31º Domingo do Tempo Comum – Ano C –

(Sb 11,22—12,2; 144[145]; 2Ts 1,11—2,2; Lc 19,1-10)

1. Zaqueu é salvo, sem dúvida, por um olhar. Todo o episódio é articulado sob um ‘ver’. Ele busca ‘ver’, mas não consegue, porque a multidão o impede (quem sabe maliciosamente). Assim sobe numa árvore, para poder ver. E mais que ver, ele acaba sendo visto.

2. A multidão não vê com bons olhos o gesto de Jesus, eles vêm Zaqueu, o pecador, odioso e ávido cobrador de impostos, um ladrão.  Jesus vê de uma outra maneira. Não para na crosta dos defeitos, a rompe para penetrar mais profundo para encontra um outro Zaqueu.

3. Ele traz à luz um novo Zaqueu, o verdadeiro Zaqueu. O olhar de Jesus é, em certo sentido, criador. Chama à existência uma pessoa. Desperta o seu ser autêntico, real. Busca, traz à luz o que há de bom; o melhor de cada pessoa. Um olhar revelador, pois revela ao próprio ser humano suas possibilidades, sua verdadeira dimensão. 

4. A salvação começa com um olhar. A caridade para com o próximo não pode começar se não com um olhar. Esse ver diferente da parte de Cristo pode ser definido com uma outra palavra: fé. Sim. Jesus acreditou em Zaqueu. Quando todos já o haviam julgado e liquidado definitivamente como pouco bom e de quem se deve estar distante.

5. Em quantas situações, mesmo em nossas famílias, quantos já não acreditam mais em nós. Talvez os tenhamos desiludidos. Quantas vezes não já perdemos a confiança em nós mesmos?

6. A liturgia da palavra de hoje nos recorda que independente do que tenhamos feito, por maior e oprimente que seja o peso das nossas misérias, por quanto escuro seja o nosso passado, por mais que tenha sido um fracasso a nossa vida até esse momento, tem Alguém que, não obstante tudo, continua obstinadamente a crer em nós e a esperar qualquer coisa diferente da nossa parte...

7. Ter fé significa crer em Um que crê em nós. Devemos descer, como Zaqueu, da árvore das resignações, dos remorsos, medos, e responder a essa voz que nos chama pelo nome, não para atirar-nos na cara nossos malfeitos, mas as nossas possibilidades até o momento intactas.

8. Zaqueu passa da curiosidade à fé. Fé como resposta a Alguém que acreditou nele. Que se auto convidou à sua casa. A fé de Zaqueu se manifesta com duas características: libertação e cura da cegueira. Primeiro Jesus o liberta das coisas, depois lhe abre o olhar, por isso agora consegue enxergar os outros: os pobres e a quem fraudou...

9. Para Zaqueu a fé se traduz no imediato distanciamento da riqueza acumulada. Acolher Deus significa desembaraçar-se de certos ídolos. Ele passa a olhar com mais cuidado, aqueles que o chamam de pecador. Vê o próximo que lhe é hostil também como irmão.

10. Esse sujeito que era um ‘separado’, no gesto de dividir passa a ser o homem do encontro. Isso porque Alguém, antes, saiu a procurar. Esse muro de separação que ele havia criado é derrubado por um olhar que o revela enquanto estava empoleirado em uma árvore.

 Pe. João Bosco Vieira Leite