Domingo de Todos os Santos - 2019


(Ap 7,2-4.9-14; Sl 23[24]; 1Jo 3,1-3; Mt 5,1-12a)*

1. A nossa celebração de hoje é um reconhecimento dessa realidade que está para nós como um chamado, uma vocação, pois os santos não são uma pequena casta de eleitos, mas uma multidão inumerável, que a liturgia nos convida a contemplar.

2. Essa multidão não é formada tão somente por aqueles santos e santas oficialmente reconhecidos, mas os batizados de todas as épocas e nações, que procuraram cumprir com amor e fidelidade a vontade de Deus. Há muitos que desconhecemos, mas pela fé, sabemos que comungam dessa realidade.

3. Por isso o autor da 1ª leitura menciona a tal multidão que não se pode contar, que abraça todo o povo de Deus desde o Antigo Testamento, passando pelos mártires do início do cristianismo, beatos e santos dos séculos seguintes, até as testemunhas de Cristo do nosso tempo.

4. Contemplar essa multidão deve despertar em nós o desejo de ser como os santos, compartilhar essa intimidade com Deus, viver na sua família. Automaticamente nos viria a pergunta: como se chega a isso?

5. A santidade não depende da realização de ações nem obras extraordinárias, nem possuir carismas excepcionais. É necessário ouvir Jesus e depois segui-lo sem desanimar diante das dificuldades. Na confiança e no amor sincero à Jesus, aceitamos, como o grão de trigo sepultado na terra, morrer para si mesmo.

6. A santidade, embora siga diferentes percursos, passa sempre pelo caminho da Cruz, pelo caminho da renúncia de si mesmo. Basta que a gente leia de modo atento as biografias dos santos para percebermos como foi difícil perseverar no compromisso abraçado, atravessar a ‘grande tribulação’, nos diz o Apocalipse.

7. “O Exemplo dos santos constitui para nós o encorajamento a seguir os mesmos passos, a experimentar a alegria daqueles que confiam em Deus, porque a única verdadeira causa de tristeza e de infelicidade para o homem é viver longe de Deus” (Bento XVI).

8. A santidade exige esforço constante, mas é possível para todos, porque, mais do que uma obra do ser humano, é sobretudo um dom de Deus. Em Cristo, fomos chamados a essa filiação, nos lembra o autor da 2ª leitura. Ele nos amou por primeiro e nos chama a comunhão plena nesse mesmo amor.

9. João não quer que fiquemos indiferentes a esse mistério de amor que nos convida a desenvolvermos uma relação pessoal com Ele e que nos impele a amar os irmãos. O amor implica sempre um ato de renúncia a si mesmo, o ‘perder-se a si próprio’, e é precisamente assim que experimentamos a alegria.

10. Ao ouvirmos de novo as Bem-aventuranças, lembremos que Jesus é o bem-aventurado por excelência, e por isso nos toca tanto esse texto ao nos revelar a fisionomia espiritual de Jesus e exprimir o mistério de toda a sua existência, ao mesmo tempo que nos convida ao Seu seguimento, ao mistério da bem-aventurança.

11. É com Ele que o impossível torna-se possível, até o camelo pode passar no fundo de uma agulha (cf. Mc 10,25); com sua ajuda, somente com sua ajuda podemos tornar-nos perfeitos como é perfeito o Pai Celeste (cf. Mt 5,48).

12. Para isso é que nos alimentamos de Sua Palavra e do Seu Corpo e Sangue. Em comunhão com Ele, estamos em comunhão com os santos do céu, mas ainda peregrinos nessa Igreja que caminha para a glória definitiva. Por isso pedimos que nos ajudem a imitá-los e que nos comprometamos a responder com generosidade à vocação primária do nosso batismo. Maria se antecipa, como Mãe e espelho de toda santidade a nos mostrar o caminho.
* Compartilho nessa homilia alguns pontos da reflexão do Papa Emérito Bento XVI.

 Pe. João Bosco Vieira Leite