Assunção de Nossa Senhora


(Ap 11,19a; 12,1.3-6a.10ab; Sl 44; 1Cor 15,20-26; Lc 1,39-56)

1. Nossa reflexão tem como ponto de partida a 2ª parte do nosso evangelho. Depois que Isabel falou com entusiasmo de Maria, apreciando a obra de Deus nela e a atitude que ela adotou diante de Deus, chega a vez de Maria falar com alegria de Deus e do que Ele fez nela, de sua obra poderosa e de sua fidelidade a Israel.

2. Ela se sente possuída pela obra de Deus e entoa um canto de agradecimento e de louvor. Aqui está sua resposta ao anjo que na Anunciação a convidou a alegrar-se. Aqui se expressa tudo que há em seu coração. Ela está impressionada com a grandeza de Deus e de sua ação poderosa.

3. Deus é grande, e não tem necessidade de que o glorifiquemos, mas nós temos a necessidade de olhar Sua grandeza. Ele é grande em sua santidade, por seu poder, sua misericórdia, seu amor, bondade, ajuda e fidelidade. O canto de Maria, em seu conjunto recorda estes aspectos da grandeza divina.

4. Dela devemos aprender essa visão da grandeza divina. Ela fez a experiência desse Deus grande e Senhor como seu Salvador e que interviu particularmente na sua vida. Não O conhece só de maneira abstrata e genérica. Uma experiência que não a deixa fria e indiferente, mas plena de alegria e entusiasmo.

5. A alegria por Deus e o louvor a Deus deveriam ser elementos essenciais de nossa oração pessoal e de nossa liturgia comunitária.

6. Maria afirma sua pequenez, pois reconhece sua situação diante de Deus. O reconhece com sinceridade e, longe de vangloriar-se, se alegra pela misericórdia de Deus para com ela. Ele a olhou do alto com benevolência e com amor. Essa delicadeza de Deus constitui o motivo maior de sua alegria.

7. Com uma expressão atrevida, que se projeta sobre todos os tempos futuros, ela diz a Isabel que todas as gerações a chamarão de bem-aventurada. De fato, Isabel iniciou um reconhecimento que não terá fim. Reconhece que Deus se dirigiu a ela de um modo extraordinário. Quem a louva, assim reconhece.

8. Deus age assim porque Ele é santo, por excelência. Coisas e pessoas são chamadas de santas só em sentido derivado, enquanto pertencem à esfera divina. O Deus único, superior a tudo, sublime, verdadeiramente santo não é frio, sem coração, indiferente... Ele é também misericordioso e compassivo.

9. Tudo isso, diz Maria, vem sobre os que o temem, não no se sentido de ter medo de Deus; os que o temem são os que O veneram e O respeitam, que se reconhecem como criatura diante d’Ele, como Maria.

10. Na 2ª parte do cântico Maria fala dos que se comportam de modo diferente com Deus. O contrário desse temor é a soberba, o orgulho, a presunção, a segurança em si mesmo e a autossuficiência, coisas que refletimos nos domingos anteriores.

11. Mesmo que estas situações não tenham a aprovação de Deus, isto não quer dizer que Ele as inverta sempre e de modo imediato, nem está instigando a que nos proclamemos instrumentos de Deus para levar a cabo sua força de transformação.

12. Ela apenas nos lembra que a escala de valores e a distribuição dos papeis atualmente existente entre nós não é algo definitivo; Deus não confirma a situação terrena atual, mas sim as julga segundo seus critérios. Só os que o temem recebem Sua aprovação.

13. Ao fim ela olha para seu povo, onde Deus atuou de modo particular com seu poder e misericórdia. Jesus será o último e definitivo sucessor de Davi. Nele se cumpre também a promessa feita a Abraão. O que Deus fez por ela não afeta só a ela, mas a todo o povo de Deus.

14. Aqui rezamos com Maria e com ela aprendemos a rezar. Ela nos ajuda a abrir esse olhar sobre Deus, que é grande, poderoso e misericordioso, dirige seu olhar aos humildes e permanece absolutamente fiel à sua palavra. Ela quer nos ensinar a como colocar-nos diante d’Ele: ver e reconhecer sua grandeza e atuação, que nós o tememos, agradecemos e louvamos, confiando em sua fidelidade. Amém.

 Pe. João Bosco Vieira Leite