(Ecl 1,2; 2,21-23; Sl 89[90]; Cl 3,1-5.9-11; Lc 12,13-21)
1. Um sábio que viveu em Jerusalém,
duzentos anos antes de Cristo, observa as mudanças do seu tempo,
particularmente no que diz respeito as atividades econômicas. Há uma certa
agitação coletiva que envolve as pessoas numa certa ganância e desejo de acumular,
e se pergunta: para que tudo isso?
2. Suas conclusões podem parecer
desoladoras e amargas, mas na realidade quer que seus discípulos sejam
moderados em tudo que a vida oferece. Mas será Jesus, a sabedoria encarnada,
que nos levará a uma reflexão mais significativa, que vê nos bens acumulados ou
conquistados, a possibilidade de se fazer o bem.
3. Paulo nos convida a buscar as coisas
do alto, mas não tanto como uma alienação da vida presente, como poderia
sugerir o texto. Seu objetivo é levar a compreensão que pelo batismo já
participamos dessa vida em Cristo, mas essa vida passa por um processo
evolutivo, de crescimento.
4. O vir a ser cristão passa por um
processo de purificação, de identificação. Um processo lento, mas necessário.
Assim, Paulo está tentando encorajar a seguir adiante, mesmo reconhecendo nossa
limitada humanidade. Fomos feitos por Ele e para Ele, o destino final de todos.
5. Ecos da 1ª leitura aparecem no
evangelho de hoje, começando por esse problemático caso de herança que por
vezes assistimos ou vivemos em todos os tempos. Somos surpreendidos pela
atitude de Jesus que resolve não mediar a situação que se lhe apresenta.
6. Jesus deixa essa possibilidade de
lado para refletir sobre algo mais profundo: a causa de toda discórdia, ódio,
injustiças. Ele aponta a ganância como raiz do problema. Ela inverte todo o
plano do Criador, que não vê as coisas como dom de Deus, mas como propriedade,
que por sua vez vira algo precioso, quase um ídolo.
7. Como o autor da 1ª leitura, não há
por parte dele um desprezo pelos bens materiais. Para ilustrar seu pensamento,
Jesus conta uma parábola. A princípio vemos a coisa de modo normal para quem
plantou e colheu o fruto do seu trabalho. Deus parece um tanto cruel com ele.
Jesus carrega na tinta para chamar a atenção.
8. O que incomoda na narrativa é que
certamente ele não obteve esse resultado sozinho; nem a Deus ele faz
referência; um sujeito digno de compaixão a quem Jesus chama de louco; o que
significa a falta de equilíbrio, de orientação e do sentido da vida.
9. A censura ao agricultor certamente
não é ao seu esforço e resultado, mas a ideia centrada em si, que acumula sem
pensar nos outros, incompatível com a dinâmica do evangelho e com a dinâmica de
oração que nos foi ensinada no domingo anterior, desse ‘plural’ que preenche
também a nossa existência de sentido.
10. A censura de Jesus pode nos fazer
pensar que não tenhamos nada com isso, pois não pertencemos ao grupo dos
grandes empresários ou coisa parecida. A questão não está no muito ou no pouco,
mas num coração que se fecha sobre si mesmo, no egoísmo e no interesse pessoal.
Não é uma questão de quantidade, mas de qualidade.
Pe. João Bosco Vieira Leite