(2Cor 9,6-10; Sl 11[112]; Jo 12,24-26)
São Lourenço, diácono e mártir.
“Em verdade, em
verdade eu vos digo, se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só
um grão de trigo; mas, se morre, então produz muito fruto” Jo 12,24.
“O grão em si é pequeno.
Ele só dá fruto quando morre. Com estas palavras, Jesus explicita o efeito de
sua morte. Pela sua morte de cruz serão liberadas forças que transformarão o
mundo inteiro. É a força do amor que desabrocha com a sua morte, provocando uma
nova consciência espiritual no mundo. O amor que se torna visível na cruz lança
raízes na alma de muita gente (cf. SANFORD, 1997, p. 103, v. 2). [...] Com
essas palavras, Jesus descreve também o caminho de nossa hominização. Nós só
podemos ser nós mesmos se estivermos dispostos a morrer, a soltar-nos a nós
mesmos. A nossa vida só será fecunda se não nos agarrarmos a ela. Jesus declara
isso numa frase que aparece de forma semelhante também nos sinóticos: ‘Quem ama
a sua vida perde-a; e quem deixa de se apegar a ela neste mundo a guardará para
a vida eterna’ (12,25). João está falando da vida neste mundo, à qual não
devemos apegar-nos ou, como diz literalmente, que devemos odiar. A vida neste
mundo já vem marcada pela morte. É mais morte do que vida. Quem ama a vida
deste mundo ama, em última análise, a morte, apostando ‘desde já na carta
errada’ (BLAK, 1977-1981, p. 311). ‘Quem se preocupa neuroticamente com a
própria segurança (quem ama a vida) não consegue viver de verdade, porque virou
escravo de seu medo’ (LEONG, 2000, p. 105). [...] Só quando o eu morre, o ser
humano chega ao seu verdadeiro ser, a si mesmo. O eu não iluminado vê no mundo
aparente a verdadeira realidade. Esse eu precisa morrer, para que possamos
contemplar a glória de Deus. Precisamos abandonar essas voltas egocêntricas em
torno de nós mesmos, para que a nossa vida seja fecunda. Não é o sucesso
externo que conta. Muitas vezes ele nada mais é do que expressão de uma ‘alma
morta’. O que importa realmente é que demos fruto, que alguma coisa nova brote
dentro de nós. O fruto verdadeiro cresce no centro de nossa alma. O acesso a
esse centro é impedido pelo eu. É necessário depô-lo para poder entrar em
contato com a realidade produtiva de nossa alma” (Anselm Grun
– Jesus: Porta para a Vida – Vozes).
Pe. João Bosco Vieira Leite