18º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Ecl 1,2; 2,21-23; Sl 89[90]; Cl 3,1-5.9-11; Lc 12,13-21)

1. Em cada cultura e em cada tempo algumas figuras se destacam pelo modo de pensar e refletir sobre a vida como se andasse contracorrente. Assim é o autor da nossa 1ª leitura. Diante das mudanças que assiste em sua época, sociais e particularmente econômicas, a ponto de relegar as tradições religiosas, ele faz sua advertência.

2. Suas palavras soam num tom meio amargo: o homem corre tanto em seus desejos, mas para quê? Para onde? A felicidade depende disso? Ele não está aconselhando a não trabalhar, mas a um caminho de moderação que leve seu ouvinte a aproveitar tudo que a vida oferece. Sua reflexão é ainda um pouco rasteira. Ela nos prepara ao evangelho.

3. Enquanto isso Paulo nos aconselha a buscarmos as coisas do alto, onde está Cristo. Sem esquecermos que Paulo está falando do Batismo que, sem acepção de pessoas, nos insere numa vida nova. Sua proposta é na realidade uma mudança gradual de comportamento com relação ao que Cristo propõe como valor, como quem endossa uma nova veste. É preciso um pouco de tempo para nos acostumarmos a ela.

4. Para algumas famílias nada mais complicado e revelador que a divisão de uma herança. Alguém escolhe Jesus para mediar um caso do gênero, mas ele o surpreende com a sua resposta. Jesus não se limita a fazer algumas recomendações que já estão estabelecidas pela lei, nem está sendo indiferente ao sentido da justiça que deveria prevalecer.

5. Ele quer ir mais fundo na questão: a ganância, o desejo de acumular gera situações complicadas para si e para os outros. Não está aí a raiz de tantas injustiças e o que tem alimentado tanta corrupção nesse país? Não se trata de um desprezo pelos bens materiais, mas daquilo que nos cega, que nos impede de perceber a estupidez de certas escolhas e a real necessidade dos outros.

6. O personagem da parábola parece alguém dando voltas sobre si mesmo, sem estar preocupado em construir relações, apenas faz contas, como o empresário encontrado pelo Pequeno Príncipe: as estrelas são úteis para ele, mas ele não é útil para as estrelas. Certamente alguém digno de pena.

7. Deus entra na história como um personagem que foi negligenciado e parece ter uma “mão pesada” com relação ao agricultor. Talvez represente o fator surpresa, aquilo ou aquele sob o qual não temos controle. Provavelmente Jesus queira ensinar aos seus discípulos sobre aquilo que é incompatível com o seguimento: a cobiça, a ganância, o egoísmo, ou deixar-se conduzir apenas pelos interesses pessoais.

8. Diz uma canção: ‘A gente leva dessa vida a vida que a gente leva’. É sempre bom pensar sobre o ritmo e o sentido que estamos imprimindo à nossa existência.  

Pe. João Bosco Vieira Leite