Sexta, 24 de abril de 2020


(At 5,34-42; Sl 26[27]; Jo 6,1-15) 
2ª Semana da Páscoa.

“Recolheram os pedaços e encheram doze cestos com as sobras dos cinco pães,
deixadas pelos que haviam comido” Jo 6,13.

“O texto da multiplicação dos pães é repleto de ensinamentos preciosos, que nem sempre são percebidos pela simples leitura. E um dos ensinamentos preciosíssimos deste texto diz respeito justamente ao recolhimento das sobras. Tudo começou pela recomendação dos discípulos, para que Jesus despedisse as multidões – eles haviam passado o dia com elas –, já era tarde e estavam longe de casa, e passa pela recomendação/resposta de Jesus, de que eles mesmos deveriam dar de comer à multidão. Impossível não seria, já que a ordem partia de Jesus. É diferente de Filipe, que se encheu de desculpa diante de Jesus, André saiu e encontrou os pães e peixes, suficientes para Jesus os transformar em alimento para todos. ‘Dai-lhe vós mesmos de comer’ não é lá uma ordem razoável e voluntária de se cumprir, mesmo em se tratando de cristãos. E principalmente de igrejas. Estas, o imaginário senso comum, infelizmente com razão, elegeu como ambiciosas, gananciosas e consequentemente ricas, e cuja maior característica é justamente fechar-se para as necessidades da população, especialmente as mais pobres. Pois o texto do Evangelista João é especialmente desafiador: igrejas, abram seus cofres, contemplem as necessidades do povo sem o espírito da contabilidade de ‘gastos’, e aí vereis a matemática de Deus funcionar: ainda sobra muito para as necessidades internas. Este é o recado do texto. Este é o ensinamento que a simples leitura talvez não permita entender. Como fazer isto acontecer? Se a Igreja verdadeiramente fiel sempre venceu grandes embates com as perseguições e tentativas de destruição, não será um bom desafio que ela não saberá enfrentar e dar conta. Aliás, basta seguir o exemplo de André. - Senhor, Filipe ou André? Toda comparação é odiosa, mas o exemplo não. Que a Igreja e cada cristão sejam Andrés em busca de pão para os necessitados. Amém” (Augusto Jacob Grün – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite