(Is 66,18-21; Sl 116[117]; Hb 12,5-7.11-13; Lc 13,22-30)
1. Israel cresceu na consciência de ser
um povo escolhido e isso repercutia nas relações com outros povos, tanto que
não se misturava com outras culturas numa espécie de santidade que os fazia
desconfiar dos outros.
2. Mas os acontecimentos da história se
encarregaram de demolir essa visão ou compreensão de si. O próprio exílio os
levou a uma reflexão de que eles não eram assim tão bons, pois mereceram ser
corrigidos por Deus e a consequente convivência com povos estrangeiros os
levaram a uma mudança de opinião sobre os outros.
3. Aos poucos vai desabrochando uma
consciência que a escolha de Israel por parte de Deus, não foi feita em
detrimento dos outros povos; que na realidade Ele ama a todos e é Deus sobre
todos. Assim o profeta vislumbra que nos tempos futuros, Deus reunirá a todos,
e de outros povos fará seus mensageiros.
4. Mesmo vivendo a fé numa Igreja que
abraça todas as culturas, não é impossível certa descriminação também entre nós
e a falta de visão que mesmo um não cristão pode ter algo a nos ensinar.
5. Na reflexão que acompanhamos com o
autor da Carta aos Hebreus, este se pergunta de certas aparentes contradições
do caminho da fé nas dificuldades que atravessamos e que às vezes não
encontramos em quem não faz o mesmo caminho que o nosso.
6. Partindo da experiência familiar,
ele diz que Deus nos vê como filhos cujo caráter é necessário corrigir e
aperfeiçoar. Para isso, pensa o autor, Deus se serve dos acontecimentos da
vida, particularmente os mais dolorosos, para fazer-nos crescer humana e espiritualmente.
7. O Jesus compassivo e compreensivo
que até então Lucas nos vem apresentando, nos surpreende com sua linguagem e
imagens no evangelho de hoje. Ele não fala tanto do fim dos tempos, pois não
busca responder a pergunta do seu interlocutor e sim chamar a atenção para uma
atitude no tempo presente, se quisermos ser seus discípulos.
8. A imagem da porta estreita nos
desafia a moldarmo-nos à sua estreiteza, renunciado em nós qualquer atitude de
grandeza, poder ou domínio que nos impeça de passar. E aqui cabe a imagem da
criança que Jesus coloca como modelo no meio dos seus discípulos.
9. Assim podemos entender que um dia
essa porta se fechará para aqueles que não procuraram se identificar com o
próprio Jesus. Conhece-lo não é suficiente. O verdadeiro cristão é mais que um
simples registro no livro de batismo paroquial.
10. Lucas dá uma chacoalhada nos seus
ouvintes, particularmente se nos julgamos melhores que outros pelo fato de
sermos cristãos, quando muitas vezes não permitimos que a Palavra nos questione,
nos mova ao encontro com Jesus no compromisso para com a vida na sua
totalidade, com seus altos e baixos.
Pe. João Bosco Vieira Leite