Quarta, 12 de outubro de 2022

(Et 5,1-2; 7,2-3; Sl 44[45]; Ap 12,1.5.13.15-16; Jo 1,1-11) 

Nossa Senhora Aparecida.

1. Cada celebração de caráter mariano nos coloca diante dessa característica particular do povo católico: esse olhar contínuo para a Mãe de Jesus, como se fosse um referencial contínuo para o nosso discipulado, que busca entender e fazer o que seu Filho nos diz.

2. Como percebemos na narrativa que acompanhamos, os protagonistas não são os noivos, mas Jesus e sua mãe, Maria. Isso nos aponta para dois níveis de leitura do acontecimento: o cristológico, referido a Jesus que realiza o milagre; e o mariológico, baseado na intervenção suplicante de Maria.

3. Há uma rica simbologia por trás do nosso evangelho, mas o nosso olhar, hoje, se volta para a intercessão de Maria, que antecipa a ‘hora’ de Jesus. No 4º evangelho Maria é mencionada do princípio ao fim: em Caná e ao pé da cruz. Dois momentos de glorificação de Jesus: o primeiro e o último.

4. A escolha desse texto para a festa de Aparecida tem a ver com essa clara solicitação maternal de Maria à necessidade do próximo – neste caso, os jovens esposos –, e é prova, também, da eficácia da sua intercessão ante seu Filho. Assim entendeu o povo cristão desde sempre, confiando na mediação da Mãe do Senhor, pelos séculos afora, venerando e invocando-a continuamente.

5. A devoção a Maria tem três bases ou fontes doutrinais que são ao mesmo tempo chaves de interpretação e compreensão da sua figura, assim como da sua intercessão e mediação subordinada à de Cristo. São elas a Bíblia, particularmente os evangelhos; Cristo, sua pessoa, mensagem e obra; a Igreja, de que Maria é membro, modelo e mãe espiritual.

6. A Bíblia mostra-nos Maria como a mulher da história da salvação, ou seja, dentro do projeto salvador de Deus por Jesus Cristo. Como podemos vislumbrar nos outros textos dessa celebração. Maria é aquela que os católicos não adoram, veneram: uma mulher dentro do plano redentor de Deus e cuja vocação, missão e mistério são inseparáveis de Cristo.

7. A figura de Maria não pode ser entendida se não a partir de Cristo, pois tudo em Maria tem raiz, orientação e sentido a partir do seu Filho, que é Deus. Esta sua maternidade divina que o povo cristão expressa com as mil e uma invocações com que venera e invoca a Virgem em todo o mundo.  Tudo sobre ela está inserida no mistério de Cristo.

8. E ao dizer Cristo, estamos também falando nas duas outras pessoas da Santíssima Trindade, com quem a figura de Maria tem relação, como fonte da sua missão, grandeza, dignidade e privilégios. Tudo isso é percebido existencialmente pelo povo católico, quando é fruto de uma religiosidade popular mariana bem orientada...

9. A terceira referência básica de uma piedade mariana autêntica é a Igreja. O Vat. II afirma que, depois de Cristo, ela ocupa na Igreja o lugar mais alto e também mais próximo de nós (LG 54). Maria é a mulher nova que representa, com Cristo, para a humanidade, a amizade restaurada com Deus, que o pecado tinha quebrado.

10. Maria é a cristã perfeita, a primeira entre os discípulos de Jesus, que escuta a palavra de Deus, medita-a no seu coração, assimila-a e põe-na em prática. Por tudo isso, e muito mais, em Maria, a Igreja ‘vê e exalta o mais excelso fruto da Redenção, em quem contempla, qual imagem puríssima, o que ela, com alegria, deseja e espera ser’.

11. “Viva a Mãe de Deus e nossa, sem pecado concebida. Salve, ó Virgem Imaculada, a Senhora Aparecida!”      

Pe. João Bosco Vieira Leite