Segunda, 24 de outubro de 2022

(Ef 4,32—5,8; Sl 01; Lc 13,10-17) 

30ª Semana do Tempo Comum.

“Vendo-a, Jesus chamou-a e lhe disse: ‘Mulher, estás livre da tua doença’” Lc 13,12.

“Nessa mulher encurvada Lucas vê uma imagem do ser humano reprimido, quebrantado, lesado na sua dignidade. E ele nos mostra como Jesus tem o poder de curar não somente essa mulher, mas também a nós, ainda hoje. Jesus vê a mulher. Ele olha para ela; com isso, ela é agora uma pessoa considerada. Jesus não está indiferente diante da miséria humana. Ele se volta para a mulher. Lucas aqui não dá nome ao sentimento de comiseração de Jesus; é pela própria narrativa que ele expressa os sentimentos de comiseração de Jesus. Pelo seu modo de agir fica claro que ele trata a mulher com ternura e carinho. Tendo-a observado na sua miséria e na sua miséria e na opressão, ele dirige a ela a sua palavra. A palavra grega prosphono, ‘dirigir a palavra a’, ‘chamar pelo nome’, ‘interpelar’, indica o relacionamento que Jesus estabelece com a mulher. Ele fala com ela. As suas palavras se dirigem a ela. Ele quer arrancá-la do isolamento em que ela, sem dúvida por vergonha das pessoas sadias, se retirou. A mulher deixa-se movimentar por Jesus. Está claro: Jesus é capaz de abordar uma pessoa de tal maneira que ela é atingida e se põe em movimento. A mulher se volta para ele, e ele lhe diz: ‘Mulher, eis que estás libertada de tua enfermidade’. Ele oferece a ela a cura e a libertação. Na proximidade de Jesus, o ser humano não pode continuar amarrado; fica livre, reencontra a sua dignidade. O homem reto, Jesus, ergue a mulher oprimida, restituindo-a na sua dignidade singular e divina. No evangelho de Lucas e nos Atos dos Apóstolos a imposição da mão ou é uma intermediação de uma cura, ou é uma invocação do Espírito Santo. As duas coisas andam juntas. Pela imposição das mãos, o Santo Espírito de Deus se infunde naquela mulher. Este Espírito, que é santo, é sempre também um Espírito sanador. Ele concretiza a força divina, expulsando a fraqueza da mulher. Também os discípulos terão de impor as mãos aos outros. Intermediarão assim a força divina que cura e libertarão a todos do poder de Satanás. Doravante não devemos mais determinar a nossa vida segundo as nossas velhas normas, e sim pela força sanadora e libertadora de Deus, pelo amor divino que, passando por Jesus, nos alcança e nos faz ser assim como originalmente Deus tencionou. Quando Jesus toca na mulher, ela se ergue no mesmo instante. Ela se endireita, e louva a Deus. Agora realizou-se o número ‘dezoito’. Inteirou-se e achou novamente contato com Deus. A palavra grega para ‘erguer’, anortho, é usada também no sentido de ‘reconstruir’ uma casa. Jesus é aquele que levanta de novo o ser humano e o restabelece na sua beleza original, reconstruindo a casa de sua vida de tal maneira que Deus possa nela morar com sua glória” (Anselm Grüm – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).    

  Pe. João Bosco Vieira Leite