(Et 5,1-2; 7,2-3; Sl 44[45]; Ap 12,1.5.13.15-16; Jo 1,1-11)
Nossa Senhora Aparecida.
1. Cada celebração de caráter mariano
nos coloca diante dessa característica particular do povo católico: esse olhar
contínuo para a Mãe de Jesus, como se fosse um referencial contínuo para o
nosso discipulado, que busca entender e fazer o que seu Filho nos diz.
2. Como percebemos na narrativa que
acompanhamos, os protagonistas não são os noivos, mas Jesus e sua mãe, Maria.
Isso nos aponta para dois níveis de leitura do acontecimento: o cristológico,
referido a Jesus que realiza o milagre; e o mariológico, baseado na intervenção
suplicante de Maria.
3. Há uma rica simbologia por trás do
nosso evangelho, mas o nosso olhar, hoje, se volta para a intercessão de Maria,
que antecipa a ‘hora’ de Jesus. No 4º evangelho Maria é mencionada do princípio
ao fim: em Caná e ao pé da cruz. Dois momentos de glorificação de Jesus: o
primeiro e o último.
4. A escolha desse texto para a festa
de Aparecida tem a ver com essa clara solicitação maternal de Maria à
necessidade do próximo – neste caso, os jovens esposos –, e é prova, também, da
eficácia da sua intercessão ante seu Filho. Assim entendeu o povo cristão desde
sempre, confiando na mediação da Mãe do Senhor, pelos séculos afora, venerando
e invocando-a continuamente.
5. A devoção a Maria tem três bases ou
fontes doutrinais que são ao mesmo tempo chaves de interpretação e compreensão
da sua figura, assim como da sua intercessão e mediação subordinada à de
Cristo. São elas a Bíblia, particularmente os evangelhos; Cristo, sua pessoa,
mensagem e obra; a Igreja, de que Maria é membro, modelo e mãe espiritual.
6. A Bíblia mostra-nos Maria como a
mulher da história da salvação, ou seja, dentro do projeto salvador de Deus por
Jesus Cristo. Como podemos vislumbrar nos outros textos dessa celebração. Maria
é aquela que os católicos não adoram, veneram: uma mulher dentro do plano
redentor de Deus e cuja vocação, missão e mistério são inseparáveis de Cristo.
7. A figura de Maria não pode ser
entendida se não a partir de Cristo, pois tudo em Maria tem raiz, orientação e
sentido a partir do seu Filho, que é Deus. Esta sua maternidade divina que o
povo cristão expressa com as mil e uma invocações com que venera e invoca a
Virgem em todo o mundo. Tudo sobre ela está inserida no mistério de
Cristo.
8. E ao dizer Cristo, estamos também
falando nas duas outras pessoas da Santíssima Trindade, com quem a figura de
Maria tem relação, como fonte da sua missão, grandeza, dignidade e privilégios.
Tudo isso é percebido existencialmente pelo povo católico, quando é fruto de
uma religiosidade popular mariana bem orientada...
9. A terceira referência básica de uma
piedade mariana autêntica é a Igreja. O Vat. II afirma que, depois de Cristo,
ela ocupa na Igreja o lugar mais alto e também mais próximo de nós (LG 54).
Maria é a mulher nova que representa, com Cristo, para a humanidade, a amizade
restaurada com Deus, que o pecado tinha quebrado.
10. Maria é a cristã perfeita, a
primeira entre os discípulos de Jesus, que escuta a palavra de Deus, medita-a
no seu coração, assimila-a e põe-na em prática. Por tudo isso, e muito mais, em
Maria, a Igreja ‘vê e exalta o mais excelso fruto da Redenção, em quem
contempla, qual imagem puríssima, o que ela, com alegria, deseja e espera ser’.
11. “Viva a Mãe de Deus e nossa, sem
pecado concebida. Salve, ó Virgem Imaculada, a Senhora
Aparecida!”
Pe. João Bosco Vieira Leite