17º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(2Rs 4,42-44; Sl 144[145]; Ef 4,1-6; Jo 6,1-15)*

1. A partir deste domingo interrompemos a leitura de Marcos e acompanharemos o capítulo sexto do Evangelho de João que compreende a narrativa da multiplicação dos pães e o discurso de Jesus na Sinagoga de Cafarnaum. Temos assim uma catequese sobre a Eucaristia.

2. João, em seu Evangelho, diferentemente dos outros evangelistas, parte do sinal do pão multiplicado para nos falar da Eucaristia e não da última Ceia, que ele não narra. Mas as duas realidades convergem para essa contemplação do Cordeiro imolado na Cruz que constitui a realidade última dos sinais, inclusive o da última Ceia.

3. O que João quer nos dizer, partindo dessa realidade do pão? Que na Eucaristia há uma continuidade e uma harmonia admiráveis entre a realidade material e a graça espiritual. Nunca irá compreender a Eucaristia aquele que não fez a experiência de alimento humano, de fome e de comida, do partir o pão e de comer juntos.

4. Ao falar dessa realidade da natureza e da graça, explicamos a Eucaristia a partir da Transubstanciação, ou seja, que o sinal do pão e do vinho não desparecem completamente para dar lugar ao corpo e sangue de Cristo. O sinal, portanto, continua. Pois o sacramento é uma realidade sensível.

5. O pão e o vinho permanecem, mas são elevados ou transformados. Antes da consagração, ele é fruto da terra, do trabalho humano. Depois de consagrado, ele se torna sinal do sacrifício de Cristo, do seu amor sem limites para com o ser humano, do alimento espiritual, da unidade do corpo de Cristo.

6. Estes significados constituem, respectivamente, a ‘realidade’ do pão e da Eucaristia. Estes não estão reduzidos a ser somente uma coisa ou uma substância. A compreensão do químico que conhece a composição molecular do pão é diferente da do padeiro que o produz e da criança faminta que recebe o pão da mão da mãe.

7. Os significados espirituais (amor de Cristo, participação em sua morte-ressurreição, unidade da Igreja) fazem, portanto, parte integrante da realidade da Eucaristia. Fazem parte, mas não a esgotam! No mistério eucarístico acontece algo mais profundo e insondável que somente a fé pode perceber.

8. Na Eucaristia, pela consagração e pelo poder do Espírito Santo, a realidade material, o pão, diferentemente da água do batismo, a natureza não acolhe somente a graça, mas o Autor da graça.

9. Mas toda essa realidade teológica não pode estar separada da experiência cotidiana do alimento e do banquete, da corporeidade e de todo realismo existencial. Desde o princípio o rito sagrado estava próximo do banquete fraterno.

10. É certo que ao longo da história o rito foi passando por várias revisões e até perdeu o contato com a assembleia. O que se deve procurar na celebração eucarística é o equilíbrio entre autenticidade e solenidade, entre espontaneidade e uniformidade litúrgica; numa palavra, entre natureza e graça.

11. Para as novas gerações, onde se perde gradualmente o hábito de comer juntos, a mesa da Eucaristia e a reunião dos irmãos, pode não dizer muito. A vida moderna torna inevitável isto, mas não devemos nos deixar arrastar e fazer o esforço da família encontra-se ao menos uma vez no dia para uma refeição comum, enriquecida do gesto cristão da bênção do pão e da oração.

12. O nosso evangelho fala do recolhimento do que sobrou. Podemos recordar dessa dinâmica evangélica de dar a sobra aos pobres, ou mesmo de evitar o desperdício. Mas há um significado espiritual por trás desse gesto.

13. Ele quer significar que a Eucaristia é não somente para quem a recebe; deve avançar também para os ausentes, os afastados, para todo o povo. Aqueles que participam da multiplicação devem partilhar depois com os irmãos a força e a luz que recebem dela; tornar-se eles mesmos pão a ser partido, isto é, Eucaristia.

14. É condenada aquela forma de desperdício espiritual que é o egoísmo e o individualismo, causas principais da ineficácia de tantas Eucaristias. A Eucaristia de Jesus é feita para ser partilhada, para socorrer um e outro; quem a recebe deve assimilar-se a Jesus, tornando-se, como ele, um dom para os outros.

* Com base em texto de Raniero Cantalamessa.     

Pe. João Bosco Vieira Leite