(1Mc 1,10-15.41-43.54-57.62-64; Sl 119[119]; Lc 18,35-43)
33ª
Semana do Tempo Comum.
“Jesus disse:
‘Enxerga, pois, de novo. A Tua fé te salvou’” Lc 18,42
“A Deus que se revela
mediante o Filho encarnado, Jesus Cristo, ‘deve-se a obediência da fé pela qual
o homem livremente se entrega todo a Deus prestando ao Deus revelador um
obséquio pleno do intelecto e da vontade e dando voluntário assentimento à
revelação feita por Ele” (DV 5). Deus vem a nós, para que cheguemos até Ele:
falou-nos e nós escutamos a sua Palavra; manifestou-se-nos e nós o
reconhecemos: atrai-nos a si e nós nos deixamos atrair num abandono consciente
e confiante. Este é, em substância, o misterioso movimento da fé. A iniciativa
divina na história da humanidade e na vida de cada homem concretiza-se numa
oferta de salvação, que é um convite a viver, não já como estranhos e
solitários, mas abandonando-se a Ele numa comunhão de pensamentos, sentimentos
e obras. A fé, portanto, é um livre dom de Deus. É um dom que, acolhido, torna-se
no homem semente de que nasce a ‘nova criatura’. Mediante o seu ato de fé o
homem se compromete numa decisão, livre, mas radical, que o leva a desenvolver
‘as suas faculdades de admiração, de intuição, contemplação, juízo e adoração,
até ratificar conscientemente a fé que recebeu como dom’ (CEI, Il Rinnovamento
della Catechesi, n. 41). Este dom que Deus nos oferece por intermédio de Jesus
no Espírito, não é simples confiança no progresso e no futuro da humanidade;
não se reduz a admitir a veracidade das afirmações, que o conhecimento pessoal
e direto não pôde constatar; não é uma crença que brote dos sentimentos e neles
se fundamente nem uma certeza prática em face de situações que não encontram
justificação no plano teórico; nem, finalmente, uma experiência vital
incomunicável. A fé é um mistério, no sentido bíblico da palavra: uma realidade
nova e transcendente, isto é, sobrenatural, criada por uma intervenção pessoal
e exclusiva de Deus, que, só Ele, é capaz de penetrar nos mais secretos
dinamismos de nosso ‘eu’ pessoal, inteligência, vontade, sentimentos, aí
implantando, no respeito da liberdade humana, uma semente de transformação
progressiva e radical, que se torna ‘o princípio vital da nova existência
sobrenatural do cristão’ (Paulo VI, em L´Osservatore Romano, 9/4/1970). Lua e
fermento, a fé é um impulso vital e original, que expõe o homem aos riscos
exaltantes e às experiências mais imprevisíveis: ‘Aquele que, movido pelo
Espírito, se torna atento e dócil à palavra de Deus, segue um itinerário de
conversão a Ele, de abandono à sua vontade, de conformação a Cristo, de
solidariedade na Igreja, de vida nova no mundo. É um itinerário que pode
comportar, ao mesmo tempo, a alegria do encontro e a contínua exigência de
ulterior procura; a compunção pela infidelidade e a coragem para recomeçar; a
paz da descoberta e a ânsia de novos conhecimentos; a certeza da verdade e a
constante necessidade de nova luz’ (Il Rinnovamento della Catechesi, n. 7)” (Conferência
Episcopal Italiana – Sedoc – Vozes).
Pe. João Bosco Vieira Leite