28º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(2Rs 5,14-17; Sl 97[98]; 2Tm 2,8-13; Lc 17,11-19)

1. Dez leprosos, em sua relativa exclusão da comunidade, que confiam na palavra de Jesus, mesmo distantes, e se encaminham para apresentar-se aos sacerdotes, encarregados oficiais de controlar e confirmar a cura. Mas a cura vem ao longo do caminho.

2. Mas um só, um samaritano, tido como renegado pela mentalidade hebraica, sente a necessidade de voltar e louvar a Deus agradecendo a Jesus. Um só mostra o reconhecimento. Ou seja, ‘reconhecer’ aquilo que lhe aconteceu é um dom. Talvez os outros, por pertencerem ao povo eleito, consideram a cura como algo merecido.

3. Jesus preza esse homem que expressa sua gratidão. Que não considera um simples merecimento, que se abre à admiração, à surpresa, ao agradecimento. Pode ser fácil agradecer a Deus quando obtemos uma graça especial, extraordinária.

4. O reconhecimento – que já foi definido como ‘a memória do coração’ – não nos brota diante das coisas comuns do dia a dia, na presença dos milagres oferecidos pela existência cotidiana. Muitas coisas consideramos como direito adquirido. Não conseguimos apreciar como algo extraordinário em sua dinâmica ordinária.

5. Será que já nos ocorreu, ao abrimos os olhos pela manhã, agradecer pelo simples fato de crer, e de dar graças ao Senhor porque ainda temos a fé ao início de um novo dia? A fé é um grande milagre que vem considerada qualquer coisa que possuímos. Não conseguimos recolher seu aspecto ‘extraordinário’ e, sobretudo, de dom.

6. Devemos convencer-nos que ‘tudo é graça’. Nada nos é devido. E se tudo é graça, tudo deve ser ‘ação de graças’. Se cada coisa vem de Deus, gratuitamente, tudo deve retornar a Ele através do louvor, reconhecimento e gratidão.

7. O cristão não é aquele que pede graças, ou recebe graças. É aquele que rende graças. Não é à toa que a Eucaristia, que representa o ato mais sublime de culto cristão, significa literalmente, ‘ação de graças’. Deus não espera de nós agradecimentos à maneira paternalista dos assim chamados ‘benfeitores’.

8. O agradecimento que Ele espera é a nossa apreciação, o nosso abri-nos à surpresa, à alegria, ao louvor, à celebração por seus prodígios. Como uma criança que salta de alegria ao abrir o presente. E logo seus país dizem: ‘Como é que se diz?’ No entanto, o seu agradecimento já está expresso na sua explosão de alegria.

9. O melhor modo de ‘dar graças’ ao Senhor é celebrar a vida. Diria Gonzaguinha: “Viver e não ter a vergonha de ser feliz...”. Deus gosta de quem reconhece os seus dons e não deixa a poeira do hábito e da monotonia recobrir os seus dons.

10. A cada eucaristia celebramos o memorial dos dons de Deus, e pedimos que essa ação de graças se estenda ao cotidiano. Até mesmo um sorriso pode tornar-se um gesto litúrgico. A gratidão deve ser mais forte que as nossas necessidades e desejos. 

11. Portanto, não sejamos distraídos diante do milagre da vida, das surpresas dos acontecimentos ordinários. Busquemos as pegadas da passagem de Deus através da trama dos fatos comuns. Não achar simples merecedor do que lhe vem ofertado.

12. Mantenhamos uma atitude de gratidão nos seus dois componentes de aceitação e de alegria. Assim, também a nossa vida será um grandioso ‘memorial’ das obras do Senhor. Reconheçamos a delicada graça da existência, ainda que a vida seja marcada por muitas incongruências.  

Pe. João Bosco Vieira Leite