(Ef 4,32—5,8; Sl 01; Lc 13,10-17)
30ª Semana do Tempo Comum.
“Vendo-a, Jesus
chamou-a e lhe disse: ‘Mulher, estás livre da tua doença’” Lc 13,12.
“Nessa mulher
encurvada Lucas vê uma imagem do ser humano reprimido, quebrantado, lesado na
sua dignidade. E ele nos mostra como Jesus tem o poder de curar não somente
essa mulher, mas também a nós, ainda hoje. Jesus vê a mulher. Ele olha para
ela; com isso, ela é agora uma pessoa considerada. Jesus não está indiferente
diante da miséria humana. Ele se volta para a mulher. Lucas aqui não dá nome ao
sentimento de comiseração de Jesus; é pela própria narrativa que ele expressa
os sentimentos de comiseração de Jesus. Pelo seu modo de agir fica claro que ele
trata a mulher com ternura e carinho. Tendo-a observado na sua miséria e na sua
miséria e na opressão, ele dirige a ela a sua palavra. A palavra grega prosphono,
‘dirigir a palavra a’, ‘chamar pelo nome’, ‘interpelar’, indica o relacionamento
que Jesus estabelece com a mulher. Ele fala com ela. As suas palavras se
dirigem a ela. Ele quer arrancá-la do isolamento em que ela, sem dúvida por
vergonha das pessoas sadias, se retirou. A mulher deixa-se movimentar por
Jesus. Está claro: Jesus é capaz de abordar uma pessoa de tal maneira que ela é
atingida e se põe em movimento. A mulher se volta para ele, e ele lhe diz:
‘Mulher, eis que estás libertada de tua enfermidade’. Ele oferece a ela a cura
e a libertação. Na proximidade de Jesus, o ser humano não pode continuar
amarrado; fica livre, reencontra a sua dignidade. O homem reto, Jesus, ergue a
mulher oprimida, restituindo-a na sua dignidade singular e divina. No evangelho
de Lucas e nos Atos dos Apóstolos a imposição da mão ou é uma intermediação de
uma cura, ou é uma invocação do Espírito Santo. As duas coisas andam juntas.
Pela imposição das mãos, o Santo Espírito de Deus se infunde naquela mulher.
Este Espírito, que é santo, é sempre também um Espírito sanador. Ele concretiza
a força divina, expulsando a fraqueza da mulher. Também os discípulos terão de
impor as mãos aos outros. Intermediarão assim a força divina que cura e
libertarão a todos do poder de Satanás. Doravante não devemos mais determinar a
nossa vida segundo as nossas velhas normas, e sim pela força sanadora e
libertadora de Deus, pelo amor divino que, passando por Jesus, nos alcança e
nos faz ser assim como originalmente Deus tencionou. Quando Jesus toca na
mulher, ela se ergue no mesmo instante. Ela se endireita, e louva a Deus. Agora
realizou-se o número ‘dezoito’. Inteirou-se e achou novamente contato com Deus.
A palavra grega para ‘erguer’, anortho, é usada também no sentido
de ‘reconstruir’ uma casa. Jesus é aquele que levanta de novo o ser humano e o
restabelece na sua beleza original, reconstruindo a casa de sua vida de tal
maneira que Deus possa nela morar com sua glória” (Anselm Grüm – Jesus,
modelo do ser humano – Loyola).
Pe. João Bosco Vieira Leite