Sexta, 10 de abril de 2020


(Is 52,13—53,12; Sl 30[31]; Hb 4,14-16;5,7-9; Jo 18,1—19,42) 
Paixão do Senhor.

“Então Pilatos entregou Jesus para ser crucificado, e eles o levaram” Jo 19,16.

“A Cruz. É uma realidade brutal: a Fé é suspensa à Cruz. A Fé só está de pé porque a Cruz é de pé. Ela não está de pé senão porque Deus se revelou. Não teria nenhum sentido se ela fosse a Cruz dum Deus morto. Ela não é um porta-cadáver: a Ressurreição, eis o fruto dessa árvore de vida que é a Cruz. Árvore do conhecimento de Deus. É a Cruz que nos permitiu conhecer a Deus até ao fim, saber até aonde ia Deus: até a Ressurreição. Deixar a Cruz na sombra, é tratar a Cruz como um não instrumento que Deus teria achado genial para resgatar o pecado. A Cruz não é um ‘comércio de Deus’. Ela é a dimensão de Deus sobre a terra. É o espaço humano-divino, único espaço da Ressurreição. A cruz não é um acidente na vida do Cristo, o acidente final fatal. É a suspensão de toda medida da vida de Deus em Jesus Cristo feito homem. Ela é expressão de amor. É desta inverossímil linguagem de amor através da qual Deus quis exprimir o inexprimível. É somente esta vontade de amor que nos permite acolher esse Mistério. Nosso Deus não é um Deus sádico que teria prazer em sofrer para resgatar o homem, e que, ao mesmo tempo, se alegraria de ver o homem sofrer para se deixar resgatar. Sejamos francos: fala-se da Ressurreição para estar ao diapasão do tempo, ou para convidar os cristãos a viver a sua fé em sua plenitude batismal, a fazer de sua vida a passagem da morte à vida? Só se fala bem da Ressurreição, se se vive bem da Cruz. Cabe-nos a nós reencontrar o senso da Cruz, olhando face a face o maior escândalo de todos os tempos. A Cruz é um suplício; não há Cruz sem esquartejamento. A Cruz é uma tortura; não há Cruz sem ignomínia. A Cruz é abjeta; Jesus foi ferido pela Cruz no dia em que ela se tornou sua Cruz. Jesus tropeçou, caiu sob o peso da Cruz. A Cruz foi para Deus essa pedra de tropeço que ele tinha assinalado. Ela é para nós o obstáculo dos obstáculos, uma ‘loucura’: ela nos fere, nos mata... mas é, bem sabemos, a Árvore da Misericórdia, a Glória!” (P. Talec – Les choses de la Foi - Ed. Beneditinas Ltda.).

Pe. João Bosco Vieira Leite