(1Tes 1,1-5.8-10; Sl 149; Mt 23,13-22)
21ª Semana do Tempo Comum.
“Ai de vós, mestres
da lei e fariseus hipócritas!...” Mt 23,13a.
“As invectivas de
Jesus contra os escribas e os fariseus foram usadas muitas vezes, durante a
história do cristianismo, como justificativa para atitudes antissemitas. Por
isso, recomenda-se certo cuidado na interpretação dessas palavras de Jesus. É
um capítulo que certamente ajudou a desenvolver uma imagem distorcida do
judaísmo e dos fariseus. Do ponto de vista histórico, explica-se o tom áspero
desse capítulo em vista da exclusão da comunidade cristã pelos escribas no
sínodo de Samnia, depois da destruição de Jerusalém. A essa altura, os fariseus
formavam o único grupo religioso sobrevivente no judaísmo, de modo que acabaram
imprimindo-lhe a sua marca. A comunidade de Mateus sofreu com a exclusão da
sinagoga. Jesus mesmo mantinha um bom relacionamento com os fariseus. Mas os
exegetas judaicos sublinham que a opinião divergente de Jesus se conservava
perfeitamente dentro dos parâmetros dos debates em torno da interpretação
correta da vontade de Deus. Não se tratava de uma ruptura com a tradição
judaica por parte de Jesus, ele apenas dava uma ênfase especial a determinadas
alternativas de interpretação. Uma boa parte das críticas dirigidas nesse
capítulo 23 a escribas isolados eram apresentadas de modo semelhante por
representantes do judaísmo. Historicamente, o judaísmo só conseguiu sobreviver
porque, depois da catástrofe de 70, os escribas e fariseus submeteram ‘toda a
vida a normas extremamente rígidas para assim tentar conservar as antigas
tradições’ (Schweizer, 291). Por outro lado, o jovem movimento de Jesus ‘que
tinha experimentado a presença do Espírito, o ressurgimento da ação profética e
a grande libertação para o amor’ (ibid., 291), viu-se forçado a distanciar-se
com a mesma radicalidade dessa nova interpretação defendida pelos fariseus” (Anselm Grun
– Jesus: mestre da salvação – Loyola).
Pe. João Bosco Vieira Leite