2º Domingo da Páscoa – Ano A


(At 2,42-47; Sl 117[118]; 1Pd 1,3-9; Jo 20,19-31)

1. O 1º e o 2º domingo de Páscoa se caracterizam pela repetição do mesmo evangelho todos os anos. Nós temos duas aparições do Ressuscitado no evangelho de hoje que coincidem com o domingo, o dia da celebração, da Eucaristia, do Senhor.

2. Dois elementos importante se apresentam em nosso texto: do primeiro encontro vem o envio dos apóstolos sob a ação do Espírito; no segundo encontro a bem-aventurança da fé, provocada pela atitude de Tomé. A primeira aparição tem a intenção de resgatar o ânimo dos apóstolos, amedrontados e cheios de dúvidas.

3. Jesus os leva a compreensão de seu novo estado, mas também da nova condição deles enquanto enviados a dar continuidade ao projeto do Reino que um dia o próprio Jesus recebeu do Pai. Jesus sopra sobre eles o Espírito Santo, dando início a uma nova criação. Acrescenta-se o poder, ou a graça, de perdoar.

4. No segundo momento, oito dias depois, Jesus vem ao encontro de Tomé, que estava ausente no primeiro encontro e que não acreditou nos seus companheiros. Na realidade Jesus vem ao encontro de todos nós e da nossa dificuldade de crer.

5. Tomé vai de uma falta de fé e da dúvida para uma fé absoluta em poucos momentos. Sua fé vai mais longe e afirma muito mais do que vê, porque não nasce de um processo racional, ou de comprovações, mas de um coração rendido ao amor, que em Jesus, vem ao nosso encontro.

6. Assim se acrescenta uma nova bem-aventurança àquelas que Jesus já havia proclamado. A nós dirá Pedro: “Ele, a quem amais sem ter visto, em quem acreditais sem vê-lo ainda: por isso exultai com alegria inefável e gloriosa” 1Pd 1,8.

7. Nossa realidade está cada vez mais marcada pelo racionalismo e comprovação empírica que aplicamos também ao território da fé. Nos momentos de crises, e este não é diferente, procuramos provas e seguranças. Parece que dentro de nós carregamos uma resistência em crer.

8. Crer é sempre um desafio, pois constantemente nos debatemos entre fé e razão, fé e insegurança, fé e escuridão. E aí fazemos como Tomé: pedimos luz e alguma prova para continuar acreditando e aceitando a vontade divina em todos os âmbitos de nossa vida.

9. Talvez nos falte esse amor que brotou dos lábios de Tomé, pois acreditar seriamente comporta risco, compromisso e generosidade, que por vezes nos falta em nossa descoberta de Sua presença na convivência fraterna, nas alegrias e tristezas de cada dia.

“Senhor Jesus, mesmo sem Te vermos com estes olhos de carne, a nossa ardente profissão de fé é hoje o apóstolo Tomé, primeiramente incrédulo e depois crente exemplar: Cremos em Ti, nosso Senhor e Deus! Procuramos razões, provas e segurança absoluta para crer e aceitar Deus em nossa vida pessoal e social. Mas Tu nos dizes: felizes os que acreditam sem terem visto! Tu és, Senhor, a razão da nossa fé, esperança e amor. Abre-nos, Senhor Jesus, aos outros, às suas dores e alegrias, porque, quando amamos e partilhamos, estamos a testemunhar a tua ressurreição num mundo novo de amor e fraternidade. Amém” (B. Caballero – A Palavra de Cada Domingo – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite