(Sb 11,22—12,2; 144[145]; 2Ts 1,11—2,2; Lc 19,1-10)
1. Zaqueu é salvo, sem dúvida, por um
olhar. Todo o episódio é articulado sob um ‘ver’. Ele busca ‘ver’, mas não
consegue, porque a multidão o impede (quem sabe maliciosamente). Assim sobe
numa árvore, para poder ver. E mais que ver, ele acaba sendo visto.
2. A multidão não vê com bons olhos o
gesto de Jesus, eles vêm Zaqueu, o pecador, odioso e ávido cobrador de
impostos, um ladrão. Jesus vê de uma outra maneira. Não para na crosta
dos defeitos, a rompe para penetrar mais profundo para encontra um outro
Zaqueu.
3. Ele traz à luz um novo Zaqueu, o
verdadeiro Zaqueu. O olhar de Jesus é, em certo sentido, criador. Chama à
existência uma pessoa. Desperta o seu ser autêntico, real. Busca, traz à luz o
que há de bom; o melhor de cada pessoa. Um olhar revelador, pois revela ao
próprio ser humano suas possibilidades, sua verdadeira dimensão.
4. A salvação começa com um olhar. A
caridade para com o próximo não pode começar se não com um olhar. Esse ver
diferente da parte de Cristo pode ser definido com uma outra palavra: fé. Sim.
Jesus acreditou em Zaqueu. Quando todos já o haviam julgado e liquidado
definitivamente como pouco bom e de quem se deve estar distante.
5. Em quantas situações, mesmo em
nossas famílias, quantos já não acreditam mais em nós. Talvez os tenhamos
desiludidos. Quantas vezes não já perdemos a confiança em nós mesmos?
6. A liturgia da palavra de hoje nos
recorda que independente do que tenhamos feito, por maior e oprimente que seja
o peso das nossas misérias, por quanto escuro seja o nosso passado, por mais
que tenha sido um fracasso a nossa vida até esse momento, tem Alguém que, não
obstante tudo, continua obstinadamente a crer em nós e a esperar qualquer coisa
diferente da nossa parte...
7. Ter fé significa crer em Um que crê em nós. Devemos descer, como Zaqueu, da árvore das resignações, dos remorsos,
medos, e responder a essa voz que nos chama pelo nome, não para atirar-nos na
cara nossos malfeitos, mas as nossas possibilidades até o momento intactas.
8. Zaqueu passa da curiosidade à fé. Fé
como resposta a Alguém que acreditou nele. Que se auto convidou à sua casa. A
fé de Zaqueu se manifesta com duas características: libertação e cura da
cegueira. Primeiro Jesus o liberta das coisas, depois lhe abre o olhar, por
isso agora consegue enxergar os outros: os pobres e a quem fraudou...
9. Para Zaqueu a fé se traduz no
imediato distanciamento da riqueza acumulada. Acolher Deus significa
desembaraçar-se de certos ídolos. Ele passa a olhar com mais cuidado, aqueles
que o chamam de pecador. Vê o próximo que lhe é hostil também como irmão.
10. Esse sujeito que era um ‘separado’,
no gesto de dividir passa a ser o homem do encontro. Isso porque Alguém, antes,
saiu a procurar. Esse muro de separação que ele havia criado é derrubado por um
olhar que o revela enquanto estava empoleirado em uma árvore.
Pe. João Bosco Vieira Leite