(2Rs 5,14-17; Sl 97[98]; 2Tm 2,8-13; Lc 17,11-19)
1. Dez leprosos, em sua relativa
exclusão da comunidade, que confiam na palavra de Jesus, mesmo distantes, e se
encaminham para apresentar-se aos sacerdotes, encarregados oficiais de
controlar e confirmar a cura. Mas a cura vem ao longo do caminho.
2. Mas um só, um samaritano, tido como
renegado pela mentalidade hebraica, sente a necessidade de voltar e louvar a
Deus agradecendo a Jesus. Um só mostra o reconhecimento. Ou seja, ‘reconhecer’
aquilo que lhe aconteceu é um dom. Talvez os outros, por pertencerem ao povo
eleito, consideram a cura como algo merecido.
3. Jesus preza esse homem que expressa
sua gratidão. Que não considera um simples merecimento, que se abre à admiração,
à surpresa, ao agradecimento. Pode ser fácil agradecer a Deus quando obtemos
uma graça especial, extraordinária.
4. O reconhecimento – que já foi
definido como ‘a memória do coração’ – não nos brota diante das coisas comuns
do dia a dia, na presença dos milagres oferecidos pela existência cotidiana.
Muitas coisas consideramos como direito adquirido. Não conseguimos apreciar
como algo extraordinário em sua dinâmica ordinária.
5. Será que já nos ocorreu, ao abrimos
os olhos pela manhã, agradecer pelo simples fato de crer, e de dar graças ao
Senhor porque ainda temos a fé ao início de um novo dia? A fé é um grande
milagre que vem considerada qualquer coisa que possuímos. Não conseguimos
recolher seu aspecto ‘extraordinário’ e, sobretudo, de dom.
6. Devemos convencer-nos que ‘tudo é
graça’. Nada nos é devido. E se tudo é graça, tudo deve ser ‘ação de graças’.
Se cada coisa vem de Deus, gratuitamente, tudo deve retornar a Ele através do
louvor, reconhecimento e gratidão.
7. O cristão não é aquele que pede graças,
ou recebe graças. É aquele que rende graças. Não é à toa que a Eucaristia, que
representa o ato mais sublime de culto cristão, significa literalmente, ‘ação
de graças’. Deus não espera de nós agradecimentos à maneira paternalista dos
assim chamados ‘benfeitores’.
8. O agradecimento que Ele espera é a
nossa apreciação, o nosso abri-nos à surpresa, à alegria, ao louvor, à
celebração por seus prodígios. Como uma criança que salta de alegria ao abrir o
presente. E logo seus país dizem: ‘Como é que se diz?’ No entanto, o seu
agradecimento já está expresso na sua explosão de alegria.
9. O melhor modo de ‘dar graças’ ao
Senhor é celebrar a vida. Diria Gonzaguinha: “Viver e não ter a vergonha de ser
feliz...”. Deus gosta de quem reconhece os seus dons e não deixa a poeira do
hábito e da monotonia recobrir os seus dons.
10. A cada eucaristia celebramos o
memorial dos dons de Deus, e pedimos que essa ação de graças se estenda ao
cotidiano. Até mesmo um sorriso pode tornar-se um gesto litúrgico. A gratidão
deve ser mais forte que as nossas necessidades e desejos.
11. Portanto, não sejamos distraídos
diante do milagre da vida, das surpresas dos acontecimentos ordinários.
Busquemos as pegadas da passagem de Deus através da trama dos fatos comuns. Não
achar simples merecedor do que lhe vem ofertado.
12. Mantenhamos uma atitude de gratidão nos seus
dois componentes de aceitação e de alegria. Assim, também a nossa vida será um
grandioso ‘memorial’ das obras do Senhor. Reconheçamos a delicada graça da
existência, ainda que a vida seja marcada por muitas
incongruências.
Pe. João Bosco Vieira Leite