Quarta, 08 de abril de 2020


(Is 50,4-9; Sl 68[69]; Mt 26,14-25) 
Semana Santa.

“O Filho do homem vai morrer, conforme diz a Escritura a respeito dele” Mt 26,24a.

“Jesus não é somente Profeta. É o Messias prometido, o Agente da Reconciliação anunciada pela Bíblia, o Instaurador do Reino de Deus. Sua vida é uma vida ‘messiânica’, mas numa forma inversa dos comportamentos previstos pela espera popular. Esta esperava um Salvador que a dispensasse de criar a história e dominar o destino; aspirava por um Reino poderoso instaurado pelo Messias. Jesus recusou-se a entrar nessa esperança, recusou as Tentações. O seu messianismo não devia em nada subverter a condição histórica dos homens. Foi por não ter realizado essa subversão, que Jesus sofreu a condenação à morte. Entre a Promessa e a espera, um mal-entendido se tinha insinuado. Jesus destruiu esse mal-entendido. Ele não agiu como se esperava dum Messias-Salvador. A sua morte transforma o messianismo, e essa mudança é já uma Libertação: Deus não nos concede o Reino, isto é, uma fraternidade vivida dele e nele, pela força. Porque foi bem por causa das nossas faltas, que o Cristo foi condenado, pois que, numa situação histórica conflitual, não tendo Jesus fugido à confrontação, foi quebrado por causa da sua liberdade em face das pressões religiosas, políticas e sociais, que significavam a vontade coletiva de não sair das oposições odientas. Jesus foi, pois, vítima do que a Bíblia chama pecado: os seus contemporâneos preferiram suas cadeias à liberdade e ao amor que ele lhes oferecia. Preferindo seus próprios grilhões, eles o condenaram.... Mas Jesus não só morreu por causa de nós. Ele morreu ‘por nós’, morreu pelos nossos pecados. Estimou-nos bastante, com efeito, para julgar que a sua fidelidade seria mais eficaz do que uma demonstração de poderio. Sua condenação injusta, provocada por sua luta pela justiça, interroga a cada um, e é, por isto, uma força de renovação, uma primeira quebra do fechamento do homem sobre si. Jesus não morre de morte natural. Ele é morto: sua morte é fruto do pecado, a consequência do ódio. Nenhum ato de força pode inverter o movimento que vai do ódio à morte, senão o inverter o sentido da morte: aceita-la por liberdade e por amor. Jesus sofre a morte e perdoa. O ódio pode matar o corpo, mas não pode nada contra o perdão que Jesus concede. Jesus, perdoando, assina definitivamente o Perdão de Deus” (C. Duquoc – La mort du Christ – Ed. Beneditinas Ltda.)  

Pe. João Bosco Viera Leite