(2Sm 5,1-3; Sl 121[122]; Cl 1,12-20; Lc 23,35-43)
1. Encerramos o nosso ano litúrgico com
a solenidade de Cristo Rei e a atenção da liturgia da Palavra nos orienta para
a compreensão do papel real de Jesus. Primeiro, como herdeiro de Davi na
compreensão e missão daquele que vem para apascentar o povo de Israel. Assim a
1ª leitura quer iluminar o evangelho.
2. Davi, que reinava tão somente sobre
a tribo de Judá, agora é acolhido como rei de todo o Israel. No texto ele é
reconhecido como membro da família, ‘somos ossos de tua carne’, Deus o
escolheu. Não é difícil perceber que tudo isso tem a ver com Cristo.
3. A 2ª leitura nos permitiu escutar um
antigo hino sobre o primado de Jesus, provavelmente de língua aramaica que
Paulo incrustou na sua carta, convidando-nos à ação de graças, onde faz alusão
ao Batismo enquanto acontecimento libertador que nos leva a tomar parte da
herança dos santos; depois segue trazendo uma série de títulos cristológicos
que celebra a superioridade absoluta de Cristo.
4. Pode nos parecer estranho que no
Evangelho a cena que Lucas nos oferece seja a crucifixão, mas é justamente aí
que Jesus é reconhecido como ‘rei’, pois foi condenado à morte de cruz por ter
afirmado ser ‘rei’; é este também o motivo da zombaria, e da condenação
conforme o letreiro de Pilatos em sua provocação aos judeus.
5. Justamente ali Ele se comporta como
um rei, com uma promessa segura e real para o malfeitor arrependido. Ele reina
salvando. Somente Lucas nos traz essa cena de caráter penitencial. Repete-se
aqui a cena do publicano no Templo. O hoje da salvação tão presente em Lucas se
repete.
6. É obvio que a realeza e Jesus não
tem nada a ver com os esquemas humanos, mesmo tendo aceitado o título de
Messias e Rei, ele se entendia de modo diferente. Os judeus não compreenderam,
os romanos equivocaram-se.
7. Lucas deixa clara a inocência de
Jesus, trabalhando a imagem do inocente que faz a vontade de Deus e por isso é
justificado, apesar da aparente derrota. O autor menciona por três vezes o
‘salvar-se a si mesmo’, que é a lógica do mundo, mas referindo-se a Jesus soa
como uma blasfêmia.
8. O drama está precisamente nisto:
Cristo reina dando-se a si mesmo, perdendo a sua vida para que o mundo possa
viver. Ele inverte a lógica do possuir e propõe a mentalidade da doação
generosa de si.
9. Para Lucas, que insiste no tema da
conversão, não precisamos ter pena de Jesus, nem compaixão pelas suas dores; a
melhor atitude é a consciência dos próprios pecados, arrepender-se deles e
tirar da cruz de Jesus a coragem e a força para mudar de vida.
10. Assim ele elabora nessa cena uma
catequese sobre o perdão e a salvação para os cristãos e ao mesmo tempo deixa
entender expressamente que a salvação é possível para todos, pois o
reinado de Cristo alarga a aliança de Davi a todos os povos e constitui com seu
sangue a possibilidade real de reconciliação com Deus Pai.
Pe. João Bosco Vieira Leite