16º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Gn 18,1-10a; Cl 1,24-28; Lc 10,38-42).

1. Esta cena do acolhimento de Jesus por parte de Marta e Maria, deu à nossa liturgia a possibilidade de refletir sobre o acolhimento, a hospitalidade que prestamos aos outros.  Às vezes podemos nos mover por algum interesse nesse campo, mas os textos recolhidos querem nos situar no campo da gratuidade e do quanto isso faz bem ao que o pratica.

2. O texto do Gênesis nos recorda um dia especial na vida de Abraão, quando foi visitado por três homens, no desenrolar do texto descobriremos que eram anjos com uma mensagem ao velho patriarca. Tal imagem foi interpretada por um pintor como a visita do próprio Deus, em seu mistério trino. Mas o que interessa a nós é perceber o quanto Abraão se desdobra para acolher aqueles estrangeiros.

3. Longe da nossa realidade cultural e dos tempos de insegurança e desconfiança em que vivemos, a liturgia quer saber como acolhemos os que nos buscam. Como são acolhidas as pessoas por nós a partir de nossa própria realidade? Em minha casa, no meu trabalho. Sob pequenos gestos de gentileza, Deus pode nos visitar, trazendo à nossa vida algo de positivo.

4. A carta de Paulo que estamos acompanhando foi escrita a partir da prisão, uma das tantas aflições experimentadas por ele por causa do evangelho. Ele vive essas experiências a partir da sua comunhão com os sofrimentos de Cristo, mas também consciente de que seu trabalho tornou Cristo presente entre eles, dando continuidade à sua obra evangelizadora.

5. Nossa comunidade é ainda jovem, mas pensemos em quantos, a exemplo de Paulo, se comprometeram com a causa do evangelho para tornar possível a comunhão com Cristo em nossas comunidades de fé?

6. Quando Jesus ia a Jerusalém ele nunca se hospedava na cidade mesma, mas ia para Betânia, um povoado próximo, onde os irmãos Lázaro, Marta e Maria lhe davam hospedagem. Certamente era um privilégio poder ouvir assim tão de perto o pregador itinerante; a mesa aparece nos evangelhos como um lugar de comunhão e de partilha não só de alimento, mas da vida.

7. Marta tenta demonstrar seu carinho por Jesus sendo solícita em alimentá-lo, enquanto Maria, despreocupada, está sentada aos pés de Jesus. A discussão se instala sobre quem faz o melhor. A atitude Maria é admirável para o seu tempo, pois nenhum mestre acolhia mulheres como discípula. Jesus rompe com esse parâmetro e Lucas deixa claro que mulheres o acompanhavam no discipulado.

8. Ele não estava inaugurando nenhum movimento feminista, apenas afirmando que homem e mulher estão constituídos da mesma dignidade diante de Deus, ainda que atribuamos a Ele a categoria masculina. Evoluímos um pouco nessa compreensão, mas questões culturais ainda se sobrepõe ao evangelho.

9. Jesus não está censurando Marta pelo seu cuidado para com Ele, mas pela agitação com que envolve seu ser sem permitir que a Palavra ilumine as suas prioridades. Jesus salienta mais uma vez a primazia que a Palavra deve ter em nossa vida. Para que as atividades de seus discípulos e discípulas no mundo ou na Igreja não seja um simples ‘bater de panelas’.

10. É preciso deixar-se guiar pela Palavra de Jesus. Há um tempo para parar e escutar e outro de se envolver e fazer acontecer. Um equilíbrio que às vezes nos escapa pelos dedos. Maria nada responde no texto para se defender e não sabemos do desfecho da cena, mas talvez possamos imaginar que ela depois tenha ajudado a sua irmã sem fazer disso um fardo, sem agitação, compreendendo melhor o sentido das coisas da vida. Compreender a necessidade de desenvolver a escuta da Palavra e saber o momento justo de agir quando as realidades que nos cercam pedem um pouco mais de nós.


Pe. João Bosco Vieira Leite