(Ef 6,10-20; Sl 143[144]; Lc 13,31-35)
30ª Semana do Tempo Comum.
“Entretanto, preciso
caminhar hoje, amanhã e depois de amanhã, porque não convém que um profeta
morra fora de Jerusalém” Lc 13,33.
“Progressivamente, as
narrações sinóticas preparam as suas personagens, e com ela os leitores, para o
encontro com um Cristo rejeitado e crucificado em Jerusalém. Não deve
subavaliar-se a crise de muitos perante esta perspectiva. E é também um pouco a
nossa crise, porque sentimos que está em jogo a revelação radical do rosto de
Deus, que Se ‘despoja’ de toda a onipotência para Se nos dar a conhecer na
escandalosa impotência de um crucificado. O Senhor revela-Se num aspecto
impensável: não como soberano vencedor, garantia de possíveis projetos de
poder, mas como um Deus derrotado, segundo as categorias humanas. E essa crise
renova-se diante de cada crucificado da história, das muitas situações de
sofrimento que levantam perguntas: por que é que Deus o permite? Por que não
mostra a Sua onipotência para as remediar? Estas perguntas receberam, ao longo
dos séculos, diversas respostas, mas sempre fragmentárias, sempre abertas a
ulteriores reformulações, enquanto colidem com os nossos interesses vitais. E,
no entanto, o Evangelho convida-nos a coloca-las numa atitude de ‘conversão’.
Precisamente porque o plano de Deus é impensável para o homem, e porque Jesus
crucificado é ‘escândalo e loucura’ (cf. 1Cor 1,23), é necessário reconhecer
nossa falta de preparação perante a lógica de Deus, para que ela possa falar ao
nosso ser. E então, esse Deus escandalosamente impotente sobre a Cruz, revelará
um poder inesperado. Ele permanece na Cruz, não porque não possa descer dela,
mas porque não quer descer; não porque procura o suplício, mas porque procura a
solidariedade extrema, a partilha incondicional conosco, com os nossos
sofrimentos, com as nossas crucifixões, para nos dizer que através dessa
partilha tem início a aurora de uma vida nova. Neste sentido, a Cruz é poder:
não poder de domínio, mas poder de salvação” (Giuseppe Casarin – Lecionário
Comentado [Tempo Comum – Vol. 2] – Paulus).