Domingo de Ramos – Ano A


(Mt 21,1-11; Is 50,4-7; Sl 21[22]; Fl 2,6-11; Mt 27,11-54).

1. Viveremos essa Semana Santa num recolhimento particular de escuta da Palavra do Senhor, como nos fala a experiência do próprio Isaias na 2ª leitura: “ele me desperta cada manhã e me excita o ouvido, para prestar atenção como um discípulo”. Que não tenhamos resistência aos apelos do Senhor.

2. Cada Semana Santa é uma atualização dos mistérios centrais da nossa Redenção: paixão, morte e ressurreição de Jesus. E o fazemos na fé, tentando entender o vivenciar esse mistério de ressurreição, vida e triunfo, através da humilhação, da cruz e da morte.

3. Mesmo não participando da procissão de Ramos, podemos tomar o evangelho que nos recorda essa passagem, pois este está relacionado a narrativa da paixão que acompanharemos. Estre esses dois textos contemplamos a figura de Jesus sobre o qual se projeta a imagem do Servo sofredor de Isaias, apesar da sua condição divina, nos lembra Paulo.

4.O texto que citamos acima da narrativa é o mais breve, mas podemos toma-lo na íntegra, tanto quanto dos outros evangelistas. Perceberemos algumas pequenas diferenças, mas no geral nos trazem o fundamental da narrativa dos fatos.

5. Tenhamos presente que essas narrativas são pós pascais e funcionam  como uma proclamação, profissão de fé e interpretação teológica. A paixão e morte do Senhor se deu para nossa salvação, na livre obediência de Jesus ao plano do Pai em seu amor pela humanidade, apesar dos nossos pecados.

6. Podemos olhar essas narrativas sob o plano humano, racional, de uma condenação arbitrária, de um erro judicial, como experimentaram os discípulos no momento dos fatos. Mas depois de uma releitura dos fatos eles puderam entender, como nós entendemos, nesses acontecimentos, a realização do plano divino.

7. No meio de todo esse grotesco e doloroso espetáculo está Cristo, senhor da situação, consciente do seu papel e da sua condição divina.

8. A aceitação e a rejeição de Jesus, que vemos ao longo dos evangelhos se acentuam nessas narrativas da Paixão. Entre as autoridades religiosas que pedem a sua morte e até incitam as multidões, encontramos uma série de homens e mulheres tocados por Sua graça e até pessoas não crentes que O reconhecem como Filho de Deus.

9. Através dessas narrativas a Igreja pôde compreender a si mesma como continuadora da missão de Jesus, lutando contra a tentação do triunfalismo e poder político, buscando parecer-se com o seu Mestre, sem esquecer que será também incompreendida e perseguida.

10. Assim podemos contemplar esse itinerário da paixão, morte e ressurreição de Jesus também no caminhar do povo de Deus e até no nosso itinerário pessoal. A libertação e salvação que buscamos passa pelo sacrifício, pelo serviço, pela nossa solidariedade com os sofrimentos do mundo. Como fez o Cristo de Deus.

11. Esse momento especial que vivemos nos coloca em comunhão com muitos que sofrem as consequências dessa epidemia e desafia nossa solidariedade de muitos modos. Que essa Santa Semana nos propicie momentos iluminados de reflexão e de conversão pessoal. Oremos:
“Glória a Ti, Senhor Jesus, o servo sofredor do Pai, porque com a tua cruz gloriosa mostras um amor sem fronteiras. Ninguém Te tira a vida, Tu que a entregas voluntariamente por nós e pela nossa salvação. Mistério de amor! Não queremos lavar as mãos nem ser meros espectadores no drama da tua paixão. Reconhecemos culpa e pecado. Os teus inimigos julgaram calar a tua voz para sempre, mas a semente da tua palavra germina no coração de quem ama e de quem vive contigo o espírito das Bem-aventuranças. Concede-nos seguir-Te incondicionalmente, enquanto anunciamos a tua morte e proclamamos a tua ressurreição. Vem, Senhor Jesus!” (B. Caballero – A Palavra de cada Domingo – Ano A – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite