(Is 50,4-9; Sl 68[69]; Mt 26,14-25)
Semana Santa.
“O Filho do homem vai
morrer, conforme diz a Escritura a respeito dele” Mt 26,24a.
“Jesus não é somente
Profeta. É o Messias prometido, o Agente da Reconciliação anunciada pela
Bíblia, o Instaurador do Reino de Deus. Sua vida é uma vida ‘messiânica’, mas
numa forma inversa dos comportamentos previstos pela espera popular. Esta
esperava um Salvador que a dispensasse de criar a história e dominar o destino;
aspirava por um Reino poderoso instaurado pelo Messias. Jesus recusou-se a
entrar nessa esperança, recusou as Tentações. O seu messianismo não devia em
nada subverter a condição histórica dos homens. Foi por não ter realizado essa
subversão, que Jesus sofreu a condenação à morte. Entre a Promessa e a espera,
um mal-entendido se tinha insinuado. Jesus destruiu esse mal-entendido. Ele não
agiu como se esperava dum Messias-Salvador. A sua morte transforma o
messianismo, e essa mudança é já uma Libertação: Deus não nos concede o Reino,
isto é, uma fraternidade vivida dele e nele, pela força. Porque foi bem por
causa das nossas faltas, que o Cristo foi condenado, pois que, numa situação
histórica conflitual, não tendo Jesus fugido à confrontação, foi quebrado por
causa da sua liberdade em face das pressões religiosas, políticas e sociais,
que significavam a vontade coletiva de não sair das oposições odientas. Jesus
foi, pois, vítima do que a Bíblia chama pecado: os seus contemporâneos
preferiram suas cadeias à liberdade e ao amor que ele lhes oferecia. Preferindo
seus próprios grilhões, eles o condenaram.... Mas Jesus não só morreu por causa
de nós. Ele morreu ‘por nós’, morreu pelos nossos pecados. Estimou-nos
bastante, com efeito, para julgar que a sua fidelidade seria mais eficaz do que
uma demonstração de poderio. Sua condenação injusta, provocada por sua luta
pela justiça, interroga a cada um, e é, por isto, uma força de renovação, uma
primeira quebra do fechamento do homem sobre si. Jesus não morre de morte
natural. Ele é morto: sua morte é fruto do pecado, a consequência do ódio.
Nenhum ato de força pode inverter o movimento que vai do ódio à morte, senão o
inverter o sentido da morte: aceita-la por liberdade e por amor. Jesus sofre a
morte e perdoa. O ódio pode matar o corpo, mas não pode nada contra o perdão
que Jesus concede. Jesus, perdoando, assina definitivamente o Perdão de Deus” (C. Duquoc – La
mort du Christ – Ed. Beneditinas Ltda.)
Pe. João Bosco Viera Leite