Quarta, 13 de novembro de 2019


(Sb 6,1-11; Sl 81[82]; Lc 17,11-19) 
32ª Semana do Tempo Comum.

“Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro?” Lc 17,18.

“Que linguagem poderia exprimir dignamente a importância dos benefícios de Deus? ... São de tal modo abundantes que seu número nos escapa, tão grandes e de tal natureza que um só deles basta para nos tornar devedores de toda a nossa gratidão para com Aquele de quem recebemos. Mas aqui está um benefício que é impossível não levar em consideração, ainda, que não se quisesse fazê-lo; um benefício que não se pode de modo algum calar, quando se é dotado de inteligência e são razão, benefício do qual ninguém, no entanto, seria capaz de falar condignamente: Deus havia criado o homem à sua imagem e semelhança, julgando-o digno de conhece-lo; pelo dom da inteligência, colocara-o acima de todos os animais, estabelecendo-o no gozo das incomparáveis delícias do Paraíso; constituíra-o, enfim, senhor de tudo que na terra se encontrava. Entretanto, quando Deus o viu, assaltado pela serpente, cair no pecado e, pelo pecado, na morte e nos sofrimentos que levam a ela, não o rejeitou. Pelo contrário, deu-lhe em primeiro lugar o auxílio de sua lei; designou anjos para guarda-lo e protege-lo, enviou profetas para lhe censurar a maldade e ensinar a virtude; por meio de ameaças, conteve suas tendências para o mal e, por meio de promessas, estimulou suas disposições para o bem, mostrando continuamente, por salutares exemplos, o termo de um e de outro caminho. Quando, apesar dessas graças e de muitas outras mais, os homens persistiram na desobediência, Deus não se afastou deles. Depois de havermos ofendido nosso benfeitor por nossa indiferença diante dos sinais de sua benevolência, não fomos, todavia, abandonados pela bondade do Senhor, nem separados de seu amor, e sim tirados da morte e restituídos à vida por nosso Senhor Jesus Cristo, e a maneira como fomos salvos é digna de uma admiração ainda maior! ‘Ainda que fosse Deus, não considerou dever guardar ciosamente sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo a ponto de tomar a forma de escravo’ (Fl 2,6-7). Tomou nossas fraquezas, carregou nossos sofrimentos, foi esmagado por nós a fim de nos salvar por suas feridas (cf. Is 53,4-5); resgatou-nos da maldição, tornando-se, por nós, maldição (cf. Gl 3,13); sofreu a morte mais infamante para conduzir-nos à vida da glória. E não lhe bastou restituir a vida àqueles que estavam na morte, revestiu-os com a dignidade divina e preparou-lhes, no repouso eterno, uma felicidade que ultrapassa toda imaginação humana. Que retribuiremos, então, ao Senhor, por tudo que ele nos deu? (cf. Sl 115,12). Ele é tão bom que nada pede em compensação por seus benefícios; contenta-se em ser amado! Quanto a mim, direi a impressão que tenho: quando recordo essas coisas, apossa-se de mim terrível ansiedade, temendo que, em consequência de minha despreocupação e à força de me ocupar de vaidades, possa eu trair o amor de Deus, tornando-me um motivo de vergonha para Cristo” (S. Basílio – Grandes Regras – Ed. Beneditina Ltda.).

  Pe. João Bosco Vieira Leite