isto é, totalmente aberto e disponível a Deus. De um sacrifício silencioso, completo e natural, que não transforma a história com seu gesto, mas que, para além das seguranças humanas, resolve abandonar-se inteiramente à misericórdia de Deus. Uma conclusão adequada à sua atividade pública.

7. Aquelas duas moedas que caem no recipiente das ofertas soam como música aos ouvidos de Jesus, cansado de tantas discussões teológicas ao longo do seu dia. Aquela mulher não queria chamar a atenção sobre si, mas seu gesto ficará registrado para sempre no livro dos pequenos, dos desconhecidos, dos que são grandes aos olhos de Deus.

8. Esse pequeno episódio é um capítulo importante na pedagogia de Jesus, pois convida seus discípulos a observar. Mas a observar com profundidade, sem avaliação superficial dos fatos ou das pessoas. Ser capaz de ir além das aparências. Olhar bem. Olhar além.  

9. Jesus conclui sua pregação e seus ensinamentos com essa cena. A mulher não fala, apenas realiza um gesto. E dele recolhemos ou intuímos algo, talvez de uma entrega ou confiança que às vezes nos escapa. Pior para nós, se não conseguimos aprender nada...  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 09 de novembro de 2024

(Ez 47,1-2.8-9.12; Sl 45[46]; Jo 2,13-22) Dedicação da Basílica do Latrão.

“No templo, encontrou vendedores de bois, ovelhas e pombas e os cambistas que estavam aí sentados”

Jo 2,14.

“O dado foi recordado pelos observadores do fato religioso: Deus está presente nos povos pobres e marginalizados da terra, e está se ocultando lentamente nos povos ricos e poderosos. Os países que são pobres em poder, dinheiro e tecnologia são mais ricos em humanidade e espiritualidade do que as sociedades que os marginalizam. Talvez, o antigo relato de Jesus expulsando do Templo os vendedores nos leve à pista, não à única, que pode explicar o porquê deste ocultamente de Deus, precisamente nas sociedades da abundância e do bem-estar. O conteúdo essencial da cena evangélica pode resumir-se desta maneira: onde se busca o próprio proveito não há lugar para um Deus que é Pai de todos. Quando Jesus chega a Jerusalém, não encontra gente que busca a Deus, mas comércio. O próprio Templo converteu-se num grande mercado. A religião continua funcionando, mas ninguém escuta a Deus. Sua voz se extingue, silenciada pelo ruído do dinheiro. O que interessa é apenas o próprio proveito. Segundo o evangelista, Jesus atua movido pelo ‘zelo da casa de Deus’. O termo grego significa ardor, paixão. Jesus é um ‘apaixonado’ pela causa do verdadeiro Deus e, quando vê que está sendo desfigurado por interesses econômicos, reage com paixão, denunciando essa religião falsa e hipócrita. A atuação de Jesus lembra as terríveis condenações pronunciadas no passado pelos profetas de Israel. Só vou citar as palavras que Isaías põe nos lábios de Deus: ‘Estou farto de holocaustos... Não continueis a trazer-me oferendas vazias, nem incenso execrável... Eu desteto vossas solenidades e festas; tornaram-se para mim um peso que não suporto. Quando estendeis vossas mãos, fecho os olhos; ainda que multipliqueis as orações, não escutarei. Vossas mãos estão cheias de sangue. Lavai-vos, afastai de minha vista vossas más ações. Cessai de fazer o mal e aprendei a fazer o bem. Buscai a justiça, corrigi o opressor. Fazei justiça ao órfão, defendei a viúva. Então vinde’ (Is 1,11-18). Não é de estranhar que na ‘Europa dos comerciantes’ se fale hoje de ‘crise de Deus’ (Gotteskrise). Onde se busca a própria vantagem ou ganho, sem levar em conta os necessitados, não há lugar para o verdadeiro Deus. Ali o anseio pela transcendência se apaga e as exigências do amor são esquecidas. Esta Europa do bem-estar, onde a crise de Deus já está gerando uma profunda crise do ser humano, precisa ouvir uma mensagem clara e apaixonante: ‘Quem não pratica a justiça e quem não ama seu irmão, não é de Deus’ (1Jo 3,10)” (José Antonio Pagola – O Caminho Aberto por Jesus – João – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 8 de novembro de 2024

(Fl 3,17—4,1; Sl 121[122]; Lc 16,1-8) 31ª Semana do Tempo Comum.

“Ele o chamou e lhe disse: ‘Que é isso que ouço ao teu respeito? Presta contas da tua administração,

pois já não podes administrar meus bens’” Lc 16,2.

“É sempre desagradável para nós isso de ‘prestar contas’, de dar satisfação a alguém sobre algo que realizamos, ou que nos pediram. Porém, quando essa prestação de contas afeta toda a nossa vida, quando devemos exigir de nós mesmos, para analisar os diferentes aspectos da nossa vida, facilmente surge em nós o desgosto e o tédio. No entanto, nossa vida por mais que chamemos de ‘nossa’ não nos pertence; há nisso um engano; não é nossa, mas de Deus, que a colocou em nós, mas com a obrigação de a fazermos frutificar. E como a vida não é nossa, mas de Deus, que ele no-la pode tirar a qualquer momento e pode exigir de nós que lhe prestemos conta a respeito dela, e, então, você terá de dar contas a Deus de como empregou suas forças físicas, sua saúde, suas qualidades, seu tempo, sua inteligência, sua vontade, seu coração. Deverá, então, pesar e analisar todos e cada um de seus pensamentos, de seus desejos, de seus projetos, e de como sua vida pessoal se projetou para os outros, porque você não pode encerrar a sua vida dentro de você mesmo (a), simplesmente porque não é sua, mas de Deus, e Deus quer que você a projete para seu próximo. O homem rico da parábola é Deus nosso Senhor, dono de toda a terra e de todos os talentos e qualidades que colocou nele; o homem não é senão administrador dos bens de Deus e, como tal, a Deus deverá dar conta da administração que realiza durante sua vida. Você pode ser chamado a esta prestação de contas a qualquer momento de sua vida, talvez quando menos você o pense, quando menos o imagine. Por isso, o Senhor adverte-nos: ‘estai também vós preparados, porque o Filho do Homem virá numa hora em que menos pensardes’ (Mateus 24,44). Estar preparados, isto é, ter as contas prontas para entregar, viver na graça e cumprir sempre e em tudo a vontade do Senhor” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 7 de novembro de 2024

(Fl 3,3-8; Sl 104[105]; Lc 15,1-10) 31ª Semana do Tempo Comum.

“E se uma mulher tem dez moedas de prata e perde uma, não acende uma lâmpada, varre a casa e a procura cuidadosamente, até encontrá-la?” Lc 15,8.

“Agora a mulher acende uma lâmpada. Para Gregório, é a inteligência. Ela precisa da luz da inteligência para esclarecer a escuridão inconsciente, procurando aí a completude perdida. Mas Lucas, sem dúvida, pensa aí também na luz da fé. É somente pela fé que a inteligência fica realmente iluminada. É a luz de Deus, da qual precisamos para procurar a dracma na nossa casa interna. A mulher varre a casa toda. Ela remove a sujeira que se depositou no chão da casa. Gregório interpreta essa sujeira como sendo a negligência com a qual vivemos. Quando nos ocupamos negligentemente com muitas atividades, a nossa casa fica suja. Não somos mais senhores da nossa casa. Uma camada de poeira deposita-se no chão de nossa alma. Então precisamos varrer energicamente, para redescobrir o lustro original da nossa alma. E a mulher procura, incansavelmente. A palavra grega ‘epimelos’ significa ‘solicitamente’, ‘cuidadosamente’, ‘com precisão e afinco’. A mulher olha com atenção, procura com cuidado. Ela está preocupada; quer mesmo encontrar sua dracma. O ser humano não está apenas em busca de Deus, mas também de si mesmo, de sua verdadeira essência. Perdeu a si mesmo. É essa a desgraça do ser humano: alienar-se de si mesmo, perder a si mesmo” (Anselm Grüm – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quarta, 6 de novembro de 2024

(Fl 2,12-18; Sl 26[27]; Lc 14,25-33) 31ª Semana do Tempo Comum.

“Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim não pode ser meu discípulo” Lc 14,27.

“Para Jesus, segui-lo é seguir o caminho da cruz. No evangelho de Lucas, Jesus convida os seus discípulos duas vezes a carregarem a sua cruz: ‘Quem não carrega sua cruz e não vem em meu seguimento não pode ser meu discípulo’ (Lc 14,27); ‘Se alguém quiser vir em meu seguimento, renuncie a si mesmo, e tome sua cruz cada dia e siga-me’ (Lc 9, 23). A primeira palavra mostra a seriedade do ‘seguir’. Quem segue Jesus deve contar com isto: o seu caminho há de levar também à cruz, à perseguição, a hostilidade e finalmente à morte. A segunda palavra interpreta o seguimento da cruz como caminho espiritual. Lucas acrescenta aqui ‘cada dia’. Aí a cruz se torna imagem das aflições e dos conflitos cotidianos. Todo dia alguma coisa nos contraria. Todo dia os outros nos decepcionam ou nos ofendem. Se entendermos os desafios de cada dia como uma cruz, não nos farão desanimar: a cruz há de nos levar a uma união mais profunda com Cristo. A cruz acabará com a nossa vaidade. Vivemos muitas vezes, no nosso dia-a-dia, com uma imagem idealizada, ilusória de nós mesmos. Pensamos estar obedecendo à vontade de Deus, cumprindo o nosso dever. Quando alguém, então, nos critica e nos trata com injustiça, quando nos despreza e humilha, então sentimo-nos ofendidos e lamentamos a nossa situação. Jesus quer nos convidar para que deixemos nos lavrar por essas aflições de cada dia, para Deus. É isso, creio, que significa ‘abnegação’. Acontece que a palavra ‘abnegação’ muitas vezes foi mal entendida, como se devêssemos renegar completamente, nos desvalorizar ou deformar. A palavra grega ‘arneisthai’ significa ‘negar’, ‘resistir’, ‘distanciar-se’. Pelas experiências da cruz na minha vida devo renegar o meu ego que se enfuna, e imagina que tudo deve servir só a ele, mas para descobrir o meu verdadeiro ‘eu’. Devo me distanciar do egoísmo que gostaria de puxar tudo para si mesmo, a fim de descobrir debaixo disso o verdadeiro núcleo da minha pessoa. Essa palavra de Jesus não é uma exortação para eu tornar a minha vida bem penosa para mim mesmo e para me sobrecarregar, e sim um convite para me deixar lavrar pela vida e pelas suas aflições, para Deus. Então a vida me levará até Deus. Então a cruz se tornará a chave da vida. Abrirá a porta para o centro da minha alma, sou eu, além de sucesso e bem-estar, além de reconhecimento e acolhimento, além de crítica e humilhações” (Anselm Grüm – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 05 de novembro de 2024

(Fl 2,5-11; Sl 21[22]; Lc 14,15-24) 31ª Semana do Tempo Comum.

“Um homem que estava à mesa disse a Jesus: ‘Feliz aquele que come o pão no Reino de Deus!’” Lc 14,15.

“Todos somos convidados para o baquete do Reino de Deus; todos sem exceção; todos temos fome e sede de justiça, fome e sede de felicidade, fome e sede de Deus. E essa fome e essa sede não podem ser aclamadas em nós com nenhuma coisa criada. Jesus, no evangelho de hoje, promete-lhe as alegrias do Reino de Deus, e com essas alegrias lhe promete calma em suas ansiedades, tranquilidade em suas inquietações e paz em suas amarguras. O convite do Senhor é para que você participe do seu banquete, e esse convite lhe chega repetidamente por incontáveis meios. O convite a que se refere este evangelho é, antes de mais nada, para o Reino de Deus, que frequentemente é comparado com um suntuoso banquete, e o sentido primário expressa-o Jesus, quando diz ‘feliz daquele que se sentar à mesa do Reino de Deus’ (v. 15), que é equivalente a dizer que é ditoso aquele que chegue a possuir em si o Reino de Deus, que é Reino de justiça, de verdade, de amor e de paz. Mas, em sentido secundário, esse banquete refere-se ao banquete eucarístico, do qual assistindo-o e dele participando, o homem se dispõe para o outro banquete do Reino de Deus. Assim o diz expressamente o próprio Senhor Jesus, quando afirma: ‘Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós memos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna’ (João 6,53-54). Realmente a ceia eucarística é um grande banquete: grande pela dignidade daquele que convida, que é, nada mais nada menos, que o próprio Deus, Jesus Cristo nosso Redentor e Salvador; grande pelo número de convidados, visto que a ele são chamados todos os homens de bom coração; ninguém fica excluído desse banquete por sua pobreza, por sua pouca cultura, por sua condição humilde; antes, os grandes e poderosos devem humilhar-se e tornar-se pobres e simples de coração, para merecerem ser admitidos neste banquete; grande pelos efeitos que produz: aumenta a graça divina, purifica a alma de seus pecados, preserva-a de novas quedas, prepara o homem que comunga para a vida eterna” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Segunda, 04 de novembro de 2024

(Fl 2,1-4; Sl 130[131]; Lc 14,12-14) 31ª Semana do Tempo Comum.

“Então tu serás feliz! Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos” Lc 14,14.

“O Reino insere, no coração humano, preocupações que superam a visão mundana da vida. Ele toca, até mesmo, coisas muitos simples, qual seja a lista de convidados para um almoço ou jantar. Quem não pensa segundo o Reino, será levado a convidar pessoas que, no futuro, poderão retribuir-lhe o convite. Os ricos, neste caso, serão visados em primeiro lugar. O discípulo do Reino, porém, parte de outro critério. Escolhe exatamente os pobres e excluídos, aqueles que não terão condições de oferecer-lhe nada em troca. Basta-lhe a retribuição que o Senhor reservou para quem se deixou guiar pelo amor. Sua felicidade consistirá em compartilhar, a saciar a fome do próximo, em proporcionar um momento de prazer a quem vive sob o peso da rejeição social e de suas próprias limitações físicas, em valorizar quem vive na condição de resto da sociedade. O coração do discípulo deve manter-se imune de segundas intenções. É possível fazer um banquete e convidar os pobres e excluídos, com o intuito de ter o nome estampado nos jornais e ser objeto da admiração alheia. O discípulo não tem um espírito demagógico. Sua opção pelos pobres é fruto da comunhão com sua causa, porque os preferidos de Deus. Ao colocar-se do lado deles, o discípulo tem motivos para esperar a retribuição do Pai. – Senhor Jesus, tira do meu coração todo desejo de receber retribuições humanas, mas esperar somente a que provém do Pai” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Todos os Santos e Santas – 2024

(Ap 7,2-4.9-14; Sl 23[24]; 1Jo 3,1-3; Mt 5,1-12)*

1. O teor da liturgia da Palavra é a vocação universal à santidade, isto é, à perfeição que nos torna agradáveis a Deus. Deus criou o ser humano para ter as qualidades dele.

2. A santidade é o bom êxito desse projeto que é uma graça de Deus, o oposto do envolvimento com o pecado como já está descrito na história do primeiro casal. A santidade é a ‘consagração’ àquele que é chamado ‘o Santo’, Deus – a harmonia com Ele.

3. A 1ª leitura nos ensina que a santidade é uma vocação universal. O autor nos fala de uma multidão que ninguém podia contar (cf. Ap 7,4). Assim, no início das descrições apocalípticas do Fim, o autor nos comunica sua visão da glória dos eleitos, fruto da ‘salvação que pertence ao nosso Deus... e ao Cordeiro’ (Ap 7,10).

4. Podemos incluir nessa multidão, todos os que vivem segundo o amor e a justiça divina que se revelam no amor até a morte e na glorificação de Jesus – mesmo sem conhecer o seu nome. A felicidade de estar definitivamente com Deus vem da comunhão com a obra que Jesus levou a termo.

5. A universalidade da vocação à santidade e do pertencer a Deus, mas também a exigência inerente a isso é expressa no Evangelho das Bem-aventuranças. A santidade é dom e missão. Deus no-la dá, mas a nós cabe realiza-la em nossa vida e irradiá-la em nosso redor.

6. Como dom, só pode ser recebido pelos que não estão cheios de si mesmos. Como tarefa, exige empenho: fazer acontecer a justiça de Deus, promover sua paz. Em todos os casos, exige desprendimento, conversão, abandono da autossuficiência e a opção por aqueles que Deus contempla com carinho especial: os pobres, os excluídos. 

7. Na 2ª leitura, o autor da Carta exorta os fiéis a receber com convicção a santidade como dom de Deus em Cristo. Quem não se sabe amado por Deus não entende o que significa ser ‘filho de Deus’.

8. Mas sabe-o quem o pratica! Esse saber fica ainda velado, só na glória é que se manifestará em plena clareza. Entretanto, já participamos, na esperança, da santidade de Deus, se vivemos como seus filhos.

9. A santidade não é o destino de uns poucos, mas de uma imensa multidão: todos aqueles que, de alguma maneira, até sem o saber, aderiram e aderirão à causa de Cristo e do Reino: a comunhão ou comunidade dos santos.  

10. Ser santo significa ser de Deus. Não é preciso ser anjo para isso. Significa um cristianismo libertado e esperançoso, acolhedor para com todos os que ‘procuram a Deus com um coração sincero’ (Oração Eucarística IV). Mas significa também um cristianismo exigente.

11. Devemos viver mais expressamente a santidade de nossas comunidades (a nossa pertença a Deus e a Jesus), por uma prática de caridade digna dos santos e por uma vida espiritual sólida e permanente.

12. Sobretudo: santidade não é beatice, medo de viver. Pelo contrário, é uma atitude dinâmica, uma busca de pertencer sempre mais a Deus e assemelhar-se sempre mais a Cristo. Não exige boa aparência, mas disponibilidade para se deixar atrair por Cristo e para entrar na solidariedade dos fiéis de todos os tempos, santificados e unidos por Ele.

* Essa reflexão tem por base texto de Franscisco Taborda e Johan Konings.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Todos os fiéis defuntos – 2024

(Is 25,6-9; Sl 24[25]; Rm 8,14-23; Mt 25,31-46) *

1. Esse ano as duas celebrações estão muitos próximas, ainda que invertidas. Amanhã contemplaremos a ‘Cidade do Céu’ onde estão os santos e santas. Hoje, também dentro desse olhar para as realidades últimas, comemoramos todos os fiéis defuntos, que nos precederam com o sinal da fé e dormem o sono da paz.

2. É muito importante que nós cristãos vivamos a relação com os defuntos na verdade da fé, e olhemos para a morte e para o além à luz da revelação.

3. Paulo, escrevendo às primeiras comunidades, exortava os fiéis a “não estar tristes como os outros que não têm esperança”. “Se de fato, - escrevia-, cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus, através de Jesus, reunirá com ele todos os que estão mortos” (cf. 1Ts 4,13-14).

4. É necessário também hoje evangelizar a realidade da morte e da vida eterna, realidades particularmente sujeitas a crenças supersticiosas e a sincretismos, para que a verdade cristã não corra o risco de se misturar com mitologias de vários tipos.

5. Em sua Encíclica sobre a esperança cristã, ao falar da vida eterna, Bento XVI colocava algumas questões: a fé cristã é também para os homens e mulheres de hoje uma esperança que transforma e ampara sua vida? E de maneira mais radical: os homens e mulheres desta época ainda desejam a vida eterna? Ou tornou-se, porventura, a existência terrena o seu único horizonte?

6. Na realidade, como já observava Santo Agostinho, todos queremos a “vida bem-aventurada”, a felicidade, queremos ser felizes. Não sabemos bem o que seja e como seja, mas sentimo-nos atraídos por ela. Esta é uma esperança universal, comum aos homens e mulheres de todos os tempos e lugares.

7. A expressão “vida eterna” pretende dar um nome a esta expectativa insuprimível: não uma sucessão infinita, mas um imergir-se no oceano de amor infinito, no qual o tempo, o antes e o depois já não existem. Uma plenitude de vida e de alegria: é isto que esperamos e aguardamos do nosso ser com Cristo.

8. Renovamos hoje a esperança da vida eterna fundada realmente na Morte e Ressurreição de Cristo. “Ressuscitei e agora estou sempre contigo”, diz o Senhor, “e a minha mão ampara-te. Onde quer que tu caias, cairás nas minhas mãos e estarei sempre presente até na porta da morte. Onde ninguém te pode acompanhar e para onde nada podes levar, lá eu espero por ti para transformar para ti as trevas em luz”.

9. Mas a esperança cristã não é apenas individual, é sempre também esperança para os outros. As nossas existências estão profundamente ligadas umas às outras e o bem e o mal que cada qual pratica atinge sempre também os outros.

10. Assim, a oração de uma alma peregrina no mundo pode ajudar outra alma que se está a purificar depois da morte. Eis por que hoje a Igreja nos convida a rezar pelos queridos defuntos e a visitar os seus túmulos nos cemitérios.

11. Maria, estrela da esperança, torne mais forte e autêntica a nossa fé na vida eterna e ampare a nossa oração de sufrágio pelos irmãos defuntos. Amém.

* Com base em texto de Bento XVI

 

Pe. João Bosco Vieira Leite