(Ef 2,1-10; Sl 99[100]; Lc 12,13-21)
29ª Semana do Tempo Comum.
“Mas Deus lhe disse:
‘Louco! Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida.
E para quem ficará o
que tu acumulaste?’ Lc 12,20.
“Aquele que acumula
riquezas para si e não para Deus é um insensato. A vida não se pode assegurar
por meio dos bens materiais. O homem encontra-se sempre tentado a buscar a
salvação e a segurança nos bens da terra, nas riquezas, nas posses. O dinheiro
garante o futuro e, consequentemente, é pouco todo empenho que se aplique para
conseguir dinheiro e mais dinheiro, e nunca chega a pensar que já tem
suficiente; quanto mais tem mais quer, e a sociedade de consumo e de diversão,
na qual estamos submersos, leva-o pelo mesmo caminho, uma vez que o melhor e
mesmo o único meio para poder conseguir muito e já possuir muito. Isso
descentraliza e desloca o homem e faz com que tudo o que ele realize seja
excêntrico e fora dos eixos, tudo está desorientado, pois os bens terrenos não
garantem nem a própria vida, menos ainda asseguram a salvação, a vida eterna. É
este precisamente o tema central da parábola: a preocupação com as riquezas é
um disparate, porque a vida temporal não se baseia nelas e nem delas depende, e
muitíssimo menos ainda delas depende a outra vida. Jesus propõe-nos uma parábola,
na qual o interlocutor, falando consigo mesmo, dizia: ‘Tens muitos bens em
depósito para muitíssimos anos’ (v. 19). Talvez se tivesse pensado nisso, não a
sós consigo mesmo, mas junto com seu próximo e, sobretudo, em seu monólogo
tivesse deixado Deus intervir, transformando-o em um diálogo de oração, não
teria chegado àquela conclusão glutona: ‘Descansa, come, bebe, regala-te’ (v.
19). Não interessa tanto nessa parábola o egoísmo do rico, ou a sua procura de
prazeres; o que mais interessa é a segurança que se promete para o futuro;
seguro de si mesmo e de sua posição, planeja, para o futuro, gozo sem medida.
Quando Deus interfere é para dizer-lhe: ‘Insensato! Nesta noite ainda exigirão
de ti a tua alma’ (v. 20). Não se ajusta melhor a esse homem outro apelativo
que possa qualificar uma atitude como aquela: insensato, porque pensaste que
teus bens iriam servir-te para acalmar tua consciência; insensato, porque
tendo esses bens, pensava que já tinhas tudo quanto é necessário para seres
feliz; insensato, porque olhaste ao teu derredor e não olhaste nem para cima
nem para o teu interior; insensato, porque julgaste que a felicidade consistia
em comer, em beber e em banquetear-se; insensato, porque essa mesma noite iriam
pedir-te a alma e da lama não se cuida comendo, bebendo ou banqueteando-se.
Somente aquele que acumula bens de Deus, bens que transcendem esta vida, os
bens da virtude e da santidade, que não se guardam nos silos da terra, mas que
se entesouram nos celeiros do céu, somente esse é verdadeiramente prudente e
sensato, esse é o que entesoura não só por muitos anos, mas por toda a
eternidade” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do
ano – Ave-Maria).
Pe. João Bosco Vieira Leite