(Dt 10,12-22; Sl 147[147B]; Mt 17,22-27)
19ª Semana do Tempo Comum.
“Quando chegaram a
Cafarnaum, os cobradores do imposto do templo aproximaram-se de Pedro e
perguntaram: ‘O vosso mestre não paga o imposto do templo?’” Mt 17,24.
“No episódio do
imposto do templo está em jogo um tributo puramente judaico. As autoridades
judaicas cobram o imposto do templo, uma didracma, para cobrir os custos de
manutenção do templo. Segunda a doutrina rabínica, o imposto do templo tem um
efeito expiatório. Seu pagamento exprime a atitude de quem leva a sério o templo
e a lei, esperando deles a salvação. Os cobradores do imposto do templo não se
dirigem diretamente a Jesus. Parece que não estão com coragem de discutir esse
assunto com ele. Por isso procuram Pedro que, outra vez, responde como
representante dos discípulos da comunidade cristã. Pedro diz que o mestre paga
o imposto do templo. Mas, depois, Jesus instrui com uma pergunta estranha:
‘Qual é o teu parecer, Simão? Os reis da terra, de quem recebem as taxas ou
impostos? Dos filhos ou dos estranhos?’ (7,25). A essa pergunta, Pedro só pode
responder: ‘Dos estranhos’. É lógico que os reis não cobram impostos dos seus
próprios filhos. Jesus tira desse fato conhecido por todos a seguinte
conclusão: ‘Então, os filhos estão isentos’ (17,26). Essa pequena frase exprime
claramente a visão que Jesus tem dos discípulos e das discípulas, e o que
Mateus, seguindo Jesus, entende ser a essência da existência e da comunidade
cristãs: os cristãos são filhos e filhas livres de Deus. Eles pertencem
diretamente a Deus. Por isso não precisam pagar impostos ao templo. Estão
livres do templo e da lei, livres de todo o sistema ritualístico e do
cumprimento de mandamentos mesquinhos. Assim, fica claro que Jesus vê na
liberdade a essência do ser humano. Este não deve ser escravo da observância de
ritos e mandamentos impostos. Mesmo que estes lhe ajudem a expressar a sua
relação com Deus, o ser humano não existe em função do templo ou da lei. Ele
foi criado por Deus. É filho e filha de Deus. E é isso que constitui a sua
essência e o torna livre. A Igreja não deu muita importância a essa liberdade
dos filhos de Deus, e por isso o episódio do imposto do templo nunca recebeu
muita atenção na história da interpretação dos evangelhos” (Anselm Grun
– Jesus: mestre da salvação – Loyola).
Pe. João Bosco Vieira Leite