(Sb 6,1-11; Sl 81[82]; Lc 17,11-19)
32ª Semana do Tempo Comum.
“Não houve quem
voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro?” Lc 17,18.
“Que linguagem
poderia exprimir dignamente a importância dos benefícios de Deus? ... São de
tal modo abundantes que seu número nos escapa, tão grandes e de tal natureza
que um só deles basta para nos tornar devedores de toda a nossa gratidão para
com Aquele de quem recebemos. Mas aqui está um benefício que é impossível não
levar em consideração, ainda, que não se quisesse fazê-lo; um benefício que não
se pode de modo algum calar, quando se é dotado de inteligência e são razão,
benefício do qual ninguém, no entanto, seria capaz de falar condignamente: Deus
havia criado o homem à sua imagem e semelhança, julgando-o digno de conhece-lo;
pelo dom da inteligência, colocara-o acima de todos os animais, estabelecendo-o
no gozo das incomparáveis delícias do Paraíso; constituíra-o, enfim, senhor de
tudo que na terra se encontrava. Entretanto, quando Deus o viu, assaltado pela
serpente, cair no pecado e, pelo pecado, na morte e nos sofrimentos que levam a
ela, não o rejeitou. Pelo contrário, deu-lhe em primeiro lugar o auxílio de sua
lei; designou anjos para guarda-lo e protege-lo, enviou profetas para lhe
censurar a maldade e ensinar a virtude; por meio de ameaças, conteve suas
tendências para o mal e, por meio de promessas, estimulou suas disposições para
o bem, mostrando continuamente, por salutares exemplos, o termo de um e de
outro caminho. Quando, apesar dessas graças e de muitas outras mais, os homens
persistiram na desobediência, Deus não se afastou deles. Depois de havermos
ofendido nosso benfeitor por nossa indiferença diante dos sinais de sua
benevolência, não fomos, todavia, abandonados pela bondade do Senhor, nem
separados de seu amor, e sim tirados da morte e restituídos à vida por nosso
Senhor Jesus Cristo, e a maneira como fomos salvos é digna de uma admiração
ainda maior! ‘Ainda que fosse Deus, não considerou dever guardar ciosamente sua
igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo a ponto de tomar a forma de
escravo’ (Fl 2,6-7). Tomou nossas fraquezas, carregou nossos sofrimentos, foi
esmagado por nós a fim de nos salvar por suas feridas (cf. Is 53,4-5);
resgatou-nos da maldição, tornando-se, por nós, maldição (cf. Gl 3,13); sofreu
a morte mais infamante para conduzir-nos à vida da glória. E não lhe bastou
restituir a vida àqueles que estavam na morte, revestiu-os com a dignidade
divina e preparou-lhes, no repouso eterno, uma felicidade que ultrapassa toda
imaginação humana. Que retribuiremos, então, ao Senhor, por tudo que ele nos
deu? (cf. Sl 115,12). Ele é tão bom que nada pede em compensação por seus
benefícios; contenta-se em ser amado! Quanto a mim, direi a impressão que
tenho: quando recordo essas coisas, apossa-se de mim terrível ansiedade,
temendo que, em consequência de minha despreocupação e à força de me ocupar de
vaidades, possa eu trair o amor de Deus, tornando-me um motivo de vergonha para
Cristo” (S. Basílio – Grandes Regras – Ed. Beneditina
Ltda.).
Pe. João Bosco Vieira Leite