(Is 42,1-7; Sl 26[27; Jo 12,1-12)
Semana Santa.
“Maria, tomando quase
meio litro de perfume de nardo puro e muito caro,
ungiu os pés de Jesus
e enxugou-os com seus cabelos” Jo 12,3.
“Toda a cidade
conhece essa mulher: é uma pecadora. À sua passagem, os olhos acendem-se de
cobiça, ou desviam-se, escandalizados. Essa mulher, que só é olhada para ser
desejada ou condenada, Jesus a vê colocar a seus pés tudo o que utilizava para
seduzir: suas lágrimas, seus cabelos, seu perfume. A esse gesto tão carteristicamente
feminino, o próprio Cristo é profundamente sensível; não esconde sua emoção e
admiração, mas logo nelas revela o segredo miraculoso de pureza. Não existe
mais aqui a mulher feita para seduzir, nem o homem triunfante, orgulhoso de
deixar vislumbrar sua vitória. Existe um coração perdido que, de uma vez, soube
ir até o fim do amor e um coração bastante casto para ter sabido reconhece-lo,
atingi-lo e libertá-lo. O mais singular na conduta de Jesus, com as mulheres,
é, sem dúvida, sua perfeita naturalidade. Mais de uma vez, sua liberdade de
comportamento espanta... Jesus deixa-se aproximar de pecadoras e por elas ser
tocado, dá as prostitutas em exemplo: chocante para sua roda! Nunca, no entanto,
ousaram acusa-lo ou suspeitá-lo de provocação ou de complacência equívoca...
Pois Jesus, que escolheu viver rodeado de doze homens, por Ele chamados, acolhe
todas as mulheres encontradas no seu caminho ou vindas a Ele, sem jamais
revelar acanhamento, reserva, atrativo ou preferência. As mulheres que chamam
sua atenção, de preferência, são as de gestos e cuidados femininos. A todas
encontrou, olhou, escutou; não desprezou nem lisonjeou nenhuma. É isento de
reflexos de aversão às mulheres dos quais S. Paulo, apesar de sua liberdade de
espírito, é em parte prisioneiro. A liberdade de Cristo é de uma outra ordem;
não depende de princípios ou de fórmulas; é a de alguém para quem a união
sexual é coisa provisória, que deve cessar na Ressurreição e que se pode
escolher, ignorar, sem deixar de ser homem ou mulher (Mt 19,12). Mas ele, mesmo
ressuscitado, continua a chamar uma mulher por seu nome e a fazer apelos a seu
coração... Jesus é perfeitamente casto, é totalmente homem” (J. Guillet
– Chasteté du Christe – Ed. Beneditinas Ltda.).
Pe. João Bosco Viera Leite