(2Mc 7,1-2.9-14; Sl 16[17]; 2Ts 2,16—3,5; Lc 20,27-38).
1. No final de semana anterior
meditávamos sobre Finados e Todos os Santos, temas ligados ao mistério da
ressurreição de Cristo. Hoje o tema da ressurreição é retomado. E para
preparar-nos ao evangelho a liturgia nos oferece este texto que celebra a coragem
de uma família judaica durante a perseguição de Antíoco IV Epifânio.
2. A liturgia nos oferece apenas alguns
dos 42 versículos que compõem a narrativa. Uma mãe e seus sete filhos se
recusam a comer carne de porco, proibida aos judeus. Eles preferem enfrentar a
morte, professando com firmeza a fé na ressurreição. É a primeira vez que o
tema da ressurreição aparece na Bíblia.
3. O texto pretende comover e perturbar
o leitor, para lhe transmitir uma mensagem: a fidelidade a Deus é mais
importante que qualquer outra coisa, pois Deus retribui, tanto a constância
heroica dos seus fiéis, quanto a crueldade do tirano opressor; a fonte desta
estupenda coragem é a espera confiante na futura ressurreição.
4. Também temos apenas alguns
versículos do salmo 17, tomando para nós como refrão os versículos finais sobre
a fé na ressurreição; tendo em conta a justiça divina, a quem ele contemplará
face a face ao despertar na Sua presença.
5. A celebração de Todos os Santos nos
fez perder o início da leitura da 2ª Carta aos Tessalonicenses, onde Paulo
fazia uma catequese sobre a vinda do dia Senhor. O texto de hoje reúne uma
série de exortações introduzidas em forma de oração, a fim de que Deus lhes
conceda ‘consolação’ e ‘esperança’, em meio a toda dificuldade.
6. Paulo pede também que rezem por ele,
pelo seu ministério evangelizador, para vencer toda oposição. Por fim, o dom da
fé por eles acolhido apoia-se na fidelidade de Deus e os fará fortes em toda
adversidade. Aqui se revela o modo como Paulo consegue transmitir segurança e
infundir confiança em seu ministério.
7. Jesus termina sua caminhada e já se
encontra em Jerusalém. Como os outros evangelhos, também Lucas nos deixa
algumas narrativas dos encontros e desencontros de Cristo com vários grupos
representativos do povo judaico. Hoje temos os saduceus, a classe aristocrática
dos sacerdotes, que rejeitava a doutrina da ressurreição.
8. Afim de ridicularizar Jesus e
demonstrar que a doutrina da ressurreição não tinha fundamento, contam uma
história que mais parece uma anedota. Eles se baseiam na lei que obrigava o
irmão de um homem que morrera sem filhos a casar com a viúva para gerar filhos
e manter o nome do irmão falecido.
9. Para os saduceus, a morte das oito
personagens não traria nenhum problema, porque, para eles, depois da morte não
há nada. Mas se há ressurreição, retomando a condição matrimonial, como se
resolverá tal situação?
10. Jesus primeiramente os censura por
não conhecerem bem as escrituras, pois reduzem Deus aos seus próprios
raciocínios, não reparando que Ele pode fazer muito mais do que imaginam.
11. Jesus deixa claro que não se trata
de retomar a vida terrena, como se pudéssemos reconstruir a família que tivemos
num cantinho do céu, como se nos agarrássemos ao pouco que conhecemos,
projetando-o para depois da morte. Assim imaginavam os saduceus.
12. Jesus fala de uma realidade nova,
que não pode ser pensada nem entendida com nossos raciocínios terrenos. Essa
fala nos assusta e nos leva a perguntar se não encontraremos os nossos entes
queridos. Sim, nós os encontraremos, mas em Deus, numa condição diferente que
não podemos descrever, pois não conhecemos plenamente o poder de Deus Criador.
13. Jesus fundamenta a sua fala, para
chegar aos saduceus citando um versículo do Êxodo. Quando Deus se apresenta a Moisés
na sarça-ardente, refere-se a três personagens já mortos. Jesus deixa claro que
todos vivem para Deus, pois foram criados por Ele, e viverão para Ele enquanto
recriados por Ele.
14. A ressurreição é uma nova criação,
é a intervenção do poder de Deus que recria o mesmo mundo com grande novidade.
Assim fechamos esse ciclo de reflexão em torno do mistério do viver, morrer e
ressuscitar.
Pe. João Bosco Vieira Leite